segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Martírio de um Ganso

Filipenses 1:21 – “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro

Numa época em que frases bíblicas têm virado jargões, muitos crentes nem sequer prestam atenção no que realmente quer dizer um versículo que é citado automaticamente. O contexto, quem escreveu, para quem escreveu, conteúdo histórico, cultural, exegese e outros elementos hermenêuticos parecem “chatice” teológica, mas essas ferramentas de análise são apenas formas de nos auxiliar a interpretar a Bíblia de forma inequívoca. Além disso, é imprescindível que o leitor saiba a língua materna. Ele não precisa ter licenciatura em Letras e nem mesmo ser um expert em gramática, mas precisa ter o mínimo de noção de interpretação de textos. Mas e o Espírito Santo? Perguntariam alguns. Claro que Ele é a principal pessoa na revelação e no entendimento bíblico, mas isso não exime a nossa responsabilidade de interpretar coerentemente o Livro Sagrado.

Para que entendamos melhor o que quero dizer, assisti a um vídeo no you tube que é ao mesmo tempo hilário e desgostoso. Em uma matéria do Fantástico, um repórter entrevistou um suposto “pastor” (falo assim não ironizando o homem, mas é porque não sabemos qual é a sua denominação, quem o consagrou, qual a sua convenção, enfim, não há informações sobre seu ministério). O tal líder eclesiástico, casado, havia dormido com algumas de suas fiéis, também casadas, baseado em um versículo da Bíblia. Ele interpretou erroneamente Oséias 3.1: “Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles se desviem para outros deuses, e amem passas de uvas”. Onde se lê adúltera, ele não percebeu o acento agudo e leu adultera, como se fosse um verbo conjugado no modo imperativo. Baseado nessa interpretação ele obedeceu à ordem de adultério e cometeu tal prática com algumas freqüentadoras de sua igreja.

Mas e quem não sabe ler? Alguém perguntaria. Deus não se esqueceu deles e declarou através do Apóstolo Paulo que “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Assim sendo, frases do tipo, “mais que vencedor”, “posso todas as coisas naquele que me fortalece”, “cabeça e não cauda” e até o versículo base deste artigo “morrer é lucro” viraram jargões sem a devida compreensão no arraial evangélico. É melhor conhecer a história de John Huss e assim poderemos entender porque viver é Cristo e morrer é lucro.

John Huss foi um teólogo reformador nascido no ano de 1373, em Hussinec, na Boêmia, atualmente a Tchecoslováquia. Filho de pais aldeões, sua família era humilde e vivia basicamente da agricultura. Apesar das dificuldades Huss recebeu uma educação memorável chegando a cursar na Universidade de Praga onde terminou seu curso de Teologia e Humanidades no ano de 1396. Dois anos depois começou a ensinar na Universidade, e finalmente chegou a ser o Reitor. Seus seguidores foram chamados de hussitas e suas doutrinas foram base da Reforma protestante na Europa central.

Ele aderiu às idéias do reformista inglês John Wycliffe, tornando-se um reformista severo e decidido. Nomeado reitor e pregador da capela de Belém em Praga (1402), seus sermões atacavam os abusos eclesiásticos, como defendia o nacionalismo boêmio e alcançou grande popularidade. Após ser nomeado Reitor da Universidade de Praga, recusou-se a aceitar a condenação papal da doutrina de Wycliffe e a defender-se em Roma das acusações que lhe eram impostas, o que o obrigou a fugir para o sul da Boêmia. Ali escreveu a obra “De ecclesia” (1412), em que radicaliza as críticas ao antipapa João XXIII. Com um salvo-conduto do imperador Sigismundo apresentou-se ao Concílio de Constança (1414) e defendeu firmemente suas idéias. Porém seus argumentos foram condenados e como ele negou-se terminantemente a retratar-se, foi encarcerado, declarado herege e condenado à morte na fogueira, executado em Constança, em 6 de julho (1415).

Depois de acusações de heresia contra Huss, cortaram-lhe o cabelo e fizeram uma cruz em sua cabeça. Por último, puseram uma coroa de papel que estava decorada com três demônios e o enviaram para a fogueira. Antes de ser queimado ele teve de passar por uma pira onde queimavam seus livros. Mais uma vez pediram que se retratasse, mas Huss negou com veemência. Chegando ao lugar de execução, não lhe foi permitido falar ao povo, mas a oração que fez enquanto estava sendo amarrado ao poste chegou ao ouvido de todos, dizendo: “Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-Te que tenhas misericórdia dos meus inimigos”.

No último momento ainda tentaram induzi-lo a assinar uma retratação, porém sem sucesso. Então Huss levantou sua voz e disse: “Tudo o que escrevi e assinei foi com o fim de livrar as almas do poder do demônio, e livrá-las da tirania do pecado; e sinto alegria em selar com o meu sangue o que escrevi e assinei”. Depois de dizer isto, acenderam a fogueira, e envolto pelas chamas proclamou em alto e bom som as seguintes palavras: “Hoje vocês estão matando um ganso, mas daqui a cem anos Deus levantará um cisne, o qual vocês não poderão matá-lo”. Huss morreu cantando hinos a Deus. Sua palavra profética se cumpriu em 31 de Outubro de 1517, quando Martinho Lutero publicou suas 95 teses na porta da igreja no castelo de Wittenberg, protestando contra diversos pontos doutrinários do catolicismo. Enquanto o ganso foi martirizado, Deus suscitou um cisne e proporcionou o livre acesso dos cristãos à Bíblia.

Ele literalmente entregou sua vida à Obra de Deus. Não temeu a fogueira, as torturas e nem o que deixaria para trás. Para ele, a verdadeira vida era Cristo e assim renunciou-se a si mesmo pelo Mestre. Morrer foi lucro e não um mero jargão ou uma frase de efeito usada em um sermão. Que possamos a cada dia valorizar o período de liberdade que vivemos. Temos livre acesso à Bíblia e liberdade para anunciar as Boas-Novas. Que possamos a cada dia mortificar nossa carne, tomar nossa cruz e seguir a Jesus!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

03 coisas que mudaram a vida de uma pecadora

João 4.28-30“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo? Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele.”

Já ouvi muitas pessoas dizerem ter vontade de ir a África, Índia, China e outros países para fazerem missões. Por um tempo as notícias da janela 10/40 quase que viraram modismo entre os evangélicos. Não que devamos desprezar essas nações, sabemos da importância de pregar a Palavra de Deus e da missão que nos foi confiada por Cristo Jesus, nosso Senhor. Todavia, muitas das pessoas que dizem ter sede missionária acabam apenas fantasiando o que se entende por “missões” e esquecem de que elas começam por onde moramos. Esses mesmos que fantasiam continentes longínquos não pregam o Evangelho nem sequer para os vizinhos que moram ao lado. Por um bom tempo a ênfase de oração e obra missionária foi dada apenas aos países da janela 10/40 e as pessoas se esqueciam de pregar e orar pelas almas de onde vivem. Fica nessa introdução o alerta para que sejamos verdadeiros missionários, testemunhas de Cristo em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Parafraseando o Mestre, “sereis minhas testemunhas na sua cidade, no seu estado, na sua nação até as demais nações da Terra” (At 1.8b). Com o intuito de reforçar nossa tarefa evangelística, abordarei o exemplo de Cristo quando levou as Boas-Novas a uma mulher desprezada e esquecida pela sociedade. Três coisas mudaram a vida da mulher samaritana e embora as pessoas enxergassem uma “roubadora” de maridos, o Mestre enxergou uma missionária.

1.       Dá-me de beber (v. 7)

Essa foi a forma que Jesus abordou a mulher samaritana. Algo que precisamos aprender no que se diz respeito a evangelismo é sobre a abordagem para com as pessoas. Muitos acabam sendo inconvenientes e perdem a oportunidade de levar a Boa Notícia ao ouvinte. Certa vez em que visitava uma festividade de outra denominação, um rapaz estava do lado de fora da igreja olhando o desenrolar do culto e era possível notar em seus olhos o desejo de adentrar ao templo. Quando percebi isso, desloquei-me até ele e o convidei para ficar do meu lado. Ele se alegrou, mas disse que não podia demorar pois sua esposa não acreditaria que ele estava na igreja. Propus então, ir com ele até sua casa, a fim de esperá-lo tomar banho e de mostrar para sua esposa que ele estava acompanhado de alguém que o conduziria ao culto. Ele se agradou da proposta e fomos juntos a sua casa que distava alguns metros da congregação. Neste tempo, outro irmão ouvindo a conversa quis acompanhar-nos e sem contestação, seguiu o mesmo trajeto. Quando lá chegamos, a senhora, esposa do convidado, surpreendeu-se com nossa visita, mas no final de tudo pediu-nos oração em favor de sua família. Acenei a cabeça positivamente e começamos a orar. Eu dizia, “Senhor, abençoe este lar. Traga a tua paz sobre essa família, sobre os filhos...” e de repente, fomos todos surpreendidos por uma oração que competia com o volume do mais alto baile funk. O rapaz que nos acompanhava expulsava todo espírito de macumbaria, de feitiçaria, amaldiçoava as imagens e anatematizava a idolatria naquela casa.

