quinta-feira, 17 de março de 2011

O Príncipe dos Pregadores

João 6:66-68 – Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele. Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.

Charles Haddon Spurgeon, comumente referido como C. H. Spurgeon (Kelvedon, Essex, 19 de junho de 1834Menton, 31 de janeiro de 1892), foi um pregador batista reformado britânico. Converteu-se ao cristianismo em 6 de janeiro de 1850, aos quinze anos de idade. Aos dezesseis, pregou seu primeiro sermão; no ano seguinte tornou-se pastor de uma igreja batista em Waterbeach, Condado de Cambridgeshire (Inglaterra). Em 1854, Spurgeon, então com vinte anos, foi chamado para ser pastor na capela de New Park Street, Londres, que mais tarde viria a chamar-se Tabernáculo Metropolitano, transferindo-se para novo prédio. Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos textos bíblicos foi considerado extraordinário. E sua excelência na pregação nas Escrituras Bíblicas lhe deram o título de “O Príncipe dos Pregadores” e “O Último dos Puritanos”¹.
Foi um dos homens mais conhecidos do seu tempo, tendo sido primeiro "uma curiosidade e posteriormente uma notoriedade", como afirmavam os jornais após a programação realizada durante os dias 18 e 19 de Junho de 1.884, quando ele celebrava seu aniversário de 50 anos. Nesta ocasião, o Tabernáculo Metropolitano estava completamente lotado nas reuniões que tiveram lugar essas duas noites. Na noite de 19 de Junho estiveram presentes 7.000 pessoas. Em uma resposta característica aos elogios que lhe eram feitos, Spurgeon disse que "ele não atravessaria a rua para ir escutar ele mesmo." No evento pregaram homens eminentes tais como D. L. Moody e O. P. Gifford, dos Estados Unidos e Canon Wilberforce, e os doutores Newman Hall e Joseph Parker.
Spurgeon enfrentou muita oposição no fim de seu ministério. Em 1887, ele foi envolvido na que se chamou "A controvérsia da ladeira" ou “A controvérsia do declínio” (Down Grade), quando Spurgeon criticou duramente muitos membros da União das Igrejas Batistas da Inglaterra, do qual ele era afilidado que estavam afrouxando a sua pregação diante do liberalismo teológico e da Alta crítica (movimento que invocava a idéia de ser uma acurada investigação da historicidade da Bíblia, mas que na prática negava a Infabílidade e a Inerrância da Palavra de Deus). Spurgeon foi duramente criticado e tachado de antiquado. Muitos deixaram de contribuir com as obras sociais e missionários do Tabernáculo metropolitano. É certo para muitos que essa controvérsias, que foi travada em sermões, reuniões e editoriais, desgastou ainda mais a debilitada saúde de Spurgeon, que por fim se desligou (ele e o Tabernáculo) da União Batista em 28 de Outubro de 1887. Posteriormente, a congregação batista voltou a se associar a União, mas desde que Peter Master assumiu o pastoreado do Tabernáculo Metropolitano, em 1970, ela rompeu novamente com a União Batista.
John F. McArthur Jr. Diz o seguinte acerca desse rompimento:
“Até hoje, os historiadores eclesiásticos debatem se Spurgeon procedeu corretamente ao se retirar da União Batista. Muitos crêm que ele deveria ter permanecido e lutado a fim de mantê-la na ortodoxia. Ele considerou essa opção, mas concluiu que seria um esforço em vão. Sou inclinado a pensar que Spurgeon estava certo ao se retirar. Mas, concordemos ou não com sua atitude, precisamos reconhecer que a história já demonstrou que eram corretas as advertências de Spurgeon sobre o declínio. No início do século XX a propagação da “falsa doutrina e do mundanismo” – o liberalismo teológico e o modernismo – devastou o cristianismo denominacional em todo o mundo (...) Cem anos se passaram, e estamos vendo a história se repetir. A igreja evangélica se tornou mundana; e não apenas mundana, mas conscientemente mundana. Os ventos que comprometem a doutrina voltam a soprar”².
Enquanto a Inglaterra enfrentava esse liberalismo teológico, o “Príncipe dos Pregadores”, C. H. Spurgeon defendia o seguinte:
“A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é um sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto melhor”.
“Será que um homem que ama seu Senhor estaria disposto a ver Jesus usando uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao Trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá por meio das multidões, em meio a aplausos? Não seria tão fútil em sua imaginação? Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou ao seu negócio e tire deles o máximo que você puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”.
Embora o “Príncipe dos Pregadores” realizasse esses discursos, há mais de 1.800 anos o “Príncipe da Paz” já havia alertado seus seguidores sobre o verdadeiro Evangelho. No início do capítulo 6 do Evangelho de João, conta-se que Jesus havia ido para o outro lado do Mar da Galiléia “e seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos” (Jo 6:2). Aquelas pessoas não queriam o Jesus dos milagres e sim os milagres de Jesus. Aconteceu em seguida, a multiplicação dos 5 pães e 2 peixinhos para cerca de 5.000 pessoas. No dia seguinte, a multidão não encontrando Jesus foram a Cafarnaum, em função do milagre da multiplicação. Jesus, entretanto, denunciou seus intentos dizendo: “em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” (Jo 6:26,27). Após seu duro discurso, aquela multidão foi se dispersando, pois não queriam ter uma verdadeira comunhão com a carne e o sangue de Jesus. O que mais me chama a atenção, é que o Rei dos reis e Senhor dos senhores não se preocupou em agradar a multidão. Não tornou aquela mensagem moderna, não pregou prosperidade, não pregou confissão positiva, não negociou a verdade para manter uma “igreja” de 5.000 membros. Depois daquela mensagem sobre como ser um cristão genuíno, os membros caíram para 12. Os pragmatistas deveriam concluir que o método de Jesus estava errado, uma vez que essa filosofia avalia a funcionalidade.
O Apóstolo Paulo disse aos romanos: “não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). Em nossos dias o que tem acontecido é diferente, ao invés de muitos ministros não se envergonharem do Evangelho, estão envergonhando-o. Assim como grandes heróis da fé não negociaram a Palavra de Deus, C. H. Spurgeon também não o fez. Não temeu ser criticado e lutou pela verdade do Evangelho. Conheço muitos ministros que estão com medo de perder suas posições, cargos e ate o salário da denominação ao invés de lutar pela ortodoxia³. Podemos ser tachados de “quadrados”, mas prefiro não amar o mundo, como o Apóstolo João, pois “tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo (...) Mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre” (1 Jo 2:16,17).


¹Charles Spurgeon. 2011. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon#Luta_e_oposi.C3.A7.C3.A3o. Acesso em 17 Março 2011.

²McArthur Jr, John F. Com vergonha do Evangelho. São José dos Campos. Editora Fiel. 1997. P 18,19

³Ortodoxia: Doutrina declarada verdadeira. Fiel, exato e inconcusso cumprimento de uma doutrina religiosa; conformidade com essa doutrina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário