segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Prolegômenos - Introdução à Teologia


Quem são os Filhos de Deus em Gênesis 6?


Jesus Morreu Espiritualmente?

A doutrina que mais sofreu com interpretações equivocadas no decorrer da história da Igreja foi, sem sombra de dúvidas, a cristologia. Temos os primeiros indícios desses transtornos em uma das epístolas joaninas, ao nos depararmos com uma defesa da dupla natureza de Cristo, diante dos gnósticos que negavam a encarnação do verbo (1Jo 4.1-3). A discussão sobre a natureza de Cristo perdurou alguns séculos da era cristã. Ário, por exemplo, negava a divindade de Jesus e dizia que Ele era uma criação, ainda que a mais sublime. Tal controvérsia foi debatida no Concílio de Niceia, em 325 d.C., mas só foi solucionada definitivamente em Constantinopla, no ano de 381 d.C..
Apesar do desfecho triunfante sobre o arianismo em Constantinopla, uma nova heresia surgiria meio século depois. Dessa vez, a controvérsia cristológica tomaria nova versão em Nestório, que fora empossado como patriarca de Constantinopla em 428 d.C.. Ele dizia que, em Jesus, havia duas pessoas distintas e independentes, uma humana e outra divina. Suas ideias foram rebatidas e anatematizadas no Concílio de Éfeso em 431 d.C..
Em suma, podemos definir assim os três concílios supracitados: Niceia afirmou: Jesus é Deus; Constantinopla, por sua vez, declarou: Jesus é também plenamente homem; e finalmente Éfeso concluía com a união hipostática: Ele é plenamente Deus e plenamente homem, são duas naturezas integradas em uma única pessoa, a saber, Jesus Cristo.1
Além das controvérsias sobre a natureza de Cristo, houve alguma discussão sobre a expiação. Alguns diziam, equivocadamente, como foi o caso de Orígenes, que a expiação de Cristo fora um resgate pago a Satanás. Outros defenderam uma teoria mística, afirmando que Jesus venceu a própria natureza pecaminosa e que o conhecimento deste triunfo despertaria o ser humano. Isso sem contar aqueles que reduziram a expiação a um mero exemplo ou a uma influência moral.
Uma heresia contemporânea vinculada à expiação pode ser encontrada nos círculos do movimento neopentecostal. Proponentes como Hagin, Copeland e Milhomens ensinam que a expiação de Cristo só teria efeito pleno caso o Salvador morresse espiritualmente. Tal assunto tem sido palco de muitas dúvidas e confusões no meio evangélico, de modo que carece de maiores esclarecimentos. Diante do exposto, cabe a indagação: Jesus morreu espiritualmente?

Quais são os pressupostos para tal doutrina?
A ideia de que Cristo morreu espiritualmente é baseada em textos como 2 Coríntios 5.21; Mateus 27.46; Atos 13.33 e principalmente Salmo 16.10; Romanos 10.6,7; Efésios 4.8-10;  e 1 Pedro 3.18-20; 4.6. Romeiro resume essa doutrina da seguinte forma:

(…) ao morrer na cruz, Jesus recebeu uma natureza satânica, foi feito pecado, desceu ao inferno em nosso lugar e lá foi atormentado três dias e três noites pelo diabo. Jesus teve que morrer espiritualmente para pagar pelos pecados do homem no inferno, pois sua morte física e seu sangue derramado na cruz foram insuficientes para fazer a expiação. Depois de três dias no inferno, Jesus nasce de novo e derrota os poderes das trevas, completando no inferno a expiação que havia começado na cruz. O Jesus nascido de novo ressuscita e é elevado à mão direita do Pai. Hoje ele tem poder para devolver à Igreja tudo o que ela havia perdido para o diabo através da queda de Adão e Eva.2

Apesar das palavras assustadoras, podemos ver que Romeiro não está errado, visto que seus proponentes realmente fazem declarações consistentes com o que acabamos de ler. Kenneth Hagin, por exemplo, disse:

Seu espírito, seu homem interior, foi para o inferno em nosso lugar (…) A morte física não removeria os nossos pecados. Provou a morte por todo homem — a morte espiritual (…) A morte espiritual significa mais do que a separação de Deus. A morte espiritual significa ter a natureza de Satanás (…) Jesus se fez pecado. Seu espírito foi separado de Deus, e Ele desceu para o inferno em nosso lugar (…) Lá embaixo na masmorra do sofrimento — lá nos fundos do próprio inferno — Jesus satisfez as reivindicações da Justiça para todos nós (…) Deus no céu disse: ‘É suficiente’. Depois, O ressuscitou. Trouxe seu espírito e alma para cima, tirando-os do inferno.3