Obviamente o convidado e sua esposa esbugalharam os olhos e se escandalizaram com tais palavras. Eu tentava aumentar minha voz, mas não tinha sucesso algum (e olha que falo muito alto, hein!?). A solução foi dizer “em Nome de Jesus, Amém”. Assim, finalizamos a visita e seguimos rumo ao culto. O que quero mostrar nesse caso é a importância de termos sabedoria ao abordar alguém, até porque “o que ganha almas, sábio é” (Pv 11.30b). Repare que o primeiro ponto foi a sabedoria de Cristo para puxar conversa com aquela mulher que desencadeou a atenção dela. Havia um grande preconceito, uma imensa barreira social entre os judeus e os samaritanos. Samaria, outrora, fora capital de Israel. Foi palco de grandes acontecimentos proféticos durante o ministério de Elias e Eliseu, mas após o cativeiro assírio, eles se contaminaram com a cultura pagã e idólatra deste povo, havendo um sincretismo religioso. Acostumada com tal barreira e com a indiferença dos judeus, ela questiona a Jesus: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?” (v. 9). O Messias quebrou aqui a barreira do preconceito ao se dirigir àquela mulher pedindo-lhe um pouco de água, conseguindo assim, sua atenção. Para nossa aplicação fica o dever de não reter o Evangelho de bêbados, drogados, homossexuais ou qualquer outra pessoa que a sociedade discrimina. Somos o sal desta terra e luz do mundo, devemos ser diferentes e deixar a marca de Cristo alcançar as pessoas que nos cercam, afinal, se o sal perder o gosto para que serve, senão ser lançado ao chão e ser pisoteado pelos homens (Mt 5.13)?

Para finalizar este tópico, gostaria de contar em poucas palavras uma experiência que tivemos num evangelismo em um povoado que reside próximo de nossa cidade. Sempre ouvi dos irmãos que as pessoas desse local são fechados para o Evangelho e pude constatar que é verdade. São pessoas de dura cerviz e parece que a mensagem é como uma marreta que bate em uma rocha, mas isso não pode nos desanimar, pois a própria Palavra de Deus é um martelo que esmiúça a pedra (Jr 23.29b). Assim sendo, pela insistência é que colheremos os frutos dessa obra. Em breve compartilharei aqui neste blog alguém que entregou sua vida a Cristo neste povoado. Há algumas semanas estivemos lá e ousamos fazer algo diferente. Entramos em um bar que estava com aproximadamente umas 20 pessoas, todas elas bebendo. Pedimos a atenção delas por alguns minutos e falamos-lhes do amor de Deus. Deixamos alguns folhetos ali e em seguida alguns deles se emocionaram. O último lugar em que eles imaginavam que entraríamos era lá e isso quebrou as barreiras do preconceito, permitindo-nos levar a Boa Nova. Precisamos, como Cristo, quebrar os impedimentos e com sabedoria atrair a atenção dos ouvintes para Palavra de Deus.

2.       Vai, chama o teu marido e vem cá (v. 16)

Depois de atrair a atenção da mulher samaritana e de conversarem alguns minutos, o Mestre então parte para a segunda etapa de um evangelismo eficaz: confronta a mulher de uma forma sábia sobre o seu pecado. Ele a pediu para que ela chamasse o marido e confirmou a palavra da mulher que nem os 5 homens com quem já convivera e o que estava atualmente eram maridos. A reação da mulher foi reconhecer que não era um homem qualquer que lhe falava, mas talvez um profeta. Além de atrairmos a atenção das pessoas, precisamos da autoridade divina para que a mensagem chegue onde não conseguimos chegar. O autor da epístola aos hebreus declara que a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que o gládio romano, uma pequena espada de dois gumes. Esta Palavra penetrante vai no íntimo das pessoas, num lugar onde eu e você não conseguimos chegar naturalmente (cf. Hb 4.12). Não temos a capacidade de conhecer o interior das pessoas e não precisamos tentar adivinhar a vida de ninguém. A mensagem quando entregue e proclamada pelo Espírito de Deus, alcança o perdido e faz com que esta pessoa mude de vida. Assim como Cristo, temos o desafio de levar uma mensagem pura, que jorra do trono celestial e que vai ao encontro da vida daquela pessoa e de encontro ao seu pecado.

