Os pensamentos desenvolvidos pelos reformadores merecem a atenção de todo estudioso da História da Teologia. As contribuições de Lutero, Zwinglio e Calvino são vívidas para a Igreja do século XXI. A ânsia desses homens em voltar à apostolicidade da Igreja Primitiva, bem como restaurar o cristocentrismo no verdadeiro culto são inegáveis realidades que perfaziam a natureza da Reforma.
Não é nosso objetivo esgotar os ensinos desses reformadores, mas introduzir as principais doutrinas que, depois de formuladas, mudaram a realidade da Igreja de Cristo. Ademais, buscaremos no presente artigo, compreender não apenas o pensamento teológico desses ícones do autêntico protestantismo, mas compreender o que os motivou historicamente a batalhar pela fé que uma vez nos foi dada.
A origem da Igreja
Numa reunião inusitada do Senhor Jesus nas regiões de Cesaréia de Filipe, Ele, como sempre, trouxe à tona mais um tema inesperado aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?”, começou logo o Mestre perguntando. Embora o evangelista Mateus relate uma resposta quase instantânea por parte dos discípulos, podemos conjecturar que, após tal pergunta eles olharam-se espantados e temerosos de responder erroneamente à questão do Mestre, até que o primeiro deles tomou a iniciativa e respondeu que as pessoas achavam que Ele era a reencarnação de João Batista.
Uma vez que a fila havia sido puxada, o segundo deles complementou dizendo que havia os que achavam ser Ele a reencarnação de Elias. De repente, outros nomes também foram lembrados: as pessoas sugeriam, ainda, a reencarnação de Jeremias ou de outros profetas (cf Mt 16.13,14).
A primeira parte dessa reunião estava finalizada. Jesus parte então, para a segunda etapa. Parafraseando a passagem de Mateus 16.15, seria como se Ele estivesse dizendo: “Tudo bem. As pessoas que não me acompanham, não conhecem minha identidade corretamente e se confundem em suas sugestões a meu respeito. Todavia, vocês que estão próximos de mim há um tempo considerável, quem vocês dizem que Eu Sou?”.
Poderíamos conjecturar mais uma vez que, nesse momento os discípulos ficaram atônitos, uma resposta errada seria um profundo vexame. Mas, Pedro, revelado pelo Pai, trouxe a resposta correta sobre a natureza e propósito do Verbo que se fez carne (muito embora ele ainda não tivesse compreendido esses significados): “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.16b).
Sequencialmente, Jesus aborda a futura instituição da Igreja, revelando-se como a pedra fundamental que os construtores rejeitariam (Sl 118.22; Mt 21.42; 1 Co 3.11). Esta ekklesia, seria edificada com outras pedras menores (Ef 2.20; 1 Pe 2.5), as quais dariam corpo ao Templo do Espírito Santo (1 Co 3.16,17).[1]
Sendo originada no dia de Pentecostes[2], a Igreja dava seus primeiros passos dirigida pelo Espírito Santo. No primeiro concílio de Nicéia (325 d.C.), os bispos adotaram quatro marcas distintas para definir a Igreja: una, santa, católica (universal) e apostólica. Essa declaração foi revista e aceita no primeiro concílio de Constantinopla (381 d.C.).
A Igreja Pós-nicena
Por volta do ano 500 d.C. a Igreja era invadida por ideais que eram totalmente contrários ao Evangelho, principalmente a concepção e o uso de poder que estavam em rigoroso contraste com a espécie de poder mostrado na vida e nos ensinamentos de Jesus. O cristianismo estava sendo seriamente afetado pela doença fatal do Império Romano. Desde então, os bispos tendiam a tornar-se magnatas não diferindo grandemente dos senhores seculares, exceto em seus títulos e em algumas de suas funções.
Não era difícil ouvir de bispos que eram glutões, beberrões e lascivos. Muitos acabaram sucumbindo. As últimas décadas do século IX foram anos de profundas trevas tanto para Igreja Católica quanto para a Europa Ocidental. No ano de 1095, a primeira cruzada foi promovida pelo papa Urbano II e ainda muitas outras (até o final do século XIII) seriam empreendidas com o apoio ou senão com a promoção de um pontífice romano.[3]
Não é surpresa e tampouco segredo que desde que a Igreja se ajuntou ao Estado no final do século IV, a decadência espiritual foi enormemente progressiva. O frade franciscano Guilherme de Ockham (1288-1347), além de filósofo, lógico e teólogo escolástico, denuncia em sua Opus Nonaginta Dierum que, os papas eram corruptos, hereges, impuros, sujos e dados ao pecado[4].
Alguns anos depois de Ockham, líderes da Igreja Católica Apostólica Romana reuniam-se para decretar a sentença do pre-reformador John Huss. No concílio de Constança (1.414-1.418), Huss fora condenado à fogueira e queimado vivo no dia 06 de Julho de 1.415. Além desse trágico episódio, John Wycliff, predecessor de Huss, fora declarado herético no dia 04 de Maio de 1.415, sob o decreto de ter seus restos mortais exumados e suas obras literárias queimadas.