Kenneth Copeland, outro propagador do mesmo ensino comentou: “Uma vez que ele [Jesus] foi feito pecado, ele teve que pagar a pena pelo pecado. Teve de morrer espiritualmente, o que o levou às regiões dos perdidos, antes que ele pudesse nos redimir (…) Quando seu sangue foi derramado, ele não fez expiação”.4
Além dos dois proponentes já citados, vale citar uma representante nacional. Romeiro conta que Valnice Milhomens, fazendo um comentário de Isaías 53.9 5 durante um programa de televisão, afirmou que a palavra “morte”, no texto original, está no plural – “mortes” – o que significaria que Jesus morreu duas vezes, física e espiritualmente.6
Complementando todas essas informações, podemos citar E. W. Kenyon, o qual explica que a morte espiritual é “a natureza do adversário”7 e que, através dessa morte, Jesus se identificou com a humanidade. Segundo ele, Jesus tinha um corpo imortal e divino, não era como o corpo humano. Para que o sacrifício de Cristo fosse eficiente e eficazmente substitutivo, Jesus deveria morrer primeiro espiritualmente. “Era um corpo que não podia morrer até que o pecado possuísse o Seu espírito”.8

Jesus morreu espiritualmente?
Essa deveria ser uma pergunta retórica, visto que a Bíblia não abre nenhuma margem para uma resposta positiva. Apesar da obviedade, algumas interpretações inconsistentes têm sido propagadas e gerado dúvidas e confusões. Inequivocamente, Jesus não pode ter morrido espiritualmente e as razões são mais do que óbvias, conforme será explicado doravante.
Uma das argumentações para a morte espiritual de Jesus é a de que a ressurreição de Cristo deveria ser diferente das demais ocorridas no Novo Testamento, visto que o próprio Jesus operara três ressurreições. Entretanto, a diferença entre a ressurreição de Cristo e as de Lázaro, do filho da viúva de Naim e da filha de Jairo é que estes morreriam novamente, pois foi uma ressurreição para esta vida, ao passo que aquele, primícias dos que dormem, foi o primeiro a vencer a morte eternamente.
Os defensores da morte espiritual de Cristo desejam mostrar que, para que a expiação de Cristo fosse eficaz, Ele deveria morrer espiritualmente. O problema desta ideia é que “morte espiritual” pressupõe pecaminosidade. Portanto, Jesus teria que ter pecado para morrer espiritualmente. Lembrando as palavras supracitadas de Kenyon: “Era um corpo que não podia morrer até que o pecado possuísse o Seu espírito”.
McConnell explica que essa crença é uma interpretação grosseira do sacrifício substitutivo, cuja plataforma está em 2 Coríntios 5.21. Os sacrifícios realizados no Antigo Testamento tipificavam o que Jesus faria por nós, mas tais animais deveriam ser sem defeitos (cf Lv 4.3, 23, 32). “A pessoa que apresentava essas ofertas santas colocava a sua mão sobre os animais para simbolizar a transferência de seu pecado e culpa (Levítico 4.4, 24, 33). Essa transferência de pecado era simbólica e não literal”. McConnell assevera que “o animal sacrificial não se tornava pecado; o pecado era-lhe simbolicamente atribuído”.9
A teoria da expiação dos proponentes neopentecostais ainda não foi nomeada, mas pode facilmente ser catalogada como “teoria da identificação”. Assim como muitas teorias sobre a expiação não encontraram respaldo bíblico e foram consideradas como heréticas, a ideia de que Jesus se identificou com a humanidade e morreu espiritualmente segue a mesma trilha.
A Bíblia mostra que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23) e que toda humanidade pecou e está destituída da glória de Deus (Rm 3.23). Portanto, para que Jesus morresse espiritualmente, teria que ter pecado, o que contradiz a própria Escritura: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15 – grifos meus).
Pedro também disse: “(…) sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo (…)” (1Pe 1.18,19 – grifos meus). Não obstante, tal ideia vai de encontro com o que Paulo declarou: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (1Co 5.21 – grifos meus).
O que dizer da natureza diabólica? Teria Jesus assumido em sua suposta “morte espiritual” a natureza de Satanás? O próprio Cristo contradiz tal hipótese: “Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim” (Jo 14.30 – grifos meus).

Jesus desceu ao inferno?
Para dar mais sentido à “teoria da identificação”, seus proponentes afirmam que Jesus desceu ao inferno e que foi atormentado pelo diabo por três dias. De acordo com eles, somente depois de ter cumprido essa pena – que seria nossa – é que Jesus pregou aos espíritos em prisão, tomou as chaves das mãos do diabo e foi, em seguida, ressuscitado.
Apesar dessa ordo resurrectio proposta pelos defensores da morte espiritual de Cristo, o clássico texto petrino sobre a descida de Jesus ao hades é claro ao afirmar que Cristo morreu na carne, e não no espírito, e que foi vivificado antes de pregar aos espíritos em prisão, o que deixa um problema significativo para a interpretação de que Jesus ficou no hades sendo torturado ou pagando pelos nossos pecados:
“Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão” (1Pe 3.18,19 – grifos meus).
O Rev. Heber Campos explica o significado da expressão “vivificado no espírito” em uma excelente abordagem sobre a “descendit ad inferna”. O texto é um dos mais interessantes sobre o assunto, e esgota-o completamente.10 Vejamos o que diz o texto:

A expressão ‘vivificado em espírito’, que possui similares em outros textos da Escritura, diz respeito à vitória de Cristo na ressurreição, combinando-se com o que Paulo diz em 1 Timóteo 3.16. Todavia, neste texto específico de 1 Pedro 3.19, o espírito vivificado ou vivificador pode ter mais significado se o entendermos como a natureza divina do Redentor, antes de ele encarnar-se. Ele vivia nesse estado de poder e não-limitação que contrasta com o estado de fraqueza em que esteve nos dias de sua carne, e foi neste tempo de não-limitação que ele foi e pregou aos espíritos em prisão, quando estes viviam no tempo de Noé.11

Outro texto utilizado para incrementar a descida ao hades é Lucas 23.43. Tradicionalmente, quem coloca uma vírgula no versículo em questão o faz com o intuito de defender o sono da alma, isto é, um estado de inconsciência post mortem. Todavia, os proponentes da “teoria da identificação” o fazem porque ficam em apuros. Se Jesus disse “hoje estarás comigo no paraíso”, como conciliar a ideia de que Cristo ficou padecendo três dias no Hades? Por isso pegam emprestada a ideia das Testemunhas de Jeová e dos Adventistas do Sétimo dia, que traduzem Lucas 23.43 da seguinte forma: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso”.
Tal texto é muito bem interpretado por Hendrikssen, o qual explica que o ex-ladrão fazia um pedido com expectativa longínqua, ao passo que Cristo mostra-lhe a instantaneidade de sua obra salvífica. Não era necessário aguardar muito tempo, a resposta era pontual: “hoje estarás comigo no paraíso”.12 A vírgula é descabida13 e só serviu para os defensores da morte espiritual de Cristo darem um “tiro no pé”.
É mister entender que Jesus não desceu ao inferno e tampouco tomou chaves das mãos do diabo. A ideia de que o inferno é um local governado por Satanás e que ele atormenta pessoas num caldeirão não passa de mera crendice popular. Não tem apoio bíblico. Inferno (geena no grego) é o local de tormento eterno (Mt 5.22,29,30) e é identificado com o lago de fogo (Ap 20.14,15). Jesus desceu ao hades, correspondente grego de sheol (hebraico). Hades14 é um lugar temporário, enquanto geena é definitivo.

Considerações finais
A doutrina chamada neste artigo de “teoria da identificação” afeta seriamente a cristologia e com maior perigo sua subárea, a expiação. Afirmar a morte espiritual de Cristo é, além de uma heresia, uma ideia blasfema. Tais ensinos não combinam com a ortodoxia e devem ser rejeitados pela comunidade cristã.
O sacrifício de Cristo na cruz foi suficiente e eficiente, pois Ele (Jesus), “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte [física], e morte de cruz” (Fp 2.6-8).
Por falar em cruz, foi lá mesmo que Jesus riscou “o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário”, removendo-o do meio de nós. Ainda na cruz, Jesus despojou “os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou” (Cl 2.14,15). Finalmente, na cruz, o Redentor declarou decisivamente: “Está consumado” (Jo 19.30).

