Ap 2.8-11 – “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu: Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás. Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte.”
Esmirna hoje é conhecida como Izmir, a terceira maior cidade da Turquia, onde encontra-se o segundo porto mais importante do país. A antiga cidade foi destruída pelos lídios em 600 a.C. e reconstruída pelos gregos no final do século IV a.C. podendo ser descrita como uma cidade que morreu e tornou a viver. Durante o domínio romano, Esmirna se tornou um centro de idolatria oficial, conhecida como Guardião do Templo (grego, neokoros). Foi a primeira cidade da Ásia a construir um templo para a adoração da cidade (deusa) de Roma (195 a.C.) e escolhida em 26 d.C. como local do templo ao imperador Tibério. A arqueologia descobriu imagens, na praça principal da cidade, de Posêidon (deus grego do mar) e de Deméter (deusa grega da ceifa e da terra).
A Apresentação de Jesus
Como em cada carta, Jesus se apresenta de uma maneira ímpar e de acordo com a necessidade daquela congregação local. Para Esmirna Ele se apresenta como o Primeiro e o último, que foi morto e reviveu. Um dos atributos incomunicáveis de Deus é a Eternidade. Ele não possui princípio de dias, não foi criado, mas é o Criador. O fato de se apresentar como o primeiro e o último, mostra sua existência eterna tanto para o passado quanto para o porvir. Em outra ocasião, Jesus se apresenta a João como o alfa e o ômega, aquele que era, que é e que há de vir (cf Ap 1.8). Alfa é a primeira letra do alfabeto grego e ômega a última letra. É como se Ele dissesse: “Eu sou o a e o z” para nós brasileiros. Além disso, Sua eternidade é exposta mostrando que antes que alguém fosse alguma coisa, antes de toda criação, Ele já era. Não apenas existiu, mas continua existindo, porque Ele é o verdadeiro caminho. Sempre será e há de voltar. Para terminar Sua apresentação a João, Ele ainda mostra mais um de Seus atributos incomunicáveis: Sua onipotência, Ele é o Deus Todo-Poderoso. Como a Igreja em Esmirna estava sofrendo fortes perseguições, Jesus termina Sua apresentação dizendo que é o que foi morto e reviveu, destacando a vitória sobre a morte na ressurreição. Eles, sendo fiéis, poderiam nutrir a mesma esperança: a de vencer a morte e ressuscitarem.
Características de Esmirna
Esmirna é uma das igrejas que estavam aprovadas. Somente ela e Filadélfia não sofreram críticas. Uma de suas características positivas, elogiadas pelo Mestre era a Pobreza Material x Riqueza Espiritual. Enquanto o vírus da Teologia da Pro$peridade contamina a Igreja do século XXI, Esmirna não possuía grandes posses e é reconhecida por Jesus como pobre materialmente. Todavia, embora fossem materialmente desprovidos, possuíam a verdadeira riqueza, a espiritual. Jesus disse que devemos ajuntar tesouros em um lugar onde a traça não pode consumi-la, onde a ferrugem não pode corroê-la e onde ladrões não podem roubar (Mt 6.19,20). Não que seja proibido ao cristão possuir bens materiais e até mesmo a riqueza, mas o discurso de Jesus é que essas coisas são passageiras, não podem ser trasladadas para a vida eterna e não possuem, portanto, nenhum valor eterno. O paradoxo “sois pobres, mas sois ricos”, reflete apenas a necessidade de compreendermos a inversão de valores. Enquanto a humanidade busca riquezas materiais, Jesus diz que aquela Igreja era rica, mas não de bens terrenos e sim de perseverança, fé e outras preciosidades espirituais.
Jesus dizia conhecer a blasfêmia dos que se diziam judeus e não eram. O Apóstolo Paulo disse que “não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28,29). Na Nova Aliança, Israel não é mais uma nação privilegiada, a Graça se estende a todos, não havendo “grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3.11). Embora a adoção, a glória, os pactos, a promulgação da lei, o culto, as promessas, os patriarcas, a descendência de Cristo sejam provenientes de Israel, Paulo diz que “nem todos os que são de Israel são israelitas” (Rm 9.6b). A Igreja agora é “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1 Pe 2.9 – grifos meus). Para ser um verdadeiro escolhido de Deus não se dá por um sinal externo e sim por um sinal interno. Não é a circuncisão exterior que marca um verdadeiro adorador, mas a circuncisão do coração, a marca do novo nascimento. Jesus sabia que os pseudo-judeus perseguiam e blasfemavam contra os irmãos em Esmirna, mas quem tinha a marca da salvação eram os irmãos perseguidos.
Não apenas a riqueza espiritual e a blasfêmia dos judeus era conhecida, mas também a tribulação que eles passavam. Esta, era demarcada por três aspectos: Prisão, Provação e Morte. É mister comentar que, temos total liberdade para professar nossa fé na nação brasileira, pelo menos por enquanto. Assim sendo, devemos aproveitar ao máximo desse benefício. Em várias nações da chamada “cortina de ferro”, Bíblias são proibidas e elas entram contrabandeadas. Os cristãos que lá residem têm muitas das vezes, algumas páginas e alguns trechos das Escrituras e se alegram bastante com isso, ao passo que em nações livres, o povo de Deus nem sequer a lê. Se lermos, em média, três capítulos e meio por dia, finalizamos toda a Bíblia em uma ano. E nem assim, os cristãos lêem a bendita Palavra do Deus Vivo. Em algumas nações, dizer que é cristão é motivo de prisão, vergonha para a família e em muitos casos de morte. Aqui, podemos pregar o Evangelho em praças públicas, para nossos colegas de trabalho, vizinhos e para quem quer que seja, correndo o único risco de nos chamarem de quadrados. Os irmãos de Esmirna estavam para serem lançados na prisão por simplesmente seguirem e servirem àquele que nos amou primeiro. O segundo aspecto da tribulação era marcado pela provação. Aqueles irmãos provavelmente foram submetidos a tortura, com o intuito de levarem a fé genuína à prova. Se a pessoa negasse a Cristo, seria também negada diante de Deus, mas se fosse fiel e afirmasse sua fé, confessando o Messias diante dos homens e das circunstâncias, Ele também confessaria essa pessoa diante do Pai e dos anjos (Mt 10.32,33; Ap 3.5). Quanto estaríamos dispostos a morrer ou sofrer tortura por amor a Cristo? O terceiro aspecto era a morte. O conselho de Cristo era que eles fossem fiéis até a morte, ou seja, ainda que a perseguição e torturas fossem seguidas de martírio, que eles não desanimassem, mas perseverassem e fossem fiéis até a morte.
Promessas
O conselho de Jesus era que eles não temessem aqueles que poderiam matar o corpo, pois eles não tinham condições de tocar no espírito (cf Mt 10.27,28). Se fossem fiéis até o fim, ainda que custasse a vida, receberiam a coroa da salvação. O que vencesse não sofreria o dano da segunda morte em nenhuma hipótese. Fica para nós o entendimento de que vale a pena sermos fiéis a Deus, trabalhando “não para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações” (1 Ts 2.4b).
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