"Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti" (Mt 6:21; Sl 119:11).
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Prolegômenos - Introdução à Teologia
Marcadores:
Vídeo-aulas
Servo do Deus Altíssimo, lavado e remido pelo Sangue do Cordeiro. Marido de uma mulher especial, Jaqueline e pai de dois filhos maravilhosos, Luís Otávio e Priscilla, presentes do Pai Celestial. Ministro da Igreja do Nazareno na cidade de Barroso, MG. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Castelo Branco, Bacharel em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, pós graduado em História da Teologia pela FaeteSF e em Ciência da Religião pela Universidade Cândido Mendes e Mestre em Ciências da Religião pelo Seminario Nazareno de las Americas de Costa Rica e mestrando em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. É palestrante nas áreas de apologética cristã, teologia sistemática, teologia arminiana e administração financeira doméstica, além de professor de Teologia Sistemática, articulista da Revista Defesa da Fé e autor dos livros “Os três Choros de José do Egito”, “A Verdade Sobre o G-12,” "Introdução à Teologia Armínio-wesleyana," "Culto cristão: origens, desenvolvimento e desafios contemporâneos" e "Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade."
Quem são os Filhos de Deus em Gênesis 6?
Marcadores:
Vídeo-aulas
Servo do Deus Altíssimo, lavado e remido pelo Sangue do Cordeiro. Marido de uma mulher especial, Jaqueline e pai de dois filhos maravilhosos, Luís Otávio e Priscilla, presentes do Pai Celestial. Ministro da Igreja do Nazareno na cidade de Barroso, MG. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Castelo Branco, Bacharel em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, pós graduado em História da Teologia pela FaeteSF e em Ciência da Religião pela Universidade Cândido Mendes e Mestre em Ciências da Religião pelo Seminario Nazareno de las Americas de Costa Rica e mestrando em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. É palestrante nas áreas de apologética cristã, teologia sistemática, teologia arminiana e administração financeira doméstica, além de professor de Teologia Sistemática, articulista da Revista Defesa da Fé e autor dos livros “Os três Choros de José do Egito”, “A Verdade Sobre o G-12,” "Introdução à Teologia Armínio-wesleyana," "Culto cristão: origens, desenvolvimento e desafios contemporâneos" e "Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade."
Jesus Morreu Espiritualmente?
A
doutrina que mais sofreu com interpretações equivocadas no decorrer da história
da Igreja foi, sem sombra de dúvidas, a cristologia. Temos os primeiros
indícios desses transtornos em uma das epístolas joaninas, ao nos depararmos
com uma defesa da dupla natureza de Cristo, diante dos gnósticos que negavam a
encarnação do verbo (1Jo 4.1-3). A discussão sobre a natureza de Cristo
perdurou alguns séculos da era cristã. Ário, por exemplo, negava a divindade de
Jesus e dizia que Ele era uma criação, ainda que a mais sublime. Tal
controvérsia foi debatida no Concílio de Niceia, em 325 d.C., mas só foi
solucionada definitivamente em Constantinopla, no ano de 381 d.C..
Apesar
do desfecho triunfante sobre o arianismo em Constantinopla, uma nova heresia
surgiria meio século depois. Dessa vez, a controvérsia cristológica tomaria
nova versão em Nestório, que fora empossado como patriarca de Constantinopla em
428 d.C.. Ele dizia que, em Jesus, havia duas pessoas distintas e
independentes, uma humana e outra divina. Suas ideias foram rebatidas e
anatematizadas no Concílio de Éfeso em 431 d.C..
Em
suma, podemos definir assim os três concílios supracitados: Niceia afirmou:
Jesus é Deus; Constantinopla, por sua vez, declarou: Jesus é também plenamente
homem; e finalmente Éfeso concluía com a união hipostática: Ele é
plenamente Deus e plenamente homem, são duas naturezas integradas em uma única
pessoa, a saber, Jesus Cristo.1
Além
das controvérsias sobre a natureza de Cristo, houve alguma discussão sobre a
expiação. Alguns diziam, equivocadamente, como foi o caso de Orígenes, que a
expiação de Cristo fora um resgate pago a Satanás. Outros defenderam uma teoria
mística, afirmando que Jesus venceu a própria natureza pecaminosa e que o
conhecimento deste triunfo despertaria o ser humano. Isso sem contar aqueles
que reduziram a expiação a um mero exemplo ou a uma influência moral.
Uma
heresia contemporânea vinculada à expiação pode ser encontrada nos círculos do
movimento neopentecostal. Proponentes como Hagin, Copeland e Milhomens ensinam
que a expiação de Cristo só teria efeito pleno caso o Salvador morresse
espiritualmente. Tal assunto tem sido palco de muitas dúvidas e confusões no
meio evangélico, de modo que carece de maiores esclarecimentos. Diante do
exposto, cabe a indagação: Jesus morreu espiritualmente?
Quais
são os pressupostos para tal doutrina?
A ideia
de que Cristo morreu espiritualmente é baseada em textos como 2 Coríntios 5.21;
Mateus 27.46; Atos 13.33 e principalmente Salmo 16.10; Romanos 10.6,7; Efésios
4.8-10; e 1 Pedro 3.18-20; 4.6. Romeiro resume essa doutrina da seguinte
forma:
(…) ao
morrer na cruz, Jesus recebeu uma natureza satânica, foi feito pecado, desceu
ao inferno em nosso lugar e lá foi atormentado três dias e três noites pelo
diabo. Jesus teve que morrer espiritualmente para pagar pelos pecados do homem
no inferno, pois sua morte física e seu sangue derramado na cruz foram
insuficientes para fazer a expiação. Depois de três dias no inferno, Jesus
nasce de novo e derrota os poderes das trevas, completando no inferno a
expiação que havia começado na cruz. O Jesus nascido de novo ressuscita e é
elevado à mão direita do Pai. Hoje ele tem poder para devolver à Igreja tudo o
que ela havia perdido para o diabo através da queda de Adão e Eva.2
Apesar
das palavras assustadoras, podemos ver que Romeiro não está errado, visto que
seus proponentes realmente fazem declarações consistentes com o que acabamos de
ler. Kenneth Hagin, por exemplo, disse:
Seu
espírito, seu homem interior, foi para o inferno em nosso lugar (…) A morte
física não removeria os nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte
espiritual (…) A morte espiritual significa mais do que a separação de Deus. A
morte espiritual significa ter a natureza de Satanás (…) Jesus se fez pecado.
Seu espírito foi separado de Deus, e Ele desceu para o inferno em nosso lugar
(…) Lá embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus
satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós (…) Deus no céu disse: ‘É
suficiente’. Depois, O ressuscitou. Trouxe seu espírito e alma para cima,
tirando-os do inferno.3
Kenneth
Copeland, outro propagador do mesmo ensino comentou: “Uma vez que ele [Jesus]
foi feito pecado, ele teve que pagar a pena pelo pecado. Teve de morrer
espiritualmente, o que o levou às regiões dos perdidos, antes que ele pudesse
nos redimir (…) Quando seu sangue foi derramado, ele não fez expiação”.4
Além
dos dois proponentes já citados, vale citar uma representante nacional. Romeiro
conta que Valnice Milhomens, fazendo um comentário de Isaías 53.9 5 durante um programa de televisão, afirmou que a
palavra “morte”, no texto original, está no plural – “mortes” – o que significaria
que Jesus morreu duas vezes, física e espiritualmente.6
Complementando
todas essas informações, podemos citar E. W. Kenyon, o qual explica que a morte
espiritual é “a natureza do adversário”7 e
que, através dessa morte, Jesus se identificou com a humanidade. Segundo ele,
Jesus tinha um corpo imortal e divino, não era como o corpo humano. Para que o
sacrifício de Cristo fosse eficiente e eficazmente substitutivo, Jesus deveria
morrer primeiro espiritualmente. “Era um corpo que não podia morrer até que o
pecado possuísse o Seu espírito”.8
Jesus
morreu espiritualmente?
Essa
deveria ser uma pergunta retórica, visto que a Bíblia não abre nenhuma margem
para uma resposta positiva. Apesar da obviedade, algumas interpretações
inconsistentes têm sido propagadas e gerado dúvidas e confusões.
Inequivocamente, Jesus não pode ter morrido espiritualmente e as razões são
mais do que óbvias, conforme será explicado doravante.
Uma das
argumentações para a morte espiritual de Jesus é a de que a ressurreição de
Cristo deveria ser diferente das demais ocorridas no Novo Testamento, visto que
o próprio Jesus operara três ressurreições. Entretanto, a diferença entre a
ressurreição de Cristo e as de Lázaro, do filho da viúva de Naim e da filha de
Jairo é que estes morreriam novamente, pois foi uma ressurreição para esta
vida, ao passo que aquele, primícias dos que dormem, foi o primeiro a vencer a
morte eternamente.
Os
defensores da morte espiritual de Cristo desejam mostrar que, para que a
expiação de Cristo fosse eficaz, Ele deveria morrer espiritualmente. O problema
desta ideia é que “morte espiritual” pressupõe pecaminosidade. Portanto, Jesus
teria que ter pecado para morrer espiritualmente. Lembrando as palavras
supracitadas de Kenyon: “Era um corpo que não podia morrer até que o pecado
possuísse o Seu espírito”.
McConnell
explica que essa crença é uma interpretação grosseira do sacrifício
substitutivo, cuja plataforma está em 2 Coríntios 5.21. Os sacrifícios
realizados no Antigo Testamento tipificavam o que Jesus faria por nós, mas tais
animais deveriam ser sem defeitos (cf Lv 4.3, 23, 32). “A pessoa que
apresentava essas ofertas santas colocava a sua mão sobre os animais para
simbolizar a transferência de seu pecado e culpa (Levítico 4.4, 24, 33). Essa
transferência de pecado era simbólica e não literal”. McConnell assevera que “o
animal sacrificial não se tornava pecado; o pecado era-lhe simbolicamente
atribuído”.9
A
teoria da expiação dos proponentes neopentecostais ainda não foi nomeada, mas
pode facilmente ser catalogada como “teoria da identificação”. Assim como
muitas teorias sobre a expiação não encontraram respaldo bíblico e foram
consideradas como heréticas, a ideia de que Jesus se identificou com a
humanidade e morreu espiritualmente segue a mesma trilha.
A
Bíblia mostra que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23) e que toda humanidade
pecou e está destituída da glória de Deus (Rm 3.23). Portanto, para que Jesus
morresse espiritualmente, teria que ter pecado, o que contradiz a própria
Escritura: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado” (Hb
4.15 – grifos meus).
Pedro
também disse: “(…) sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição
recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem
defeito e sem mácula,
o sangue de Cristo (…)” (1Pe 1.18,19 – grifos meus). Não obstante, tal ideia
vai de encontro com o que Paulo declarou: “Aquele que não
conheceu pecado, Deus
o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (1Co 5.21
– grifos meus).
O que
dizer da natureza diabólica? Teria Jesus assumido em sua suposta “morte
espiritual” a natureza de Satanás? O próprio Cristo contradiz tal hipótese: “Já
não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim” (Jo 14.30 – grifos meus).
Jesus
desceu ao inferno?
Para
dar mais sentido à “teoria da identificação”, seus proponentes afirmam que
Jesus desceu ao inferno e que foi atormentado pelo diabo por três dias. De
acordo com eles, somente depois de ter cumprido essa pena – que seria nossa – é
que Jesus pregou aos espíritos em prisão, tomou as chaves das mãos do diabo e
foi, em seguida, ressuscitado.
Apesar
dessa ordo resurrectio proposta pelos defensores da morte espiritual de
Cristo, o clássico texto petrino sobre a descida de Jesus ao hades é claro ao afirmar que Cristo morreu na carne, e
não no espírito, e que foi vivificado antes de pregar aos espíritos em prisão,
o que deixa um problema significativo para a interpretação de que Jesus ficou
no hades sendo torturado ou pagando pelos nossos pecados:
“Porque
também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para
levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no qual
também foi, e pregou aos espíritos em prisão” (1Pe 3.18,19 – grifos meus).
O Rev.
Heber Campos explica o significado da expressão “vivificado no espírito” em uma
excelente abordagem sobre a “descendit
ad inferna”. O
texto é um dos mais interessantes sobre o assunto, e esgota-o completamente.10 Vejamos o que diz o texto:
A
expressão ‘vivificado em espírito’, que possui similares em outros textos da
Escritura, diz respeito à vitória de Cristo na ressurreição, combinando-se com
o que Paulo diz em 1 Timóteo 3.16. Todavia, neste texto específico de 1 Pedro
3.19, o espírito vivificado ou vivificador pode ter mais significado se o
entendermos como a natureza divina do Redentor, antes de ele encarnar-se. Ele
vivia nesse estado de poder e não-limitação que contrasta com o estado de
fraqueza em que esteve nos dias de sua carne, e foi neste tempo de
não-limitação que ele foi e pregou aos espíritos em prisão, quando estes viviam
no tempo de Noé.11
Outro
texto utilizado para incrementar a descida ao hades é Lucas 23.43. Tradicionalmente, quem coloca uma
vírgula no versículo em questão o faz com o intuito de defender o sono da alma,
isto é, um estado de inconsciência post
mortem.
Todavia, os proponentes da “teoria da identificação” o fazem porque ficam em apuros.
Se Jesus disse “hoje estarás comigo no paraíso”, como conciliar a ideia de que
Cristo ficou padecendo três dias no Hades? Por isso pegam emprestada a ideia das Testemunhas
de Jeová e dos Adventistas do Sétimo dia, que traduzem Lucas 23.43 da seguinte
forma: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso”.
Tal
texto é muito bem interpretado por Hendrikssen, o qual explica que o ex-ladrão
fazia um pedido com expectativa longínqua, ao passo que Cristo mostra-lhe a
instantaneidade de sua obra salvífica. Não era necessário aguardar muito tempo,
a resposta era pontual: “hoje estarás comigo no paraíso”.12 A vírgula é descabida13 e só serviu para os defensores da morte espiritual
de Cristo darem um “tiro no pé”.
É
mister entender que Jesus não desceu ao inferno e tampouco tomou chaves das
mãos do diabo. A ideia de que o inferno é um local governado por Satanás e que
ele atormenta pessoas num caldeirão não passa de mera crendice popular. Não tem
apoio bíblico. Inferno (geena no
grego) é o local de tormento eterno (Mt 5.22,29,30) e é identificado com o lago
de fogo (Ap 20.14,15). Jesus desceu ao hades, correspondente grego de sheol (hebraico). Hades14 é um lugar temporário, enquanto geena é definitivo.
Considerações
finais
A
doutrina chamada neste artigo de “teoria da identificação” afeta seriamente a
cristologia e com maior perigo sua subárea, a expiação. Afirmar a morte
espiritual de Cristo é, além de uma heresia, uma ideia blasfema. Tais ensinos
não combinam com a ortodoxia e devem ser rejeitados pela comunidade cristã.
O
sacrifício de Cristo na cruz foi suficiente e eficiente, pois Ele (Jesus),
“subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus,
mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante
aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte [física], e morte de cruz” (Fp 2.6-8).
Por
falar em cruz, foi lá mesmo que Jesus riscou “o escrito de dívida que havia
contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário”, removendo-o do meio
de nós. Ainda na cruz, Jesus despojou “os principados e potestades, os exibiu
publicamente e deles triunfou” (Cl 2.14,15). Finalmente, na cruz, o Redentor
declarou decisivamente: “Está consumado” (Jo 19.30).
Notas
____________________________________
1 REILY, Duncan. A História da Igreja. Imprensa Metodista, 1993, p.46.
2 ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão, 1996, p. 58.
3 HAGIN, Kenneth. O Nome de Jesus. Graça Editorial, 1988, pp. 25-28.
4 KOPELAND Apud ROMEIRO, Paulo. Op. Cit., p. 59.
5 Is 53.9: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte.”
6 ROMEIRO. Op. Cit., pp. 60,61.
7 KENYON, E. W.. Realidades da nova criação: uma revelação da redenção. [s.n.: s. d.], pp. 51.
8 Idem. Identificação. [s.n.: s. d.], p. 13.
9 MCCONNELL, D. R.. A Differente Gospel. Hendrickson, 1988, pp. 126, 127.
10 A única observação a ser feita é sobre a interpretação da “descendit ad inferna” na tradição arminiana. Apesar da bibiografia usada pelo autor, não há uma interpretação unívoca na “tradição arminiana”. Muitos arminianos concordam com a exposição reformada que ele aborda no texto.
11 CAMPOS, Heber. “Descendit ad Inferna”: uma análise da expressão “desceu ao hades” no cristianismo histórico. Fides Reformata, 1999, 4/1.
12 HENDRIKSSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Cultura Cristã, 2003, volume 2, pp. 658,659.
13 Ver a argumentação de GEISLER, Norman; RHODES, Ron. Resposta às seitas. CPAD, 2001, pp. 249,250.
14 Sheol/Hades é uma esfera de divisão territorial dicotômica – salvos e perdidos (cf Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27.31), sendo que o espaço daqueles é chamado de “Paraíso” e “Seio de Abraão”. Ambos os territórios são separados por um “grande abismo” (Lc 16.26), mas quando Jesus subiu aos Céus, levou consigo os ocupantes do Paraíso (Ef 4.8-10), deixando o Sheol/Hades intacto.
1 REILY, Duncan. A História da Igreja. Imprensa Metodista, 1993, p.46.
2 ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão, 1996, p. 58.
3 HAGIN, Kenneth. O Nome de Jesus. Graça Editorial, 1988, pp. 25-28.
4 KOPELAND Apud ROMEIRO, Paulo. Op. Cit., p. 59.
5 Is 53.9: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte.”
6 ROMEIRO. Op. Cit., pp. 60,61.
7 KENYON, E. W.. Realidades da nova criação: uma revelação da redenção. [s.n.: s. d.], pp. 51.
8 Idem. Identificação. [s.n.: s. d.], p. 13.
9 MCCONNELL, D. R.. A Differente Gospel. Hendrickson, 1988, pp. 126, 127.
10 A única observação a ser feita é sobre a interpretação da “descendit ad inferna” na tradição arminiana. Apesar da bibiografia usada pelo autor, não há uma interpretação unívoca na “tradição arminiana”. Muitos arminianos concordam com a exposição reformada que ele aborda no texto.
11 CAMPOS, Heber. “Descendit ad Inferna”: uma análise da expressão “desceu ao hades” no cristianismo histórico. Fides Reformata, 1999, 4/1.
12 HENDRIKSSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Cultura Cristã, 2003, volume 2, pp. 658,659.
13 Ver a argumentação de GEISLER, Norman; RHODES, Ron. Resposta às seitas. CPAD, 2001, pp. 249,250.
14 Sheol/Hades é uma esfera de divisão territorial dicotômica – salvos e perdidos (cf Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27.31), sendo que o espaço daqueles é chamado de “Paraíso” e “Seio de Abraão”. Ambos os territórios são separados por um “grande abismo” (Lc 16.26), mas quando Jesus subiu aos Céus, levou consigo os ocupantes do Paraíso (Ef 4.8-10), deixando o Sheol/Hades intacto.
Marcadores:
Apologética Geral,
Seitas e Heresias,
Teologia da Pro$peridade
Servo do Deus Altíssimo, lavado e remido pelo Sangue do Cordeiro. Marido de uma mulher especial, Jaqueline e pai de dois filhos maravilhosos, Luís Otávio e Priscilla, presentes do Pai Celestial. Ministro da Igreja do Nazareno na cidade de Barroso, MG. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Castelo Branco, Bacharel em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, pós graduado em História da Teologia pela FaeteSF e em Ciência da Religião pela Universidade Cândido Mendes e Mestre em Ciências da Religião pelo Seminario Nazareno de las Americas de Costa Rica e mestrando em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. É palestrante nas áreas de apologética cristã, teologia sistemática, teologia arminiana e administração financeira doméstica, além de professor de Teologia Sistemática, articulista da Revista Defesa da Fé e autor dos livros “Os três Choros de José do Egito”, “A Verdade Sobre o G-12,” "Introdução à Teologia Armínio-wesleyana," "Culto cristão: origens, desenvolvimento e desafios contemporâneos" e "Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade."
O que é pecado original?*
Muitas pessoas pensam que o pecado original foi a relação
sexual entre Adão e Eva. Essa crendice popular cai por terra quando nos
deparamos com os textos de Gênesis 1.27,28 e 2.24: “Criou, pois, Deus o homem à
sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os
abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se arrastam sobre a terra.” “Portanto deixará o homem a seu pai
e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”.
Como se pode ver, ambos os textos nos remetem a um período
anterior à queda e são muito claros no tocante à relação sexual como sendo
aprovada por Deus dentro do casamento. Mesmo assim, algumas pessoas insistem em
ligar a imagem “do fruto proibido” com a maçã, combinando este mito com o sexo
do primeiro casal. Visto que tal ideia acabou de ser desmitificada perante a
Bíblia, resta a pergunta: o que é pecado original?
O que é pecado original?
Para responder a essa pergunta, reportar-nos-emos às três
principais linhas teológicas da ortodoxia cristã: reformada, wesleyana e
pentecostal clássica.
Louis Berkhof, teólogo reformado, explica que a doutrina foi
denominada “pecado original” por três motivos: (1) porque deriva-se da raiz
original da raça humana; (2) porque está presente na vida de todo e qualquer
indivíduo, desde a hora do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado
como resultado de imitação; e (3) porque é a raiz interna de todos os
pecados concretizados que corrompem a vida do homem.1
Orton Wiley, teólogo wesleyano, aceita a definição da Igreja
Anglicana: “O pecado original é o defeito e a corrupção de todo homem por meio
da qual o indivíduo está muito distanciado da retidão original e é, por sua
própria natureza, inclinado para o mal, de maneira que a carne sempre tem
desejos contrários ao Espírito; e, portanto, em cada pessoa nascida neste mundo
ele (o pecado original) merece a ira de Deus e a Sua condenação”.2
Bruce Marino, teólogo das Assembleias de Deus nos EUA,
declara que o pecado original é o ensino escriturístico de que o pecado adâmico
afetou a humanidade em 4 aspectos: solidariedade, corruptibilidade,
pecaminosidade e punitividade. No primeiro aspecto, Marino ressalta como a raça
humana está vinculada (ligada) a Adão; no segundo, ele enfatiza que o alcance
da queda é total e alude à total depravação; no terceiro ponto ele enfatiza a
universalidade do pecado, isto é, toda a humanidade foi atingida pela queda de
Adão; e no último, integrado aos demais pontos, ele mostra que baseado em tais
premissas, toda a raça humana é merecedora de castigo, inclusive as crianças,
assunto que abordaremos com mais calma adiante.3
Desta forma, podemos concluir que, o pecado original é a
herança pecaminosa que a humanidade adquiriu de Adão. É a propensão para o mal,
a inclinação para o pecado. Depois da queda, portanto, o homem passou a viver
com tendência intrínseca para o mal, nossa natureza foi corrompida e se tornou
propensa para o pecado. Elucidando ainda mais essa concepção, podemos citar
Sproul, presidente da ReformationBibleCollege e pastor auxiliar da Saint
Andrew’sChapel na cidade de Sanford,
na Flórida. Ele disse que não somos pecadores porque pecamos, mas que pecamos
porque somos pecadores, pois herdamos de Adão uma condição corrupta de
pecaminosidade.4
Quais são as origens dessa doutrina?
Embora alguns autores deem a Agostinho o primado por esse
ensino,5 podemos verificar com destreza que tal doutrina remonta ao período
apostólico. Apesar de tal nomenclatura não ser encontrada na Bíblia, seu
conceito é integralmente exposto nela, conforme podemos verificar nos axiomas
infracitados:
I) A herança de Adão: “Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
II) A universalidade do pecado: “Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
III) A solidariedade adâmica: “Porque, assim como por um
homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois
como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1
Co 15.21,22).
IV) A depravação total: “…já demonstramos que, tanto judeus
como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo,
nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se
extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem
um só” (Rm 3.9-12).
V) A punição da humanidade: “Ele vos vivificou, estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que
agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes
andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef
2.1-3).
Além dos textos bíblicos supracitados, há inúmeras passagens
que atestam o estado totalmente depravado do homem, sua inabilidade natural e,
consequentemente, a natureza corrompida da humanidade, bem como a
universalidade do pecado: Gn 8.21; Sl 51.5; Is 64.6,7; Jr 17.9; Jo 1.13,29;
3.5,6; 5.42; 6.44; 7.17-24; 8.34; 15.4,5; 16.8,9; Rm7.18,23,24; 8.7,8; 1 Co
2.14; 2 Co 3.5; Gl 5.17; Ef 2.1-3; 4.18; 8-10; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12;
11.6; 1 Jo 1.7,8.
Ainda que tenhamos evidências escriturísticas a esse respeito,
encontramos pessoas que questionam tal ideia, afirmando que o homem peca apenas
quando tem entendimento do bem e do mal, isto é, quando alcança a idade da
razão.6 Negar o pecado original significa dizer que o homem é bom em sua
essência e que nasce neutro, isto é, sem pecado. Tal busca pela
pedo-justificação acaba fazendo seus proponentes caírem numa antiga heresia,
condenada pelo cristianismo histórico: o pelagianismo.
Agostinho x Pelágio
Pelágiofoi um austero monge e popular professor em Roma. Sua
austeridade era puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia
de que o homem não podia deixar de pecar. Ele estava mais interessado na
conduta cristã e queria melhorar as condições morais de sua comunidade. Sua
ênfase particular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da
frivolidade do mundo, resvalando no ascetismo.7
Ele negava a ênfase de Tertuliano ao pecado original, sob a
argumentação de que o pecado é meramente voluntário e individual, não podendo
ser transmitido ou herdado. Para ele, crer no pecado original era minar a
responsabilidade pessoal do homem. Ele não concebia a ideia de que o pecado de
Adão tivesse afetado as almas e nem os corpos de seus descendentes. Assim como
Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador de seu próprio
caráter e determinador de seu próprio destino.
No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência
intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso
queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte
de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a
doutrina do pecado original.8 Para Pelágio, portanto, o
homem pecava por socialização e não pela natureza corrompida.
Agostinho, por sua vez, rebateu as ideias de Pelágio e
defendia a doutrina do pecado original. Para o Bispo de Hipona, uma vez que o
homem havia cedido ao pecado, a natureza humana foi afetada obscuramente pelas
consequências do mesmo, tornando-se desordenada e propensa para o mal. Sendo
assim, sem “a ajuda de Deus é impossível, pelo livre-arbítrio, vencer as
tentações desta vida”. Essa ajuda divina para escolher o certo, ou retornar
para Deus, era Sua graça, a qual Agostinho define como “um poder interno e
secreto, maravilhoso e inefável” operado por Deus nos corações dos homens.9
Após tal discussão, outro grupo quis equilibrar ambas as
posições e eles ficaram conhecidos como semi-pelagianos. Esta antiga heresia é
oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano
(433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o
pecado original, e Agostinho, que defendia que todos os homens nascem
espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão.10
Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se
voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural e
que “restou poder suficiente na
vontade depravada para dar o primeiro passo em direção à salvação, mas não o
suficiente para completá-la”.11 As ideias semi-pelagianas
foram condenadas pelo Segundo Concílio de Orange no ano de 529.
O que é depravação total?
Berkhof explica que “Em vista do seu caráter impregnante, a
corrupção herdada toma o nome de depravação total”.12 Mas o que vem a significar
essa expressão? A palavra depravação, segundo qualquer dicionário de português,
significa, nada mais nada menos, do que corrupção ou perversão. Como estaria o
homem não regenerado submetido a um estado de corrupção integral?
Ronald Hanko clareia o uso dessa expressão ao dizer que que
a palavra “depravação” associada ao uso de “total”, quer dizer três coisas: 1)
que todos os homens, exceto Jesus, são depravados e ímpios; 2) todos os atos,
pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções de todos os homens são
completamente ímpios aos olhos de Deus e 3) que todos os homens são ímpios em
sua totalidade (atos, pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções).13
Quando algumas pessoas leem essa definição, não compreendem
como um homem que nunca matou, nunca roubou e que nunca fez nenhum mal aparente
ao próximo, poderia, mesmo sendo não regenerado, ser enquadrado nesse estado.
Berkhof elucida essa questão explicando que, muitas vezes a
expressão “depravação total” é mal compreendida, e, portanto, requer cuidadosa
discriminação. Dessa forma, ele mostra que tal ensino, em consonância com o
pecado original, não afirma:“que todo homem é tão completamente depravado como
poderia chegar a ser” (cfLc 11.11-13), “que o pecado não tem nenhum
conhecimento inato de Deus, nem tampouco tem uma consciência que discerne entre
o bem e o mal”, “que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos
virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas
relações com os seus semelhantes” e nem “que todos os homens não regenerados,
em virtude da sua pecaminosidade inerente, se entregarão a todas as formas de
pecado”.14
Em contrapartida, a “depravação total” indica que “a
corrupção inerente abrange todas as partes da natureza do homem, todas as
faculdades e poderes da alma e do corpo” e que “absolutamente não há no pecador
bem espiritual algum, isto é, bem com relação a Deus, mas somente perversão”.15
Crianças estão debaixo do pecado original?
Mas, e as crianças? Elas também se encontram neste estado de
“depravação total”? Será que elas herdam de Adão a concupiscência e estão
debaixo do pecado original? Por mais que seja difícil para a mente humana
aceitar esse fato diante de uma criatura aparentemente inocente, é o que a
Bíblia afirma. As Escrituras não fazem distinções etárias: “… todos pecaram”
(Rm 3.23).
Uma criança já nasce com a inclinação para o pecado (Sl
51.5). Podemos testificar essa verdade empiricamente. Qual é o pai que ensina
seu filho de dois anos a mentir? Mesmo assim, quando tal criança apronta alguma
travessura, ela trata logo de mentir para se livrar da bronca. Quem ensina as
crianças a serem desobedientes, egoístas, briguentas, pirracentas e rebeldes?