A morte de Huss foi humilhante. Cortaram-lhe o cabelo e fizeram uma cruz em sua cabeça. Por último, puseram uma coroa de papel que estava decorada com três demônios e o enviaram para a fogueira. Antes de ser queimado ele teve de passar por uma pira onde queimavam seus livros. Mais uma vez pediram que se retratasse, mas Huss negou com veemência. Chegando ao lugar de execução, não lhe foi permitido falar ao povo, mas a oração que fez enquanto estava sendo amarrado ao poste chegou ao ouvido de todos, dizendo: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-Te que tenhas misericórdia dos meus inimigos”.
No último momento ainda tentaram induzi-lo a assinar uma retratação, porém, sem sucesso. Então Huss levantou sua voz e disse: “Tudo o que escrevi e assinei foi com o fim de livrar as almas do poder do demônio, e livrá-las da tirania do pecado; e sinto alegria em selar com o meu sangue o que escrevi e assinei”.
Depois de dizer isto, acenderam a fogueira, e envolto pelas chamas proclamou em alto e bom som as seguintes palavras: “Hoje vocês estão matando um ganso, mas daqui a cem anos Deus levantará um cisne, o qual vocês não poderão matá-lo”. Huss morreu cantando hinos a Deus.[5] Sua palavra profética se cumpriu em 31 de Outubro de 1.517, quando Martinho Lutero publicou suas 95 teses na porta da igreja no castelo de Wittenberg, protestando contra diversos pontos doutrinários do catolicismo.
O Surgimento dos Reformadores
É nesse ínterim – de uma crise radical da teologia medieval – que se inicia a Reforma Protestante. Martinho Lutero (1.483-1.546) é retratado pela historiografia católica como um monge louco e um psicótico demoníaco que tentava derrubar os pilares da Igreja Mãe. Em contrapartida, os protestantes o veem como um Sansão demolindo o templo dos filisteus ou até mesmo um quinto evangelista.[6]
A iniciativa de Lutero, inicialmente, ao afixar suas 95 teses na porta do castelo de Witenberg, não era de ir contra o papado romano, mas de ajuda-lo a rever os prejuízos que as indulgencias estavam causando. Além disso, o precursor da Reforma passava por momentos de intensos questionamentos. Ele não concebia a ideia de uma teologia helenizada. Antes, estas ideias deveriam ser alienadas da teologia, afinal, o que Jerusalém tinha a ver com Atenas, a igreja com a academia e a fé com a razão?[7] Sem falar nas indulgências, as quais ocuparam maior espaço em suas 95 teses.
Lutero passou a ser assolado por dúvidas concernentes à salvação. A “justiça de Deus” (cf Rm 1.17) aterrorizava sua alma e o levava a crer num Deus ontologicamente incorreto. Lutero orava, jejuava, fazia vigílias e boas obras, mas conduzido por uma motivação errada. O correto entendimento sobre a justificação levou-o a um novo patamar, que ele mesmo descreve como sendo seu novo nascimento.[8] Desde então, Lutero passou a ser uma dunamis (dinamite) nas mãos de Deus!
Ulrich Zwinglio (1.484-1.531), por sua vez, chocou-se com a forte cultura supersticiosa dos fieis e da pratica simoníaca do clero quando foi enviado para a abadia de Einsiedeln, na Suíça, como capelão. A adoração a Maria e aos santos, além da vida celibatária, também o incomodaram. Após ler a tradução do Novo Testamento feita por Erasmo, Zwinglio enxergou que somente a Bíblia possui a doutrina necessária para a salvação e viu a necessidade de deixar de lado os ensinamento humanos e “aprender a doutrina de Deus diretamente de Sua própria Palavra”.[9] Partindo desse pressuposto, Zwuinglio elaborou 67 artigos de fé.
Quando Lutero afixou as 95 teses na porta da igreja no castelo de Wittenberg, João Calvino (1.509-1.564) tinha oito anos de idade. Vendo dificuldade para que houvesse reforma em Paris, Calvino mudou-se para Basel, na Suíça. Lá, ele escreveu e publicou suas institutas no ano de 1536. Calvino contou ter passado pelo o que ele mesmo denominou de “súbita conversão”, dizendo que outrora estava “teimosamente preso às superstições do papado” e que não era possível desvencilhar-se desse profundo lamaçal, mas que Deus havia subjugado seu coração da obstinação de sua idade para a docilidade e conhecimento da verdadeira piedade, mediante Sua providência secreta.[10]
A teologia dos reformadores
Doravante, analisaremos de forma introdutória os pensamentos dos três reformadores já abordados. Para facilitar a organização e sistematização das doutrinas que serão comentadas, seguir-se-á uma exposição lógica de cada assunto. Para Hagenbach, um método de organização doutrinária eficiente é o sintético, o qual “começa do conceito mais elevado, Deus, continua com o homem, Cristo, a redenção e, por último, o fim de todas as coisas”.[11] No presente artigo, tal método será adaptado.