Notas
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1 REILY, Duncan. A História da Igreja. Imprensa Metodista, 1993, p.46.
2 ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. Mundo Cristão, 1996, p. 58.
3 HAGIN, Kenneth. O Nome de Jesus. Graça Editorial, 1988, pp. 25-28.
4 KOPELAND Apud ROMEIRO, Paulo. Op. Cit., p. 59.
5 Is 53.9: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte.”
6 ROMEIRO. Op. Cit., pp. 60,61.
7 KENYON, E. W.. Realidades da nova criação: uma revelação da redenção. [s.n.: s. d.], pp. 51.
8 Idem. Identificação. [s.n.: s. d.], p. 13.
9 MCCONNELL, D. R.. A Differente Gospel. Hendrickson, 1988, pp. 126, 127.
10 A única observação a ser feita é sobre a interpretação da “descendit ad inferna” na tradição arminiana. Apesar da bibiografia usada pelo autor, não há uma interpretação unívoca na “tradição arminiana”. Muitos arminianos concordam com a exposição reformada que ele aborda no texto.
11 CAMPOS, Heber. “Descendit ad Inferna”:  uma análise da expressão “desceu ao hades” no cristianismo histórico. Fides Reformata, 1999,  4/1.
12 HENDRIKSSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Cultura Cristã, 2003, volume 2, pp. 658,659.
13 Ver a argumentação de GEISLER, Norman; RHODES, Ron. Resposta às seitas. CPAD, 2001, pp. 249,250.
14 Sheol/Hades é uma esfera de divisão territorial dicotômica – salvos e perdidos (cf Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27.31), sendo que o espaço daqueles é chamado de “Paraíso” e “Seio de Abraão”. Ambos os territórios são separados por um “grande abismo” (Lc 16.26), mas quando Jesus subiu aos Céus, levou consigo os ocupantes do Paraíso (Ef 4.8-10), deixando o Sheol/Hades intacto.



O que é pecado original?*

Muitas pessoas pensam que o pecado original foi a relação sexual entre Adão e Eva. Essa crendice popular cai por terra quando nos deparamos com os textos de Gênesis 1.27,28 e 2.24: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” “Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”.
Como se pode ver, ambos os textos nos remetem a um período anterior à queda e são muito claros no tocante à relação sexual como sendo aprovada por Deus dentro do casamento. Mesmo assim, algumas pessoas insistem em ligar a imagem “do fruto proibido” com a maçã, combinando este mito com o sexo do primeiro casal. Visto que tal ideia acabou de ser desmitificada perante a Bíblia, resta a pergunta: o que é pecado original?

O que é pecado original?
Para responder a essa pergunta, reportar-nos-emos às três principais linhas teológicas da ortodoxia cristã: reformada, wesleyana e pentecostal clássica.
Louis Berkhof, teólogo reformado, explica que a doutrina foi denominada “pecado original” por três motivos: (1) porque deriva-se da raiz original da raça humana; (2) porque está presente na vida de todo e qualquer indivíduo, desde a hora do seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado como resultado de imitação;  e (3) porque é a raiz interna de todos os pecados concretizados que corrompem a vida do homem.1
Orton Wiley, teólogo wesleyano, aceita a definição da Igreja Anglicana: “O pecado original é o defeito e a corrupção de todo homem por meio da qual o indivíduo está muito distanciado da retidão original e é, por sua própria natureza, inclinado para o mal, de maneira que a carne sempre tem desejos contrários ao Espírito; e, portanto, em cada pessoa nascida neste mundo ele (o pecado original) merece a ira de Deus e a Sua condenação”.2
Bruce Marino, teólogo das Assembleias de Deus nos EUA, declara que o pecado original é o ensino escriturístico de que o pecado adâmico afetou a humanidade em 4 aspectos: solidariedade, corruptibilidade, pecaminosidade e punitividade. No primeiro aspecto, Marino ressalta como a raça humana está vinculada (ligada) a Adão; no segundo, ele enfatiza que o alcance da queda é total e alude à total depravação; no terceiro ponto ele enfatiza a universalidade do pecado, isto é, toda a humanidade foi atingida pela queda de Adão; e no último, integrado aos demais pontos, ele mostra que baseado em tais premissas, toda a raça humana é merecedora de castigo, inclusive as crianças, assunto que abordaremos com mais calma adiante.3
Desta forma, podemos concluir que, o pecado original é a herança pecaminosa que a humanidade adquiriu de Adão. É a propensão para o mal, a inclinação para o pecado. Depois da queda, portanto, o homem passou a viver com tendência intrínseca para o mal, nossa natureza foi corrompida e se tornou propensa para o pecado. Elucidando ainda mais essa concepção, podemos citar Sproul, presidente da ReformationBibleCollege e pastor auxiliar da Saint Andrew’sChapel na cidade de Sanford, na Flórida. Ele disse que não somos pecadores porque pecamos, mas que pecamos porque somos pecadores, pois herdamos de Adão uma condição corrupta de pecaminosidade.4