Entretanto, naturalmente, essas mazelas aparecem livre e espontaneamente,
cabendo aos pais educar tais crianças. Essas atitudes caracterizam a inclinação
natural que o homem tem para o pecado.
Mas, e em relação à salvação das crianças?16 Este seria tema para outro
artigo, porém, visto que o assunto puxa automaticamente esse questionamento,
vale a pena comentar, ainda que de forma não confessional e panorâmica, visto
não ser esse o objetivo do presente artigo, que existem várias posições a esse
respeito na teologia, dentre as quais podemos destacar a eleição incondicional
dentro do calvinismo;17 o pedobatismo no sistema sacramentalista; a fé preconsciente; a
presciência de Deus a respeito de como a criança teria vivido, dentro de alguns
círculos arminianos; a graça preveniente na crença armínio-wesleyana; e a
graciosidade específica para crianças e incapazes.18
Considerações finais
A doutrina do pecado original é inquestionável. O homem
pende para o mal, inclina naturalmente para a carnalidade e suas decisões são
malévolas, embora não tão más quanto poderiam ser. Essa pecaminosidade deixou o
homem num estado de separação de Deus, totalmente depravado e morto em seus
delitos e pecados, o que torna-o por conseguinte, filho da ira. A Bíblia é
clara: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram”
(Rm 5.12).
Entretanto, há uma boa notícia, pois “não é assim o dom
gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito
mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou
para com muitos (…) assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também
veio a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso
Senhor” (vv. 15,21). Por Adão veio a morte, mas por Cristo a ressurreição! Por
Adão entrou o pecado, mas por Cristo a vivificação! O primeiro Adão, alma
vivente. Mas o último… Espírito vivificante!
Notas
_________________
* Artigo escrito para o Centro de Ensino Teológico Saber e Fé.
1BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã, 2012, p. 227.
2WILEY, Orton H. Introdução à teologia cristã. Casa Nazarena de publicações, 2009, pp. 187,188.
3 MARINO, Bruce. Origem, natureza e consequências do pecado. In: HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996, pp. 269-271.
4 SPROUL, R. C. Boa Pergunta! Cultura Cristã, 1999, p.98.
5 Conferir a expressão Péchéoriginel na EncyclopædiaUniversalis.
6 Conferir FISHER, Gary. As
Crianças nascem no pecado? Acesso
em 12 de Junho de 2014; Igreja Monte Sião. A natureza do pecado infantil e suas explicações. Acesso em 12 de Junho de 2014; RUFINO, Natan. Realidades da nova criação. Apostila.
7 MCGIFFERT, ArhurCushman. A Historyof Christian
Thought, Volume 2. Charles Scribner’s Sons, 1953, p. 125.
8 KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das
doutrinas centrais da fé cristã. Vida Nova, 1994, p. 270.
9 COUTO, Vinicius. Livre-arbítrio: uma introdução ao conceito histórico do arminianismo. Acesso em 12 de Junho de 2014.
10 KELLY, J. N. D. Op. Cit., pp. 289-291.
11 WILEY, H. Orton. Christian Theology. Beacon Hill Press, 1941. p.103.
12 BERKHOF, Louis. Op. Cit., p. 229.
13 HANKO, Ronald. DoctrineAccordingtoGodliness. 2004,
ReformedFreePublishingAssociation, pp. 113,114.
14 BERKHOF, Louis. Idem.
15 Vale a ressalva de que, tanto a teologia calvinista quanto a
teologia arminiana (clássica e wesleyana) acreditam na depravação total do
homem. As ideias de que o homem está doente espiritualmente e que ele foi
parcialmente afetado pelo pecado de Adão correspondem ao semi-pelagianismo,
heresia já comentada acima e que ganhou grande popularidade entre os
evangelicais através dos ensinos do avivalista Charles Finney. Atualmente
muitos cristãos que se intitulam arminianos defendem equivocadamente a ideia
semi-pelagiana da depravação parcial, confundindo esse ponto na teologia
arminiana. Para uma melhor compreensão da doutrina da depravação total,
conferir COUTO, Vinicius. Depravação Total. In: Couto, Vinicius. Introdução à Teologia
Armínio-Wesleyana. Reflexão, 2014, pp. 53-65.
16 As principais bases bíblicas para salvação das crianças são
2Sm 12.22,23; Mt 18.1-6 e 19.13-15.
17 Apesar da crença na eleição incondicional, alguns calvinistas interpretam-na de forma diferenciada em relação à salvação infantil e dos incapazes. A diferença não reside no fato da condicionalidade. Na visão dos que aceitam a salvação de todos os infantes, toda criança que morre era, na verdade, eleita. Nomes como John MacArthur, Charles Hodge, A. A. Hodge, J. Oliver Buswell, Charles Spurgeon, B. B. Warfield, e LoraineBoettner creem/criam que todos os que morrem na infância, bem como os mentalmente incapazes são salvos. Conferir em SANTOS, João Alves dos. Os que morrem na infância: são todos salvos? Uma avaliação teológico-confessional reformada. Fides Reformata, 1999, 4/2; MACARTHUR, John. A salvação dos bebês e outros “incapazes”. Acesso em 12 de Junho de 2014; SPURGEON, Charles. InfantSalvation. Sermão pregado na MetropolitanBaptistChurch em 29 de Setembro de 1861; LYONS, Gordon. Pecado original. Acesso em: 12 de Junho de 2014.
17 Apesar da crença na eleição incondicional, alguns calvinistas interpretam-na de forma diferenciada em relação à salvação infantil e dos incapazes. A diferença não reside no fato da condicionalidade. Na visão dos que aceitam a salvação de todos os infantes, toda criança que morre era, na verdade, eleita. Nomes como John MacArthur, Charles Hodge, A. A. Hodge, J. Oliver Buswell, Charles Spurgeon, B. B. Warfield, e LoraineBoettner creem/criam que todos os que morrem na infância, bem como os mentalmente incapazes são salvos. Conferir em SANTOS, João Alves dos. Os que morrem na infância: são todos salvos? Uma avaliação teológico-confessional reformada. Fides Reformata, 1999, 4/2; MACARTHUR, John. A salvação dos bebês e outros “incapazes”. Acesso em 12 de Junho de 2014; SPURGEON, Charles. InfantSalvation. Sermão pregado na MetropolitanBaptistChurch em 29 de Setembro de 1861; LYONS, Gordon. Pecado original. Acesso em: 12 de Junho de 2014.
18 MARINO, Bruce. Op. Cit., p. 271.
Marcadores:
Arminianismo
Servo do Deus Altíssimo, lavado e remido pelo Sangue do Cordeiro. Marido de uma mulher especial, Jaqueline e pai de dois filhos maravilhosos, Luís Otávio e Priscilla, presentes do Pai Celestial. Ministro da Igreja do Nazareno na cidade de Barroso, MG. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Castelo Branco, Bacharel em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, pós graduado em História da Teologia pela FaeteSF e em Ciência da Religião pela Universidade Cândido Mendes e Mestre em Ciências da Religião pelo Seminario Nazareno de las Americas de Costa Rica e mestrando em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. É palestrante nas áreas de apologética cristã, teologia sistemática, teologia arminiana e administração financeira doméstica, além de professor de Teologia Sistemática, articulista da Revista Defesa da Fé e autor dos livros “Os três Choros de José do Egito”, “A Verdade Sobre o G-12,” "Introdução à Teologia Armínio-wesleyana," "Culto cristão: origens, desenvolvimento e desafios contemporâneos" e "Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade."