Escrituras
Para Lutero, a Bíblia, mesmo escrita por homens, era divinamente inspirada em cada frase e palavra. Ele a chamava de “livro do Espírito Santo” e “o veículo do Espírito Santo”.[12] Ela tinha o lugar de primazia. Era a norma determinadora e não norma determinada para todas as decisões de fé e da vida. Uma afirmação sem fundamento escriturístico era tida como mera opinião, não passível de crença.[13] Embora Lutero afirmasse o princípio Sola Scriptura, isso não queria dizer que ele desprezava ou inutilizava os credos e a tradição dos pais da igreja.[14] Ele apenas rejeitou uma doutrina de dupla fonte de autoridade, apenas as Escrituras possuíam tal lugar em sua teologia. Os escritos dos pais da igreja poderiam ser consultados, mas deveriam ser julgados pela Palavra de Deus. Se a interpretação deles estivesse baseada nas Escrituras, e se as Escrituras provassem que essa é a forma pela qual deveriam ser interpretadas, então a interpretação estaria certa. Se não fosse esse o caso, não deveria ter crédito.[15]
Zwinglio cria na total inspiração das Escrituras e chegou até mesmo a recorrer aos escritos de Agostinho para defender o principio sola sciptura.[16] A Bíblia, portanto, é a verdadeira e única fonte de autoridade. Sobre isso, ele disse que “haverá um dia em que nem Jerônimo e nem qualquer outro vai significar muito entre os cristãos, exceto as Escrituras somente”.[17]
As Escrituras foram grandemente exaltadas por Calvino. Para ele, a Palavra de Deus é como um par de lentes que “coletando-nos na mente conhecimento de Deus de outra sorte confuso, dissipada a escuridão, mostra-nos em diáfana clareza o Deus verdadeiro”.[18] É a escola do Espírito Santo, a Palavra inspirada de Deus, sem nada de origem humana misturada, embora revelada em linguagem humana.
Pecado
Para Lutero a imagem fiel de Deus sem pecado no homem antes da queda, designava-os (Adão e Eva) como seres puros e saudáveis, com os sentidos extremamente aguçados (podiam, por exemplo, enxergar através de uma parede ou ouvir a mais de 3 km de distância).[19] Para Lutero, portanto, o pecado era uma rebelião fervente, não meramente uma fraqueza passiva ou ausência do bem. O pecado é algo perverso, que vicia o ser e domina com uma energia incontrolável. Após a queda, o homem ficou dominado pelo pecado, sua vontade está curvada sobre si mesma, escravizada e manchada com o mal em todas as suas ações.[20] O pecado devastou a humanidade, a qual possui um livre-arbítrio nominal para a salvação, isto é, a vontade humana possui poder apenas para as coisas inferiores ou terrestres. O poder de decisão salvífica está corrompido pelo pecado e cativo por satanás. Em outras palavras, Lutero sustentava que, o que comete pecado é escravo deste (Jo 8.34). Lutero analisava o homem sob três aspectos: 1) “é criatura de Deus, constituído de carne e alma viva, feito desde o início como imagem fiel de Deus sem pecado, destinado a gerar descendentes, bem como dominar sobre todas as coisas e nunca morrer”; 2) essa criatura, “porém, após a queda de Adão, está sujeita ao poder do diabo, ou seja, do pecado e da morte – ambos os males que não podem ser superados por suas próprias forças e que são eternos” e 3) ela “pode ser libertada somente através do Filho de Deus Cristo Jesus (desde que creia nele) e presenteada com a vida eterna”.[21]
Para Zwinglio, a humanidade havia se afastado completamente de Deus, preferindo as criaturas em detrimento do Criador.[22] Ele criticava austeramente a idolatria aos santos.[23] Ele aceitava a doutrina da predestinação e sendo assim, concordava que o pecado era uma imperfeição que devastou a natureza humana, inclinando-a para a pecaminosidade e impedindo-a de escolher a Deus.
Para Calvino, o homem fora criado com um sentido da divindade intrínseco, mas sofreu duras perdas com a queda. A imagem de Deus no homem o torna inescusável diante de nossas idolatrias e rebeliões. Nossa natureza foi completamente afetada e vivemos em um estado de depravação total. Embora desfigurados da imagem e semelhança originais da criação, esse estado não completamente apagado da descendência de Adão. Todavia, suas virtudes e dons excelentes não valem de nada para obter a justificação. Assim como os dois reformadores acima, Calvino dizia que o livre-arbítrio do homem foi seriamente afetado e que em nossa condição decaída, “a razão natural nunca poderia (nos) guiar (...) a Cristo”.[24] O homem é mau, incapaz de figurar ao lado de piolhos, pulgas e pragas. É como um “vermezinho de cinco pés [de altura]”.[25] Ele definiu o pecado original como sendo a “hereditária depravação e corrupção de nossa natureza, difundida por todas as partes da alma, que, em primeiro lugar, [nos] faz condenáveis à ira de Deus [e] (...) produz em nós obras que a Escritura chama de ‘obras da carne’”.[26] Nem mesmo as crianças estão isentas de culpa, pois carregam dentro de si a “semente do pecado”. Calvino enxergava no pecado de Adão a perda da retidão original (privação) e a propensão poderosa de transbordar todo tipo de mal e delito (depravação).[27]
Salvação (Graça, Justificação, Santificação, predestinação)
Uma vez que o homem pende para o pecado e não possui habilidade para escolher a Deus e Sua salvação, somente uma ação sobrenatural pode desencadear a restauração do livre-arbítrio, gerando a fé salvífica. Lutero ilustra a ação da graça de Deus da seguinte forma: “a vontade [do homem] é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer (...) Se satanás o monta, ele quer ir e vai aonde satanás quer”.[28] Lutero cria, anteriormente, influenciado pela teologia agostininiana que, o homem era curado progressivamente do pecado mediante uma graça gradual. Todavia, após seu entendimento sobre a justificação pela fé, ele percebeu que nos apropriamos da graça de Deus e então, somos declarados justos. Em outras palavras, ele abandonou a visão de uma figura medicinal da graça para o entendimento forense de uma justificação imputada no crente. Embora nossos pecados não sejam realmente removidos, deixam de ser denunciados contra nós.[29] Os princípios protestantes sola fide e sola gratia representam a visão luterana de que, somente a fé – e não as obras – pode nos justificar diante de Deus e somente a graça liberta o homem do pecado gerando a fé salvadora. Lutero cria, ainda, na dupla predestinação e na expiação limitada de Cristo.[30]
Assim como Lutero, Zwinglio entendia a predestinação como uma defesa contra a justificação pelas obras. Sendo assim, ele concordava que o homem por si só, não conseguia escolher Deus, pois não é o ser humano quem elege Deus e sim é eleito ou reprovado por Ele.[31] Zwinglio defendia veementemente os princípios sola fide, sola gratia e solus Christus.
A salvação se dá por intermédio do ato soberano da bondade de Deus, que através de Cristo decidiu cobrir “a enorme distância entre nós em sua glória celestial”.[32] O estado do homem depois da queda é de inabilidade natural e não consegue escolher o Criador. Aliás, “inda que o homem houvesse permanecido livre de toda mancha, sua condição, entretanto, era abjeta demais para que se achegasse a Deus sem Mediador”.[33] Sendo assim, a fé não pode ser gerada pelo próprio homem, mas é gerada e selada em nosso coração mediante o Espírito Santo. A obra da salvação é puramente divina e de caráter monergista, isto é, o homem não corrobora para sua decisão em escolher a Deus. Antes, é o próprio Deus quem o escolhe (elege ou predestina), e realiza todo ato salvífico, regenerando-o, implantando a fé salvadora, justificando e santificando o homem.[34] O verdadeiro salvo não pode cair da graça, pois a apostasia só acontece com aqueles que não receberam a semente incorruptível do Espírito Santo, isto é, os eleitos para a perdição.
Deus (criação, providência)
Embora a doutrina de Deus devesse ser a primeira a ser abordada, ela foi deixada nessa sequencia para se ajustar ao pensamento dos reformadores. Eles, de forma feral, enxergavam a salvação como sendo parte da providência de Deus. Embora Lutero não tenha desenvolvido em sua teologia um pensamento tão delineado para a soberania de Deus quanto Calvino o fez, era certo que sua crença na predestinação o levava a essa posição. Para ele, questionar a dupla predestinação como sendo uma arbitrariedade divina era nada menos que liberar nossos pensamentos carnais, isentos de Deus, pois “se Deus assim o quer, e porque Ele o quer, isso não é perverso”.[35] Dizia ele para os que não aceitavam a soberania divina: “deixem Deus ser Deus”. Para Lutero, portanto, tanto a justificação quanto a predestinação faziam parte de seu conceito sola fide.[36] Entretanto, um assunto que suscita questionamento à posição luterana sobre a predestinação, é sua argumentação resignada de que, a mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”.[37] Esse comentário demandava maiores averiguações, pois retira a nossa certeza da salvação, bem como vai de encontro a 1 Tm 2.4.