3.       Vós adorais o que não conheceis (v. 22)

Aquela mulher passou a dar atenção à mensagem de Cristo e entendeu que era pecadora. O próximo passo era mostrá-la que estava equivocada quanto à verdadeira espiritualidade e sobre o caminho da salvação. Jesus mostra que ela achava ser uma adoradora genuína, mas que na verdade não conhecia quem achava adorar. Algo estava errado na vida daquela mulher, sua adoração não tinha conexão. Era uma adoração de mão única, apenas seguia, mas não voltava a resposta de Deus. Muitas são as pessoas que pensam ser boas, piedosas e merecedoras da salvação. Pensam que pelo fato de serem adeptas de alguma religião possuem contato com o Deus Todo-Poderoso. Jesus, entretanto, mostra àquela mulher que ela pensava adorar a Deus, mas que ainda faltava ter um encontro com a verdadeira religião. A palavra religião vem do latim, religare, que significa religar. Depois da queda do homem, este ficou sem conexão com o Pai celestial e desligado da intimidade com o Divino. Para que possa ser religado a Deus, o homem precisa reconhecer que é pecador e que precisa de um conector com o Senhor.

Entendendo parcialmente a obra da religação, a mulher então comenta com o suposto profeta que também aguardava o Messias, mas não havia percebido que falava com Ele. Quando Cristo se revela, ela imediatamente é impactada por Sua glória. Por volta de meio-dia ela abandona seu cântaro e vai anunciar que o Messias havia chegado. Para que o Evangelho seja anunciado, as pessoas precisam dar atenção à mensagem celestial, compreender que são destituídas da glória de Deus e que somente através de Cristo, podem ser religadas ao Criador. Quando alguém entende isso e aceita a Cristo como único e suficiente Salvador, é regenerada, isto é, nasce de novo. Alguém que nasce de novo, larga o cântaro, larga o velho homem, abandona as velhas práticas, independente do horário. Aquela mulher nem se preocupou mais com o almoço e saiu pela cidade para anunciar a Boa Notícia. Enquanto muitos estão pregando uma mensagem agradável aos ouvidos humanos, com erudição antropocêntrica, nosso desafio é tão somente pregar e anunciar uma mensagem simples, descomplicada e sobretudo, Cristocêntrica. Lembre-se, não precisamos reinventar a roda. Cristo já nos deu o modelo do verdadeiro evangelismo. Da mesma forma que a Palavra atuou na vida daquela mulher, ela age ainda hoje. Não perca as oportunidades que o Senhor te conceder e “prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4.2).

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os Problemas da Interpretação Bíblica

Um dos fatos que dificultam a interpretação bíblica é o fato de ela ser um livro antigo. O Pentateuco foi escrito por volta de 1.400 a.C. Portanto, desde que os primeiros livros da Bíblia foram escritos, temos um espaço de tempo de aproximadamente 3.400 anos. Há quem pense ser capaz de interpretar passagens bíblicas de forma isolada e dissociada de qualquer contexto, portanto, para uma que uma boa hermenêutica bíblica seja realizada, alguns abismos precisam ser transpostos:
1.    Abismo Cronológico: “Devido à gigantesca lacuna temporal, um abismo enorme separa-nos dos autores e dos primeiros leitores da Bíblia. Como não estávamos lá, não podemos conversar com os autores e com os primeiros ouvintes e leitores para descobrir de primeira mão o significado do que escreveram (ZUCK, 1994, p.17)”.

2.    Abismo Geográfico: “Atualmente, a maior parte dos leitores da Bíblia vive a milhares de quilômetros de distância dos países onde se deram os fatos bíblicos. Foi no Oriente Médio, no Egito e nas nações mediterrâneas meridionais da Europa de hoje que as personagens bíblicas viveram e peregrinaram. A área estende-se desde a Babilônia, onde hoje é o Iraque, até Roma (e talvez a Espanha, se é que Paulo foi até lá). Essa distância geográfica deixa-nos em desvantagem (ZUCK, 1994, p.17)”.