Considerações bíblicas e exegéticas sobre o Livro da Vida
Introdução
Um dos
assuntos que fazem parte do rol de temas polêmicos do estudo das Escrituras
Sagradas é a respeito do que conhecemos como Livro da Vida. Existem pessoas que
não crêem na existência literal desse livro. Outros crêem que ele, de fato, é
real e que contém o nome das pessoas que serão salvas. Se esse livro existe,
quando foi escrito? Seria possível que ele ainda estivesse sendo escrito? Os
nomes inscritos nesse livro divino podem ser riscados ou eles possuem um
caráter inapagável? Essas dúvidas são corriqueiras em neófitos, mas também
deixam os mais eruditos estudiosos de cabelo em pé.
O objetivo
do presente artigo é apontar algumas considerações sobre o assunto, tendo como
ponto de partida o que a Bíblia fala a respeito. Na medida em que o assunto
avançar, serão realizadas algumas análises exegéticas do texto grego com a
finalidade de ampliar o entendimento acerca desse assunto tão importante.
Pretende-se com essas abordagens bíblicas e exegéticas, averiguar quando os
nomes foram escritos e pensar se tais nomes podem ou não ser riscados. Não
obstante, é preciso reconhecer que este é um dos temas da teologia que não
possui unanimidade e, portanto, não é objetivo deste ensaio chamar para si o
título de detentor da verdade.
Referências bíblicas do Livro da Vida
Antes de
mais nada, é mister reconhecer que a Bíblia referencia a existência de um livro
da vida. Em Filipenses 4.3 Paulo comenta que os cooperadores que lutaram ao seu
lado pela causa do Evangelho têm seus nomes escritos nesse livro. As demais
referências diretas do Novo Testamento estão concentradas no livro de
Apocalipse. No capítulo 3 e verso 15, Jesus diz que “O vencedor será igualmente
vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o
reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos.”
Em
Apocalipse 13.8 é possível ler que esse livro é do Cordeiro de Deus e que
algumas pessoas não tiveram o nome escrito nele. Em 17.8 a idéia anterior de
pessoas que não tiveram o nome inscrito neste livro é corroborada e aqui o
texto sugere que tal livro foi escrito desde a fundação do mundo, assunto que
será melhor abordado em seção adiante. Em 20.12 João tem uma visão na qual uma
massa de pessoas, i. e, uma multidão de mortos (grandes e pequenos) se
colocavam diante do trono e vê dois tipos de livros: um que provavelmente alude
ao modus vivendi desses indivíduos
enquanto estavam vivos e outro que ele denomina como “livro da vida.” O momento
apocalíptico dessa visão se refere ao juízo final e, portanto, as pessoas cujos
nomes não são encontrados no livro da vida, são condenadas ao lago de fogo.
No capítulo
21 João tem a visão da Nova Jerusalém. Ele a descreve como sendo um local muito
belo, com muralhas e ornamentações de pedras preciosas, além de ruas de ouro.
Lá não há sofrimento, choro, lágrimas, tristeza, dor e nem mesmo a morte. Não é
preciso de sol, pois Cristo é a luz que ilumina. Todavia, João alerta seus
leitores no versículo 27: “Nela jamais entrará algo impuro, nem ninguém que
pratique o que é vergonhoso ou enganoso, mas unicamente aqueles cujos nomes
estão escritos no livro da vida do Cordeiro.”
O Novo
Testamento ainda mostra mais duas passagens que podem ser relacionadas com o
citado livro da vida. A primeira passagem é Hebreus 12.22,23, onde o autor da
epístola alega que existe uma igreja dos primogênitos. Sua localização é
celestial e os detalhes desta localização corroboram com a visão que João teve
da Nova Jerusalém em Apocalipse 21. Os nomes dos membros dessa igreja celeste “estão
escritos nos céus” (Hb 12.23).
A segunda
passagem é um relato de Lucas a respeito de quando o Messias envia os
discípulos em dupla para um treinamento prático sobre proclamação do Evangelho.
Eles anunciaram as boas novas e voltaram maravilhados, pois coisas
extraordinárias aconteceram. “Os demônios se submetem a nós,” disseram eles
estupefatos com a autoridade que há no nome de Jesus. Mas, Jesus, ao
corrigir-lhes, declarou: “alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a
vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céu” (Lc 10.20).
Referências
sobre tal livro não se limitam aos escritos neotestamentários. Após a morte de
aproximadamente três mil israelitas no acampamento ao pé do monte Horebe,
Moisés sobe novamente no monte a fim de interceder pelo pecado de idolatria do
povo, quando confeccionaram um bezerro de ouro e blasfemaram dizendo que fora
este objeto feito por mãos humanas quem os livrou do Egito. A intercessão de
Moisés foi: “...perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que
escreveste.” Um pedido completamente ousado que trouxe uma resposta imediata do
Deus Todo-Poderoso: “Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim”
(Êx 32.32,33).
Num Salmo
de lamentação, Davi se rasga o coração diante de suas tribulações e
adversidades. Ele se sente atolado de problemas até o pescoço e alega estar
deixando a vida o levar, como alguém que é carregado pela correnteza. Quem
nunca se sentiu assim? Todavia, a partir do versículo 7 ele começa a revelar
uma das razões de sua profunda tristeza. Ele alega que suportava zombaria,
insultos, maledicências e o terrível fato de ter seu nome como objeto de
sarcasmo na boca dos bêbados da cidade. Isto posto, Davi clama pela justiça
divina, dizendo a respeito dos que o perseguiam: “Acrescenta-lhes pecado sobre
pecado; não os deixes alcançar a tua justiça. Sejam eles tirados do livro da
vida e não sejam incluídos no rol dos justo” (Sl 69.27,28).
Finalmente,
duas últimas passagens veterotestamentárias que podem fazer alguma alusão mais
indireta ao livro da vida são as visões que Daniel tem do juízo final e da
grande tribulação, respectivamente. No primeiro caso ele tem uma visão
semelhante à que João teve em Apocalipse 20.12 e vê tronos sendo postos num
lugar e um Ancião de vestes brancas como a neve e cabelos brancos como a lã.
Seu trono ardia em fogo e tinha a parte inferior incandescente, semelhantemente
aos pés como latão reluzente de Apocalipse. Daniel continua descrevendo essa
cena, dizendo que “saía um rio de fogo, de diante dele. Milhares de milhares o
serviam; milhões e milhões estavam diante dele. O tribunal iniciou o
julgamento, e os livros foram abertos” (Dn 7.10). No segundo caso, Daniel vê um
tempo de angústia como nunca houve na história humana e relata que neste tempo,
“ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto”
(Dn 12.1).
Quando os nomes são escritos nesse livro?
Algumas
pessoas usam Apocalipse 13.8 para apontar quando o livro da vida foi escrito,
entretanto, o texto em questão aponta para outra coisa. Antes de analisar a
passagem, é melhor citá-la: “Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a
saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do
Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.”
Como se
pode perceber, o apontamento temporal “desde a fundação do mundo” não está se
referindo, no contexto imediato desta passagem, ao livro da vida e sim a Jesus,
o cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Stern concorda com isso e
afirma que “Deus planejou a morte expiatória dele antes da criação do mundo.”[1] Não
que o livro aqui não tenha importância. Ele tem. João enfatiza que seu dono é o
Cordeiro! Outra informação importante é a ocorrência do verbo “Foi,” que no
grego é esphagmenou e está no tempo
aoristo, o que indica algo instantâneo.
Sobre o
tempo aoristo na gramática grega, Wiley comenta que, no nosso idioma “não há
tempo semelhante na conjugação verbal,” pois trata-se de algo que é feito de
modo instantâneo e de uma vez por todas e não gradativamente.[2] O
verbo no aoristo faz toda a diferença por dois motivos: 1) porque Jesus não foi
morto várias vezes! 2) porque o texto semelhante, localizado em Apocalipse
17.8, usa o verbo em outro tempo gramatical grego, que é o perfeito e isso no
contexto imediato aponta para outro lado, conforme será visto logo a seguir.
A fim de
analisar a passagem de Apocalipse 17.8, segue a citação da mesma: “A besta que você
viu, era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição.
Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a
criação do mundo, ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora
não é, e entretanto virá.”
A locução
prepositiva grega “apo kataboles kosmou”
significa “desde a fundação do mundo” e denota uma considerável diferença entre
“antes da fundação do mundo,” pois “desde” fala da inserção dos nomes a partir
da criação do mundo, i.e, desde Adão até os dias presentes, significando que
Deus está agindo no chronos,
inserindo os nomes no livro da vida a partir da conversão das pessoas. Em
outras palavras, isso sugere que, quando a pessoa responde positivamente à
graça preveniente, Deus opera neste indivíduo – que outrora estava morto em
seus delitos e pecados – a salvação, regenerando o tal.
Ademais, o
texto diz que “os nomes não estão escritos.” Esse “estão escritos” está
conjugado no tempo perfeito do grego e a palavra ali é gegraptai. O tempo perfeito é usado numa ação que foi completada no
passado e que está ocorrendo no presente. Esse tempo não tem correlato em
português. É como se os nomes fossem conhecidos no kairós (haja vista os atributos naturais e incomunicáveis de Deus,
a saber: onisciência e presciência), mas estivessem sendo escritos no chronos. É algo que versa sobre o
contraste entre o tempo cósmico e o humano; o sobrenatural e o natural; o
metafísico e o físico; o objetivo e o subjetivo; o atemporal e o temporal.
“O perfeito grego [é] um tempo gramatical
aberto à evocação simbólica do além tempo.” Trata-se de “um recurso bastante
singular” e peculiar do idioma grego. Esse recurso, o tempo perfeito, “exprime a
idéia de uma ação começada no passado, mas que continua.”[3]
Corrobora com isso Bréal ao comentar que “o perfeito grego conservou sempre na
sua significação qualquer coisa que faz dele um intermediário entre o passado e
o presente,” sendo usado “para designar uma
ação passada cujo resultado dura ainda.”[4]
Um exemplo
disso é a tradução do Salmo 2.7 na versão dos setenta (LXX – a septuaginta): “hyios mou eis y, egō sèmeron gegennèka se” ([tu és]
meu filho; eu hoje te gerei). O autor da carta aos hebreus interpreta esse
verso aplicando-o a Cristo por duas vezes (Hb 1.5; 5.5). O verbo gegennèka (gerei) está no perfeito
grego. A aplicação do Salmo 2.7 no Novo Testamento tem a ver com a ressurreição
de Cristo (cf. Atos 13.33). Na perspectiva do salmista, o Messias já havia sido
gerado (ressuscitado), mas ao mesmo tempo ainda não, pois seria um anacronismo,
afinal, o Verbo só encarnou séculos depois. Por isso, o fato estava consumado
na eternidade (kairós), porém, teria
uma ação efetiva e consolidada no decorrer do tempo humano (chronos).
Outro texto
que cabe aqui a análise exegética é Hebreus 12.22-24, que de acordo com a NVI
diz assim: “Mas vocês chegaram ao monte Sião, à Jerusalém celestial, à cidade
do Deus vivo. Chegaram aos milhares de milhares de anjos em alegre reunião, à
igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vocês chegaram a
Deus, juiz de todos os homens, aos espíritos dos justos aperfeiçoados”
O verbo
“chegaram,” logo no início do verso 22 é proselēlythate em grego.
Ele está no tempo perfeito e tem o sentido de algo que já acontecera, mas que
permanece ocorrendo. Deste modo, poderíamos dizer que o autor da epístola diz
aos hebreus crentes que eles já haviam chegado ao monte Sião, mas que continuam
a se aproximar.
No trecho
“cujos nomes estão escritos nos céus,” do verso 23, o verbo “estão” é apogegrammenōn no grego e
também está conjugado no tempo perfeito, dando o sentido de que os nomes estão
escritos desde uma era passada, mas permanecem sendo escritos numa relação
além-tempo e além-espaço, rompendo assim, com o presente mensurável e quantificável,
ligando-o, ao mesmo tempo com o presente atemporal e metafísico.
Gogues e
Talbot traduzem o versículo da seguinte maneira: “Mas vos começastes [e
continuais] a vos aproximar do Monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém
Celeste, de milhões de anjos – reunião festiva e Igreja dos primogênitos [tendo
começado e continuado a estar] inscritos nos céus – e de Deus, o juiz de todos
e dos espíritos dos justos [tendo começado e continuado a se] tornar perfeitos.”[5]
Um último
exemplo do tempo perfeito grego pode ser dado através do relato lucano acerca
de coisas ocorridas naqueles dias do ministério de Jesus. Em seu prólogo, Lucas
declara que “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se
cumpriram entre nós” (Lc 1.1). O verbo “cumpriram” ali é peplērophorēmenōn. Lucas
mostra que Jesus havia realizado muita coisa naquela região que se dedicou a
pesquisar e os atos de Cristo deixaram uma marca muito forte. As pessoas
entrevistadas por Lucas podiam sentir o efeito das palavras e dos milagres de
Jesus anos depois.
Não é assim
também entre nós? Quando tivemos o privilégio de conhecer a Cristo
verdadeiramente e entregamos nossas vidas a Ele, algo maravilhoso ocorreu: Ele
nos regenerou e ao mesmo tempo nos justificou e adotou. Todavia, essa
experiência com Cristo não foi tão somente posicional. Ela também tem seu
caráter gradativo. Simultaneamente com a regeneração, justificação e adoção,
fomos santificados. A experiência da santificação permanece em nós e só será
consumada, definitivamente, com a glorificação.
Os nomes podem ser riscados?
A Escritura
aponta para a possibilidade dos nomes serem riscados. O primeiro exemplo a ser
tomado é Apocalipse 3.5: “O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais
apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e
dos seus anjos.”
Como se
pode perceber, a promessa de não ter o nome riscado é para os que vencerem, i.
e., aqueles que perseverarem até o fim e que não se apostatarão. Parafraseando,
é como se Jesus estivesse dizendo “não apagarei o nome daqueles que vencerem,
daqueles que perseverarem até o fim.” Em contrapartida, é óbvia a dedução de
que se existem pessoas que perseverarão e vencerão, haverá pessoas que se
apostatarão e serão derrotadas.
O verbo
“riscar” é exaleipso e está conjugado
no tempo futuro. Algo que ainda será feito. Nomes ainda serão riscados por
Jesus enquanto outros não serão riscados e, por conseguinte, permanecerão
escritos no livro da vida. O verbo “riscar” usado no texto de Apocalipse 3
significa, em grego, aniquilar, apagar, cancelar. Tem a ver com passar tinta ou
cal a fim de apagar algo, ou com esfregar uma escrita e imprimir um selo em
alguma tabuleta de cera. Essa palavra era usada para se referir ao cancelamento
de obrigações e direitos.
Um modo
interessante de mostrar essa verdade é analisando o que Paulo disse em 2
Timóteo 4.7: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” A NVI
já traduz a palavra grega dromon como
“corrida,” mas a maioria das outras versões em português traduzem como
carreira. Essa ilustração de Paulo é interessante porque a vida cristã é
exatamente como uma corrida. Existe o ponto de partida (conversão), o trajeto
(vida cristã e santificação) e a chegada (glorificação). Alguns vão começar
essa corrida e não a terminarão, ficarão no meio do caminho e tristemente terão
seus nomes riscados do livro da vida.