Zwuinglio cria na criação do universo a partir do nada (ex nihilo). Ele afirmava a soberania divina na criação e na salvação, não aceitando em nenhuma hipótese a ideia de acaso. Para ele, o poder de Deus é sempre intencional e teleológico, mesmo que nas coisas mais minuciosas da vida, tal como a contagem dos cabelos de nossa cabeça.[38] Mesmo as coisas ruins que acontecem estavam sob o governo da providência de Deus. Assim, ele cria que “todo esse problema de predestinação, livre-arbítrio e mérito encontra-se na questão da providência”.[39] A providência é a mãe da predestinação e Deus transforma todas as coisas más dos eleitos em coisas boas. O mesmo, porém, não ocorre com os rejeitados.[40] Zwinglio, entretanto, tinha uma ideia um tanto assustadora. Ao mesmo tempo em que pregava a salvação em Cristo, ensinou um sistema contraditório. Alguns que nunca haviam ouvido o evangelho (pagãos piedosos) seriam eleitos por Deus, dentre eles haveria “Hércules (...), e Teseu. Sócrates, Aristides, Antígono, Numa, Camilo, os Catões e Cipiões”.[41] Mesmo que não seja pelas obras ou por uma revelação natural, mas por um decreto soberano divino, essa doutrina não está em harmonia com as Esrituras.
Calvino também cria na criação ex nihilo. Na criação Deus adaptou Seu poder às aptidões humanas, fazendo todas as coisas em seis dias. Em Sua providência, Ele criou os anjos “para consolo de nossa fraqueza, para que de modo algum careçamos de algo que valha, seja para elevar-nos o ânimo a boa esperança, seja para firma-lo em segurança”.[42] Nada existe ao acaso, nem mesmo os ímpios, os quais foram criados para o dia da perdição. Não apenas os grandes eventos estavam no controle soberano de Deus, mas até mesmo as coisas mais minuciosas, não caindo nem “uma gota de chuva a não ser pela explícita determinação de Deus”.[43] Até mesmo satanás e seus demônios poderiam ser usados por Deus para alcançar Seus desígnios, assim como foi usado em favor de Paulo, pois o Senhor “sabe, bem e convincentemente usar dos instrumentos maus para efetuar o bem”.[44] Embora ele sustentasse uma doutrina determinista, Calvino também ensinava que, devemos nos cuidar, usar os recursos medicinais e/ou outros meios para vivermos prudentemente, pois a providência de Deus não opera de modo a neutralizar ou tornar desnecessário o esforço humano. A providência divina possui aspectos misteriosos em certos casos. Explicar o sofrimento, a dor e as tragédias da vida aos olhares da justiça e sabedoria humana é como comparar, na visão de Calvino, maçã com laranjas.
Cristo
O princípio solus Christus explicita a teologia de Lutero. Uma vez que a eleição fazia parte do sistema providenciado por Deus em Cristo, somente o Cristo é o nosso salvador. Lutero rejeitava a ideia de que o Papa fosse o representante ou o vigário de Cristo na terra.[45] Cristo é o salvador dos pecadores e o Evangelho a boa nova de que Deus redimiu a humanidade decaída através da cruz de Cristo. As Escrituras sempre apontavam para Jesus: “Aquele que ler a Bíblia deve simplesmente prestar atenção para não errar, pois as Escrituras podem permitir que sejam estendidas e conduzidas, mas que ninguém as conduza de acordo com as suas próprias inclinações; antes, que essa pessoa as leve para a fonte, isto é, a cruz de Cristo”.[46] Não obstante, Lutero aceitava a cristologia do credo apostólico.
Zwinglio afirmou o principio solus Christus dizendo em seu terceiro artigo que, “Cristo é o único caminho para a salvação, para todos os que já existiram, existem e existirão”. Cristo era o verbo encarnado que nos redimiu da morte e nos reconciliou com Deus por Sua inocência, o único caminho para a salvação.[47] Sua cristologia admitia os conceitos dos quatro primeiros concílios gerais (Nicéia, 325; Constantinopla, 381; Éfeso, 431 e Calcedônia, 451), bem como dos credos apostólico, niceno e atanasiano. Sua visão de solus Christus repudiava qualquer honra a Maria. Em certa ocasião, Zwinglio inventou uma fala para ela chamando as pessoas que a adoram de “gente ignorante”, pois ela não possui honra alguma, senão Deus. Ela é tão somente uma testemunha de Cristo, mostrando que a salvação está somente nEle.[48] Zwinglio seja talvez o mais extenuador do princípio soli Deo gloria.
Calvino declarou que Cristo é “a eterna Palavra de Deus, gerada do Pai antes de todas as eras”.[49] Jesus é verdadeiramente Deus porque venceu a morte, o pecado e as potestades do mundo do ar. [50] Sobre a dupla natureza de Cristo, o Calvino disse que “deve ser de nós enxotado o erro de Nestório, que, em querendo antes separar que distinguir as [duas] naturezas, engendrava assim um duplo Cristo”.[51] Calvino exaltou Cristo como mediador. A maior providência de Deus para o homem se deu na obra de Cristo na cruz, pois “quando o Filho de Deus vestiu nossa carne, também concordou voluntariamente em vestir as emoções humanas (...) Nisso, provou ser nosso irmão, para que pudéssemos saber que temos um Mediador que de boa vontade perdoa e está pronto para socorrer as enfermidades que experimentou em si mesmo”.[52] Verdadeiramente temos um Sumo Sacerdote que se compadece de nós!