3.    Abismo Cultural: “Existem grandes diferenças entre a maneira de agir e de pensar dos ocidentais e a das personagens das terras bíblicas. Portanto, é importante conhecer as culturas e os costumes dos povos dos tempos bíblicos. Muitas vezes, a falta de conhecimento de tais costumes gera interpretações errôneas (ZUCK, 1994, p. 17)”.
EXEMPLO:
Imagine se você pudesse voltar ao passado, há alguns milênios na história, e fizesse uma visita ao rei Salomão em sua corte, e você com toda essa cultura ocidental hodierna. Durante a conversa você falaria sobre internet, computador, luz elétrica, telefone celular, viagens espaciais, TV Digital, etc. Obviamente que Salomão ficaria surpreso diante de tanto avanço tecnológico, e além da surpresa, com certeza teria muita dificuldade para compreender todo esse desenvolvimento tecnológico. A recíproca, portanto, também tem sua verdade, isto, em relação à cultura desenvolvida e vivida pelos povos dos tempos bíblicos.
Segundo Esdras Costa Bentho, “para compreendermos perfeitamente essa cultura, expressa principalmente através da linguagem, são necessárias introspecção e empatia com ela[1]”. Destarte, como Salomão encontraria dificuldades para compreender a cultura atual marcada por tantos avanços tecnológicos e teria que depreender esforços para entendê-la, assim nós também precisamos nos esforçar bastante para apreender a cultura bíblica. Portanto, os povos que viveram na época em que os autógrafos foram escritos, tiveram maior habilidade em assimilar o conteúdo bíblico, pois estavam presenciando e vivenciando a mesma ou a similaridade da cultura em que viviam os escritores sacros. Vejamos a importância de conhecermos os aspectos culturais para a aplicação da hermenêutica bíblica:
3.1 PORQUE JONAS NÃO QUERIA IR PARA NÍNIVE? “Fontes seculares dão conta de que os ninivitas cometiam atrocidades com seus inimigos. Eles decapitavam os líderes dos povos conquistados e empilhavam as cabeças. Às vezes, colocavam numa jaula um chefe capturado e tratavam-no como animal. Era seu costume empalar os prisioneiros, deixando agonizar até à morte. Por vezes, esticavam as pernas e os braços do prisioneiro e esfolavam-no ainda vivo. Não é de admirar que Jonas não quisesse pregar uma mensagem de arrependimento aos ninivitas! Ele achava que mereciam ser julgados por suas atrocidades (ZUCK, 1994, p.93)”.
3.2 PORQUE ELIAS PROPÔS QUE O MONTE CARMELO FOSSE O LOCAL DE SUA DISPUTA COM OS 450 PROFETAS DE BAAL? “Os seguidores de Baal acreditavam que este habitasse no Monte Carmelo. Portanto, Elias deixou que eles jogassem em casa. Se Baal não conseguisse fazer cair um raio sobre um sacrifício em seu próprio território, sua fraqueza se tornaria evidente (ZUCK, 1994, p.94)”. Precisa ser levado em conta ainda, o fato de os cananeus verem em Baal o domínio sobre a chuva, os raios, o fogo e as tempestades, detendo então domínio sobre esses elementos da natureza. Antes deste episódio houvera uma seca que perdurou por três anos e meio, fato este, que comprovou que Baal não exercia o domínio sobre a chuva, a exemplo do que criam os seus seguidores. Sua incapacidade ainda é demonstrada pelo fato de não conseguir fazer descer fogo sobre o sacrifício no monte, onde para seus seguidores, era sua própria habitação.
3.3 EM 2 REIS 2.9, QUANDO ELISEU DISSE A ELIAS: “...Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito”, será que ele estava pedindo duas vezes mais poder espiritual do que Elias tinha? Não, estava expressando o desejo de ser seu herdeiro, seu sucessor. De acordo com Deuteronômio 21.17, o primogênito de uma família tinha direito de receber em dobro sua parte da herança deixada pelo pai (ZUCK, 1994, p.97). Portanto, Eliseu não ambicionava presunçosa e orgulhosamente ter duas vezes mais poder que Elias, mas desejava ser herdeiro da missão profética exercida por Elias.
4.    Abismo Linguístico: “(...) existe enorme lacuna entre nossa forma de falar e de escrever e a dos povos bíblicos”. Os idiomas em que a Bíblia foi escrita – hebraico, aramaico e grego – têm singularidades estranhas à nossa língua.
Por exemplo:
·         No Hebraico e Aramaico dos autógrafos (AT) só havia consoantes, as vogais estavam subentendidas e, portanto, não eram escritas;
·         As vogais foram acrescentadas ao texto sagrado bem mais tarde, por volta de 900 d.C., através da atividade desenvolvida pelos massoretas;
·          Tanto o hebraico quanto o aramaico são lidos da direita para a esquerda, e não da esquerda para a direita;
·            Não havia separação entre as palavras.
·         As palavras escritas nessas três línguas bíblicas emendavam-se umas às outras. Poderíamos exemplificar isso em português da seguinte forma: HCTMDVSCRP. Lendo da direita para a esquerda, o hebreu logo perceberia quatro palavras, que em português seriam: PRCSV D M TCH. Não é muito difícil deduzir o significado da frase: “Precisava de um tacho”. Por outro lado, as letras TCH também poderiam ser interpretadas como tocha ou tacha, além de tacho. Então, como é que um leitor saberia qual a palavra além de tacho. Então, como é que um leitor saberia qual a palavra pretendida? Normalmente, podia-se depreender o significado pelo contexto (ZUCK, 1994, p. 18)”.
5.    Abismo Literário: “Existem diferenças entre os estilos e as formas de escrita dos tempos bíblicos e os do mundo ocidental moderno. Dificilmente nos expressamos com provérbios ou parábolas, no entanto grande parte da Bíblia foi escrita em linguagem proverbial ou parabólica. A linguagem figurada, que era usada com frequência, às vezes dificulta nossa compreensão. Vejamos por essas declarações de Jesus: “Eu sou a porta” e “Eu sou o Pastor”. Evidentemente, ele não quis dizer que era literalmente feito de madeira com dobradiças, nem que possuía ovelhas de verdade e as apascentava no campo. Cabe ao intérprete tentar apurar o que Jesus de fato quis dizer com tais afirmações (ZUCK, 1994, p.19)”.