Outro texto
prova da possibilidade de ter o nome riscado é a oração intrépida de Moisés. Conforme
já foi apontado mais no início do ensaio, Moisés subiu mais uma vez no monte a
fim de interceder pelo pecado de idolatria do povo israelita, pois eles
confeccionaram um bezerro de ouro e blasfemaram dizendo que fora este objeto
feito por mãos humanas quem os livrou do Egito. A intercessão de Moisés foi:
“...perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me
do teu livro que escreveste.” E a resposta de Deus, em seguida, foi: “Riscarei do meu livro todo aquele que
pecar contra mim” (Êx 32.32,33 – grifos meus).
Moisés não
faria uma oração dessas se ele não acreditasse na possibilidade de um nome ser
riscado do livro da vida. Outrossim, Deus não responderia essa oração afirmando
que risca somente os nomes daqueles que pecam contra ele, ou seja, daqueles que
vivem na prática contínua e habitual do pecado. Kistemaker alega que no Antigo
Testamento, a expressão “ser apagado do livro” significava “morrer.”[6]
Nessa concepção, Moisés teria dito a Deus, “perdoa o povo ou me mate.” Todavia,
Stern, que é um judeu messiânico, confirma que a crença judaica no episódio de
Moisés tinha a ver com a eternidade e não com a morte terrena e atesta, ainda,
que os judeus acreditam que “é possível sair da graça e ter o destino eterno
mudado de salvação para condenação.”[7]
Concluindo
essa seção, é interessante abordar mais uma vez o relato de Lucas a respeito de
quando o Messias enviou os discípulos de dois em dois em Seu treinamento
prático sobre proclamação do Evangelho. Esses discípulos anunciaram as boas
novas e voltaram maravilhados, pois coisas extraordinárias aconteceram. “Os
demônios se submetem a nós,” disseram eles estupefatos com a autoridade que há
no nome de Jesus. Mas, Jesus, ao corrigir-lhes, declarou: “alegrem-se, não
porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos
nos céu” (Lc 10.20).
Seria
possível um discípulo se desviar? Segundo
o dicionário VINE, discípulo é
um aprendiz, alguém que aprende com esforço, um seguidor, alguém que permanece nos
ensinos de seu mestre e finalmente, imitador. Jesus disse aos judeus que
creram em sua mensagem: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra,
verdadeiramente serão meus discípulos” (João 8.31). Observe que nesse texto há
uma condição: “se.” Somente aquele que permanece se torna um legítimo
discípulo. Em contrapartida, Jesus deixa claro com essas palavras que é
possível não permanecer, i. e., deixar de perseverar.
Existem
inúmeras exortações para que os crentes permaneçam e perseverem na presença do
Altíssimo, bem como avisos sobre o perigo e possibilidade de apostasia (Mt
10.22; 24.12,13; 1 Co 10.12; Gl 5.4; 2 Ts 2.15; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.14; Hb 8.9; 10.39;
Tg 5.19,20; 1 Pe 1.5; 2 Pe 2.20-22; 1 Jo 2.24; Ap 2.11). Seria estranho que Deus
colocasse advertências contra a apostasia se isso não fosse possível acontecer.
Deste modo, um discípulo que teve o nome escrito no livro da vida, ao se
apostatar da fé, terá seu nome riscado.
Pedro
comenta de obreiros que abandonaram o caminho reto, desviando-se dele (2 Pe
2.15). Ninguém abandona algo que não experimentou e vivenciou. E ninguém se
desvia de um caminho que não estava seguindo. O Apóstolo comenta, ainda, que
esses obreiros apóstatas chegaram a escapar das contaminações do mundo por meio
do conhecimento de Jesus, mas permitiram ser dominados de novo por essa vida
deliberadamente pecaminosa e estão piores do que estavam antes de se
converterem (v. 20). Ora, somente alguém que foi regenerado é que se torna
descontaminado (purificado ou santificado) do pecado. De acordo com a crítica
de Pedro, o que provocou essa descontaminação (libertação) do pecado é foi
conhecimento de Jesus, e João testifica isso em seu Evangelho (Jo 8.32).
Paulo
atesta essa verdade (de que o regenerado escapa das contaminações do mundo) ao
mostrar que quem nasce de novo é lavado, santificado e justificado (1 Co 6.11)
e que Cristo “nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”
(Tt 3.5). Jesus purifica sua igreja pelo lavar de água mediante a Palavra (Ef
5.26) e “se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar
para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras”
(Tt 2.14). A Bíblia declara que o sangue de Cristo purifica nossa consciência
de atos que levam à morte (Hb 9.14).
Deste modo,
Pedro conclui: “Teria sido melhor que não tivessem conhecido o caminho da
justiça, do que, depois de o terem conhecido, voltarem as costas para o santo
mandamento que lhes foi transmitido” (2 Pe 2.21). Tais apóstatas, na opinião
petrina, são como “o cão [que] voltou ao seu vômito” e como “a porca lavada
[que] voltou a revolver-se na lama” (v. 22).
Considerações finais
Após
refletir sobre o assunto, pode-se enumerar três informações coletadas a partir
da Bíblia em relação aos nomes do livro da vida:
1) Alguns
não tiveram o nome escrito;
2) Alguns
tiveram o nome escrito;
3) Alguns
dos que tiveram o nome escrito poderão tê-lo riscado, caso não perseverem.
Partindo
desses três pontos e de tudo o que foi considerado bíblica e exegeticamente
neste ensaio, é possível fazer uma analogia: é como se Deus tivesse uma espécie
de “cartório.” Quem nasce de novo tem seu nome registrado no livro da vida.
Quem continua morto (ou seja, que não se converte) nunca terá esse nome
escrito. Mas se esse que nasceu de novo se apostatar terá o nome apagado do
cartório de registros.
Referências
[1] STERN, David. Comentário
Judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2007, p. 900
[2] WILEY, Orton. Introdução à Teologia Cristã. Campinas:
CNP, 1990, pp. 353.
[3]
GOUGUES, Michel; TALBOT, Michel. Naquele
tempo.... Concepções e práticas daquele tempo. São Paulo: Loyola, 2004, p.
34.
[4] BRÉAL, Michel. Essai
de Sémantique. Paris: Hachete, 1924, p. 349.
[5] GOGUES; TALBOT.
Op. Cit., p. 36.
[6] KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004, p. 206.
[7] STERN, David. Op. Cit., p. 921.
Marcadores:
Arminianismo
Servo do Deus Altíssimo, lavado e remido pelo Sangue do Cordeiro. Marido de uma mulher especial, Jaqueline e pai de dois filhos maravilhosos, Luís Otávio e Priscilla, presentes do Pai Celestial. Ministro da Igreja do Nazareno na cidade de Barroso, MG. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Castelo Branco, Bacharel em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, pós graduado em História da Teologia pela FaeteSF e em Ciência da Religião pela Universidade Cândido Mendes e Mestre em Ciências da Religião pelo Seminario Nazareno de las Americas de Costa Rica e mestrando em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. É palestrante nas áreas de apologética cristã, teologia sistemática, teologia arminiana e administração financeira doméstica, além de professor de Teologia Sistemática, articulista da Revista Defesa da Fé e autor dos livros “Os três Choros de José do Egito”, “A Verdade Sobre o G-12,” "Introdução à Teologia Armínio-wesleyana," "Culto cristão: origens, desenvolvimento e desafios contemporâneos" e "Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância na contemporaneidade."
Assinar:
Postagens (Atom)