Espírito Santo (Trindade)
Martin Bucer (1.491-1.551), outro reformador francês, levou o princípio sola scriptura tão a sério que queria negar o termo Trindade em função do mesmo não estar presente na Bíblia. Embora Lutero não gostasse do termo niceno e calcedônio usado para a defesa da natureza divina de Cristo (homoousious), ele exortou Bucer que a expressão Trindade deveria ser adotada.[53] Além disso, Lutero também aceitava a formulação do credo apostólico.
O Espírito Santo é o agente revelador das Sagradas Escrituras, é Ele quem ilumina a mente do leitor. Na visão de Zwinglio, a interpretação da Bíblia não requer opinião humana. Uma vez que ele aceitava os quatro primeiros concílios gerais, bem como os credos apostólico, niceno e atanasiano, sua opinião sobre o Espírito Santo não divergia da ortodoxia clássica.
Para Calvino, o Espírito Santo é quem nos ensina, revela e confirma a Palavra de Deus através de Sua iluminação. Foi Ele quem inspirou os profetas e os Apóstolos.[54] Nem Lutero e nem Zwinglio deram muita atenção à doutrina da Trindade, mas aceitaram as formulações ortodoxas, conforme já abordamos. Calvino, por sua vez, aprimorou bastante esse tema. Ele afirmou: “quando professamos crer em um só e único Deus, pelo termo Deus entende-se uma única essência e simples, em que compreendemos três pessoas ou hipóstases”.[55] Calvino fazia questão de discernir as pessoas da Trindade, a fim de evitar uma posição unicista: “nem o Filho é o Pai, ou o Espírito o Filho; ao contrário, que são distintos por determinada propriedade”.[56] Uma das provas irrefutáveis sobre a Trindade se dá, na fórmula batismal. Na visão de Calvino, nem os arianos e nem os sabelianos poderiam contra-argumentar tal base escriturística.[57]
Igreja (Sacramentos)
Lutero enxergava a natureza espiritual da Igreja, bem como seu caráter não institucional. Para ele, a Igreja é o povo de Deus, um corpo de cristãos, santos e ovelhas.[58] Ele aceitava a formulação do credo apostólico: comunhão dos santos. Aceitava, como Agostinho, Wycliffe e Huss a ideia de que a Igreja invisível é a reunião de todo o grupo dos predestinados. Não é uma assembleia física, mas “uma assembleia de corações em uma única fé”.[59] Apesar da profunda apostasia em que a Igreja Católica se encontrava, Lutero cria que a verdadeira Igreja nunca havia deixado de existir, mesmo que em alguns momentos tivesse um número bem escasso (dois, três, ou as crianças).[60] Outro ponto importante da teologia luterana se dá a respeito da administração dos sacramentos. Ele não acreditava que o simples fato de participar da eucaristia concedia graça, conforme apontava a teologia romana. Lutero sustentava que, era necessário crer e se apropriar pessoalmente de tal graça. Não obstante, ele defendia que a fé, mesmo à parte dos sacramentos era suficiente para a salvação. Ele enxergava a necessidade do batismo, mas este era um sinal externo de uma graça interna.[61] Lutero aceitava o pedobatismo, entretanto, repudiava a ideia de que a criança não batizada iria para o limbo. Sua maior contribuição à eclesiologia foi a doutrina do sacerdócio universal dos crentes: “somos sacerdotes como ele é Sacerdote, filhos como ele é Filho, reis como ele é Rei”.[62] Finalizando a visão de Lutero sobre a doutrina da Igreja, ele rejeitou a ideia católica de que a Presença de Cristo estava presente “nos” elementos da eucaristia e postulou que estava “com, dentro dos e abaixo dos” elementos. Ao invés de Transubstanciação, Lutero empregou a Consubstanciação. Sua posição foi motivo de desgastante embate com Zwinglio, conforme veremos abaixo.