6.    Abismo Espiritual: “É importante ressaltar também que existe um abismo entre a maneira de Deus agir e a nossa. O fato de a Bíblia ser um livro sobre Deus coloca-a numa posição sem-par. Deus, que é infinito, não pode ser plenamente compreendido pelo que é finito. A Bíblia relata os milagres de Deus e suas predições sobre o futuro. Ela também fala de verdades difíceis de ser assimiladas, tais como a Trindade, as duas naturezas de Cristo, a soberania de Deus e a vontade humana. Todos estes fatores, somados a outros, agravam a dificuldade que temos de entender plenamente todo o conteúdo das Escrituras (ZUCK, 1994, p.19)”.

REFERÊNCIAS
BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. 10ª Impressão. Rio de Janeiro: Cpad, 2003.
ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1994. 356p.

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[1] BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. 10ª Impressão. Rio de Janeiro: Cpad, 2003. p.74.

Fonte: http://pbangelo.blogspot.com/

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Existem ainda Apóstolos nos dias de hoje?

Efésios 4.11-14“E Ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro;”

Gostaria nessa semana de abordar o modismo do apostolado. Antes de mais nada, faz-se importante o entendimento de que cada um dos dons ministeriais de Ef 4.11 (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres) são dados pelo Espírito Santo para pelo menos 3 finalidades: 1) para que a igreja seja aperfeiçoada e edificada, 2) para que não sejamos meninos inconstantes e 3) para que não sejamos levados por ventos de doutrinas (modismos que vêm e vão), heresias e ensinos tendenciosos. Assim sendo, a Igreja precisa ter esses dons em operação e dar a devida liberdade ao Espírito “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Esse é um tema que aparentemente divide a opinião de teólogos da atualidade. Digo aparentemente, porque é praticamente unânime a opinião dos teólogos tradicionais e dos pentecostais clássicos e autônomos de que tal título como ofício eclesiástico não obteve sucessão entre os seguidores de Cristo. Os que defendem o título, são em sua maioria líderes neopentecostais e até mesmo a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana). Embora não vejamos o título literal de “apóstolo” entre os católicos, o vaticano usa para com o Papa uma autoridade que a Bíblia não concede a ninguém e daí temos os vários embates de uma suposta sucessão apostólica.  Crêem eles que o papa é o sucessor ininterrupto de Pedro, mas não há apoio bíblico e sequer histórico para tal afirmação.

Lemos, por exemplo, em At 12.17, logo após Pedro ser liberto da prisão: "E, saindo, partiu para outro lugar". Para onde ele foi depois de ser liberto pelo anjo? Pode ser Roma, Antioquia ou qualquer outra localidade. Não obstante a Bíblia fazer silêncio sobre o assunto, os católicos afirmam ser fato incontestável ter sido o apóstolo Pedro o fundador da igreja em Roma. Atribuem-lhe ainda um pontificado de 25 anos, na capital do Império, e conseqüente morte neste lugar. É claro que estas ligações são a priori de valor inestimável, pois entrelaçadas vão robustecer a tese vaticana da primazia do papado. Contudo, há de se frisar que somente a chamada tradição vem em socorro das causas romanistas nestas horas e, mesmo assim, de maneira dúbia. Basta analisarmos cautelosamente a Bíblia Sagrada: Pedro não pode ter sido papa durante 25 anos, pois foi martirizado no reinado do Imperador Nero, por volta do ano 67-68 d.C. Subtraindo-se 25 anos, retrocederemos ao ano de 42 ou 43. Nessa época não havia se realizado o Concílio de Jerusalém (At 15), que se deu por volta de 48-49 d.C., do qual Pedro participou (mas não deveria, pois segundo a tradição, nesta época, ele estava em Roma), no entanto, foi Tiago quem o presidiu (At 15.13-21). No ano 58 d.C., Paulo escreveu a epístola aos Romanos. E no capítulo 16 dirigiu uma saudação para muitos irmãos, mas Pedro sequer é mencionado. Paulo chegou a Roma no ano 62 d.C., e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30-31), todavia, nesse período, não há qualquer menção de Pedro. O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses, Filemom (62 d.C.) e Filipenses (entre 67/68 d.C.), mas Pedro não é mencionado em qualquer delas. Se Pedro estava em Roma no ano 60 d.C., como se deve entender a revelação referida no livro de Atos, em que Jesus disse a Paulo: "Importa que dês testemunho de mim também em Roma?" (At 23.11). Pedro não deveria estar cumprindo esta função? Onde se encontrava o suposto papa de Roma nesta ocasião?

Outros equívocos estão no pensamento evangelical e para analisá-los melhor, entendamos primeiramente o que a Bíblia diz sobre Apóstolos. Essa pessoa deveria ter sido testemunha ocular de Jesus Cristo ressurreto e ainda ter recebido tal comissionamento diretamente do Senhor Jesus. O sucessor de Judas Iscariotes deveria ter essas qualificações, conforme está registrado em At 1.21,22. Depois da substituição de Judas por Matias, o último que pôde preencher tais requisitos foi Paulo (At 9.1-6; Gl 1.1; 1 Co 9.1; 15.7-9). Segundo o professor Márcio Redondo, o movimento apostólico teve uma forte aparição a partir de 1980 e é dividido em pelo menos três grandes redes: carismática (neo-pentecostal), messiânica e judaizante. Em todas essas redes a ênfase em batalha espiritual é muito forte. De acordo ainda, com o professor Márcio, “o movimento apostólico ensina que cada apóstolo possui autoridade espiritual sobre territórios específicos. Um é apóstolo de Buenos Aires, outro é da Cidade do México, e assim por diante. É claro que o Brasil também já está loteado”1. Pelo fato de enfatizarem bastante a batalha espiritual, doutrinas como a quebra de maldições e atos proféticos são comuns. Ele até conta no mesmo artigo que “um outro amigo me contou de um ‘apóstolo’ aqui no Brasil que, na sua estratégia de batalha espiritual, resolveu delimitar as fronteiras de sua jurisdição. Como Jesus Cristo é apresentado na Bíblia como o leão de Judá (Apocalipse 5.5) e como os leões demarcam seu território com urina, esse 'apóstolo' começou a sair pelas ruas de sua cidade e circunscrever sua área com... sua própria urina! Quanta ingenuidade!”. E coloque ingenuidade nisso. Outro dia vi um “apóstolo” desses aí que usava como fivela do cinto um cifrão ($). Será que ele achava ser isso uma espécie de ato profético para atrair prosperidade?

O Reverendo Marcelo Parga de Souza, da Christ Reformed Church em Anaheim, Califórnia explica a etimologia do termo:

“Existem dois sentidos básicos para o termo ‘apóstolo’. De um modo mais geral, o termo se refere a qualquer pessoa que seja um enviado ou emissário de Deus através da Igreja para uma obra especial, seja de liderança ou não (e.g., Fl. 2:25). Esse significado provém da correlação entre o substantivo "apóstolo" (πόστολος) e o verbo em grego que significa "enviar" (ποστέλλω). Nesse sentido mais geral, não há dificuldade em se aceitar que qualquer pessoa pode ser um apóstolo de Deus. Qualquer pessoa pode ser enviada, por exemplo, por uma igreja para o trabalho missionário, e, nesse sentido amplo, ela é um apóstolo de Deus. No Novo Testamento, porém, o sentido mais comum da palavra é o sentido técnico e restrito, se referindo a um grupo seleto dos apóstolos de Cristo. A palavra traduzida "apóstolo" (e suas derivações) é encontrada 80 vezes no texto grego do Novo Testamento (Nestle-Aland 27a. Ed.). Dessas, ela tem esse sentido restrito nada menos do que 73 vezes. O sentido mais amplo de "enviado" ocorre somente 5 vezes (Jo. 13:16; 2 Co. 8:23; Fl. 2:25; At. 14:4 e 14 são duas referências ambíguas); ela se refere uma vez a Jesus Cristo (Hb. 3:1); e, finalmente, há 3 ocorrências que apresentam dificuldades exegéticas, podendo ter tanto o sentido mais amplo como o mais técnico: Rm. 16:7; At. 14:4; 14”2.