Zwuinglio disse em seu oitavo artigo que, “todos os que permanecem no cabeça são membros e filhos de Deus, e tal é a igreja ou a comunhão dos santos, a noiva de Cristo, Ekklesia catholica”. Ele aceitava apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Quanto ao primeiro, Zwinglio rejeitou a ideia de que este livrava o homem do pecado original. A princípio, ele também rejeitou o pedobatismo, embora anos mais tarde tenha revisado suas bases bíblicas e adotado o batismo de crianças. Apesar de aceita-lo, Zwinglio não cria que uma criança não batizada iria para o limbo, antes, todas as crianças que morressem na primeira infância (sendo filhos de pais cristãos) estavam salvas, pois a aliança da graça estendia-se tanto a eles quanto a seu pais.[63] Conforme comentamos, Lutero havia mantido a posição relista em torno da eucaristia assumindo, porém, ao invés da transubstanciação a consubstanciação. Zwinglio, por sua vez, negava a Presença física de Cristo nos elementos e ensinava a presença espiritual para os da fé. Ele cria que o ritual da eucaristia era um memorial que comemora a eficácia para o crente na morte de Cristo, o que lhe rendeu grandes desavenças com Lutero. Ele comparava a ideia de memorial com a festa anual dos “Dez Mil Cavaleiros”. Assim como as pessoas celebravam algum feito que ocorreu naquela mesma data, a eucaristia nos relembrava o ato sacrificial e expiatório de Cristo na cruz.[64]
Para Calvino, a igreja é a mãe de todos os cristãos, a escola de Deus, o reformatório divino, a coluna e baluarte da verdade. Ele enxergava grande importância na participação do cristão em uma comunidade visível, pois nesta vida, o local de santificação é a congregação, onde os eleitos participam dos benefícios de Cristo.[65] A igreja visível é um corpo misturado, no qual joio e trigo crescem no mesmo campo. Já a igreja invisível é constituída pelos anjos eleitos, homens piedosos do Antigo Testamento e várias almas predestinadas que se encontram fora do “pomar murado do Senhor“. Calvino enxergava o batismo como uma confirmação externa da fé dos eleitos. Sua visão sobre a eucaristia buscou uma posição intermediária às de Lutero e Zwinglio. o sacramento não está vinculado meramente à obra passada do Redentor, mas também à presente obra espiritual de Cristo, que agora vive na glória. Calvino cria que Cristo, “embora não corporal nem localmente presente na Ceia, está, contudo, presente, e é desfrutado em Sua pessoa completa, corpo e sangue”[66]
Missão da Igreja (pregação)
Os reformadores não postularam uma doutrina missiológica como vemos em nossos dias. Entretanto, a restauração da pregação bíblica e expositiva perfazia o meio missionário de suas épocas. Lutero disse que “é a maneira do Novo Testamento e do Evangelho que este seja pregado e realizado pela palavra da boca e da viva voz. O próprio Cristo não escreveu nada, nem ordenou que nada fosse escrito, mas sim que se pregasse a palavra falada”.[67] Para ele, “ a Palavra de Deus deve permanecer livre, para ser ouvida por todos”.[68]
Assim como Lutero, Zwinglio insistia na pregação do Evangelho e instou que isso fosse feito no idioma de cada povo. Deixar de fazer isso é pecado, pois a Palavra de Deus é Palavra de vida[69]. Sendo assim, o Espírito Santo é quem agia no convencimento do pecado no homem restaurando-lhe o livre-arbítrio.
Calvino não permitia que a doutrina da predestinação fosse usada como pretexto para deixar de pregar o Evangelho a todos, afinal, não sabemos quem são os eleitos, senão apenas Deus. Sendo assim, o Evangelho deveria ser proclamado indiscriminadamente sob a confiança da atuação do Espírito Santo no convencimento do pecador e condução a Cristo.[70]
Considerações finais
Lutero revelou-se um cisne notável. Sua ousadia e mente iluminada pelo Espírito Santo desencadearam um movimento sem precedentes. É impossível ler a história de como a Reforma se desenrolou sem crer num Deus que tudo governa e que está atuante em cada ato de providência soberana. Zwinglio foi também outra pessoa importantíssima nessa história. Sua coragem e perspicácia somaram grandes contribuições para as doutrinas protestantes. Calvino foi uma figura proeminente. Seu brilhantismo certamente não provinha de si mesmo, mas da capacitação do Espírito Santo.
Em suma, as doutrinas protestantes podem ser resumidas nos 5 solas. Independentemente do sistema teológico adotado (calvinista / arminiano), é de comum acordo que, somente pela graça é que o homem pode ser salvo, pois sozinho não possui condições de escolher a Deus, afinal, sua natureza está corrompida pela pior das enfermidades, o pecado. Esta graça produz a verdadeira fé que nos justifica, pois nossas obras são insuficientes para satisfazer a Deus. Não há um justo sequer. Somente Cristo serve como nosso mediador, isto é, aquele que em sua dupla natureza se identifica conosco em nossas fraquezas, embora sem pecado, e que aplaca a ira de Deus sendo a perfeita propiciação pelos nossos pecados. Somente a Escritura nos aponta para o Cristo e por isso deve ser pregada a tempo e fora de tempo. Ela é o nosso manual de fé e prática. Somente Deus é digno de toda glória. Houve na história da Igreja pessoas piedosas, que marcaram suas gerações e que trouxeram contribuições imensuráveis para o cristianismo. Todavia, nenhuma delas é digna de ser exaltada. Glória a Ele, pois, eternamente!
Notas
[1] HORTON, Stanley M. (Ed). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996, pp. 546-548.
[2] Ibid, pp. 538-539.
[3] LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Volume I. Hagnos, 2006, pp. 361-419.
[4] OCKHAM, Willian de. Opera Politica (1963), II, p. 854.
[5] GONZÁLES , Justo L.. Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires até A Era dos Sonhos Frustrados. Vida Nova, 2011, p. 498.
[6] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. Vida Nova, 1993, p. 55.
[8] LUTERO, MARTIN. Kritische Gesamtausgabe. Volume 58. Böhlau, 1833-, p.179-187.
[10] CALVINO, João. Comentário de Salmos. Volume I. Fiel, 2009, p. 32.
[11] Hagenbach apud WILEY, Orton. Introdução à Teologia Sistemática. Casa Nazarena de Publicações, 2009, p. 35.
[12] GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 83.
[13] LUTERO, MARTIN. Op. Cit.. Volume 6, p. 509.
[14] Ibid, Volume 26, p. 147.
[15] Ibid, Volume 14, p. 31.
[16] JACKSON, Samuel M. (Ed.). The Latin Works of Huldreich Zwingli. Volume 1, Knickerbocker Press, 1912, p. 264-265.
[17] FURCHA, E. J.; PIPKIN, H. W (Eds.). Huldrych Zwingli: Writings, 1, p. 116.
[18] CALVINO, João. Institutas. I, VI, 1.
[20] RUPP, Gordon E.; WATSON, Philip S. (Ed.). Luther and Erasmus: Free will and salvation. Westminster Press, 1969, pp. 220, 252.
[21] LUTERO, MARTIN. Op. Cit.. Volume 39, pp. 174-180. Para maiores detalhes sobre a visão de Lutero acerca da doutrina do homem conferir BAYER, Oswald. A teologia de Martim Lutero. Sinodal, 2007, pp. 111-124.
[22] FURCHA, E. J.; PIPKIN, H. W (Eds.). Op. Cit., 8, pp. 207-208.
[23] Ibid, 1, p. 172.
[24] HAROUTUNIAN, Joseph (Ed.). Calvin: Commentaries. SCM Press, 1958, p. 132.
[25] CALVINO, João. Op. Cit., I, V, 4.
[26] Ibid, II, I, 8.
[27] GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 214.
[28] RUPP, Gordon E.; WATSON, Philip S. (Ed.). Op. cit.. p. 140.
[29] LUTERO, MARTIN. Op. Cit.. Volume 56, p. 275, 441.
[30] GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 78.
[31] JACKSON, Samuel M. (Ed.). Op. cit., Volume 3, p. 70.
[32] HAROUTUNIAN, Joseph (Ed.). Op. cit., p. 131.
[33] CALVINO, João. Op. Cit., II, XII, 1.
[34] Ibid, III, II, 7,8,26; III, I, 4; III, III, 5,21.
[35] LUTERO apud GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 78.
[36] RUPP, Gordon E.; WATSON, Philip S. (Ed.). Op. cit., p. 331-332.
[37] LUTERO apud GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 79.
[38] FURCHA, E. J.; PIPKIN, H. W (Eds.). Op. Cit., 1 ,p. 145.
[39] JACKSON, Samuel M. (Ed.). Op. cit., Volume 3, p. 70.
[40] Ibid, Volume 2, p. 271.
[42] CALVINO, João. Op. Cit., I, XIV, 2, 11.
[43] Ibid, I, XVI, 5.
[44] Ibid, I, XVII, 5.
[46] LUTERO apud GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 84.
[47] JACKSON, Samuel M. (Ed.). Op. cit., Volume 2, p. 201.
[48] FURCHA, E. J.; PIPKIN, H. W (Eds.). Op. Cit., 1 ,p. 156-157.
[50] CALVINO, João. Op. Cit., II, XII, 2.
[51] Ibid, II, XIV, 4.
[52] CALVINO apud GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 210-211.
[55] Ibid, I, XIII, 20.
[56] Ibid, I, XIII, 5.
[57] GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 200.
[58] TAPPERT, T. G. (Ed.). The Book of Concord. Fortress Press, 1949, p. 315.
[59] LUTERO, MARTIN. Op. Cit.. Volume 6, p. 293.
[60] Ibid, Volume 50, p. 627.
[61] Ibid, Volume 10, p. 142.
[62] Ibid, Volume 12, p. 179.
[63] GEORGE, Timothy. Op. Cit.. p, 138-140.
[64] Ibid, p. 157.
[67] LUTERO, MARTIN. Op. Cit.. Volume 10, p. 48.
[68] Ibid, Volume 6, p. 75.
[69] JACKSON, Samuel M. (Ed.). Op. cit., Volume 3, p. 1.
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