No sentido mais amplo da palavra, isto é, enviado, podemos entender que qualquer pessoa pode ser enviada para uma missão. No sentido técnico da palavra, entendemos que o Apóstolo tinha uma autoridade diferenciada. Seus escritos eram considerados como inspirados, conforme vemos em passagens como 2 Pe 3.2; 1 Co 14,37; 1 Ts 2.13; 2 Pe 3.16. Os “Apóstolos” modernos teriam essa autoridade? Fariam parte do cânon bíblico escritos do Apóstolo Renê Terra Nova, Apóstola Valnice Milhomens, Apóstola Neuza Itioka? Uma vez que o ofício apostólico não possui embasamento bíblico para os dias de hoje, o que dizer então de Apóstolas? O ofício feminino não é bíblico, mas vemos sim cooperadoras da Obra de Deus, sem, no entanto, levarem títulos de apóstolas, bispas, pastoras ou outros. Algo que devemos ressaltar é que as mulheres do mundo oriental eram desprezadas, tratadas como seres inferiores, que não tinham direito à voz, à educação e nem sequer eram contadas quando se queria saber quanta “gente” havia, quando era feito o censo. O que encontraremos com freqüência eram mulheres com o dom de profecia: Miriã (Ex 15:20), Débora (Jz 4:4), Hulda (2 Rs 22:14), Ana (Lc 2:36-38) e as 4 filhas de Felipe (At 21:9). Além disso, Evódia e Síntique em Fl 4:2-3 trabalhavam com Paulo, como cooperadoras, Priscila e seu marido Áquila são chamados também de cooperadores em Rm 16:3. A mesma Débora era também juíza. Outra passagem interessante é a da mulher samaritana em Jo 4 27-29 que larga seu cântaro e vai à cidade anunciar o Cristo. Em Rm 16:12b Paulo também diz sobre Pérside, que muito trabalhou no Senhor. O que enxergamos é que as mulheres cooperavam, isto é, ajudavam para que o Evangelho fosse propagado, mas não lhes era atribuído títulos. Baseado nessa ajuda que as mulheres tanto davam no Novo Testamento o título mais aceito hoje é o de missionária.

Podemos concluir sem medo de errar, que não existem apóstolos nos dias de hoje, senão missionários, no sentido mais amplo da palavra. Pessoas estas que são fundamentais para a propagação do reino de Deus, os plantadores de igreja, que entregam verdadeiramente suas vidas por amor a Cristo. Porém, ressalto aqui a importância dos demais dons ministeriais. A Igreja de Cristo também precisa de profetas, homens e mulheres que realmente não têm medo de exortar o povo de Deus e conclamar conserto, pessoas que não temem ser tachados de quadrados e que andam na contramão do mundo em favor do Reino de Deus. Não apenas missionários e profetas, mas evangelistas que não se envergonham do Nome e que preguem o genuíno Evangelho. Não apenas os três, mas pastores que apascentem o rebanho de Deus “não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1 Pe 5.2,3). Embora todo pastor seja um mestre, nem todo mestre é um pastor. Para que o corpo cresça saudável, com interdependência aos missionários, profetas, evangelistas e pastores, devem os mestres ensinar a bendita Palavra de Deus com alegria e contribuir para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11).



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1 REDONDO, Márcio. Apostolado ou Apostolice. Site da Agência de Informações Religiosas, www.agir.com.br

2 SOUZA, Marcelo Parga de. Há Apóstolos hoje? São Paulo, 2006. Site da Agência de Informações Religiosas.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Livro das Respostas


Em uma grande conferência, alguns eruditos conversavam...
- A biologia é a ciência principal porque lida com coisas vivas - disse um eminente cientista.
- Penso que a química oferece as melhores respostas, pois explica como e de quê são feitas todas as coisas - disse outro.
- Na verdade, a física é ainda a melhor de todas as ciências, pois explica as leis da natureza - disse um terceiro estudioso.
- Vocês estão todos enganados, pois a filosofia nos instiga a questionar todas essas ciências - respondeu um famoso filósofo.
Um quinto erudito permanecia calado, balançando a cabeça horizontalmente, como que reprovando o que estava ouvindo, até que um dos colegas lhe perguntou:
- E você, qual é a sua opinião?
- Amigos, eu estava em silêncio, pois não queria decepcioná-los. Há alguns anos, um aluno me presenteou com um livro, que mudou a minha maneira de pensar. Curiosamente, eu já tinha essa obra em minha biblioteca, mas jamais me interessara em lê-la de modo sequencial. Depois que a examinei com cuidado, descobri muitas respostas.
Abrindo a sua pasta, o estudioso tirou um livro de capa preta bem desgastado e afirmou:
- A biologia estuda as coisas vivas. No entanto, qual é a origem da vida? A resposta está no começo deste livro:“No princípio, criou Deus os céus e a terra. E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, e répteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie. E assim foi. E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego de vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 1.1,24; 2.7).
E prosseguiu:
- A química explica de quê são feitas todas as coisas. Porém, quem criou as substâncias químicas? Este livro também tem a resposta: “Pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11.3). A física explica as leis da natureza. Mas, quem estabeleceu essas leis? Neste livro está escrito:“Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão” (Gn 8.22).
E concluiu:
- Pode a filosofia, com todos os seus questionamentos, nos conduzir à verdade? Onde está a verdade? Vamos à resposta, neste livro: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 8.32; 14.6; 17.17).