Quais são as origens dessa doutrina?
Embora alguns autores deem a Agostinho o primado por esse ensino,5 podemos verificar com destreza que tal doutrina remonta ao período apostólico. Apesar de tal nomenclatura não ser encontrada na Bíblia, seu conceito é integralmente exposto nela, conforme podemos verificar nos axiomas infracitados:
I) A herança de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
II) A universalidade do pecado: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
III) A solidariedade adâmica: “Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1 Co 15.21,22).
IV) A depravação total: “…já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.9-12).
V) A punição da humanidade: “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.1-3).
Além dos textos bíblicos supracitados, há inúmeras passagens que atestam o estado totalmente depravado do homem, sua inabilidade natural e, consequentemente, a natureza corrompida da humanidade, bem como a universalidade do pecado: Gn 8.21; Sl 51.5; Is 64.6,7; Jr 17.9; Jo 1.13,29; 3.5,6; 5.42; 6.44; 7.17-24; 8.34; 15.4,5; 16.8,9; Rm7.18,23,24; 8.7,8; 1 Co 2.14; 2 Co 3.5; Gl 5.17; Ef 2.1-3; 4.18; 8-10; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12; 11.6; 1 Jo 1.7,8.
Ainda que tenhamos evidências escriturísticas a esse respeito, encontramos pessoas que questionam tal ideia, afirmando que o homem peca apenas quando tem entendimento do bem e do mal, isto é, quando alcança a idade da razão.6 Negar o pecado original significa dizer que o homem é bom em sua essência e que nasce neutro, isto é, sem pecado. Tal busca pela pedo-justificação acaba fazendo seus proponentes caírem numa antiga heresia, condenada pelo cristianismo histórico: o pelagianismo.

Agostinho x Pelágio
Pelágiofoi um austero monge e popular professor em Roma. Sua austeridade era puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia de que o homem não podia deixar de pecar. Ele estava mais interessado na conduta cristã e queria melhorar as condições morais de sua comunidade. Sua ênfase particular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da frivolidade do mundo, resvalando no ascetismo.7
Ele negava a ênfase de Tertuliano ao pecado original, sob a argumentação de que o pecado é meramente voluntário e individual, não podendo ser transmitido ou herdado. Para ele, crer no pecado original era minar a responsabilidade pessoal do homem. Ele não concebia a ideia de que o pecado de Adão tivesse afetado as almas e nem os corpos de seus descendentes. Assim como Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador de seu próprio caráter e determinador de seu próprio destino.
No entendimento pelagiano, o homem não possui uma tendência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do pecado original.8 Para Pelágio, portanto, o homem pecava por socialização e não pela natureza corrompida.
Agostinho, por sua vez, rebateu as ideias de Pelágio e defendia a doutrina do pecado original. Para o Bispo de Hipona, uma vez que o homem havia cedido ao pecado, a natureza humana foi afetada obscuramente pelas consequências do mesmo, tornando-se desordenada e propensa para o mal. Sendo assim, sem “a ajuda de Deus é impossível, pelo livre-arbítrio, vencer as tentações desta vida”. Essa ajuda divina para escolher o certo, ou retornar para Deus, era Sua graça, a qual Agostinho define como “um poder interno e secreto, maravilhoso e inefável” operado por Deus nos corações dos homens.9
Após tal discussão, outro grupo quis equilibrar ambas as posições e eles ficaram conhecidos como semi-pelagianos. Esta antiga heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principalmente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, que defendia que todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do pecado de Adão.10
Cassiano acreditava que as pessoas são capazes de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da graça sobrenatural e que “restou poder suficiente na vontade depravada para dar o primeiro passo em direção à salvação, mas não o suficiente para completá-la”.11 As ideias semi-pelagianas foram condenadas pelo Segundo Concílio de Orange no ano de 529.

O que é depravação total?
Berkhof explica que “Em vista do seu caráter impregnante, a corrupção herdada toma o nome de depravação total”.12 Mas o que vem a significar essa expressão? A palavra depravação, segundo qualquer dicionário de português, significa, nada mais nada menos, do que corrupção ou perversão. Como estaria o homem não regenerado submetido a um estado de corrupção integral?
Ronald Hanko clareia o uso dessa expressão ao dizer que que a palavra “depravação” associada ao uso de “total”, quer dizer três coisas: 1) que todos os homens, exceto Jesus, são depravados e ímpios; 2) todos os atos, pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções de todos os homens são completamente ímpios aos olhos de Deus e 3) que todos os homens são ímpios em sua totalidade (atos, pensamentos, vontades, desejos, escolhas e emoções).13
Quando algumas pessoas leem essa definição, não compreendem como um homem que nunca matou, nunca roubou e que nunca fez nenhum mal aparente ao próximo, poderia, mesmo sendo não regenerado, ser enquadrado nesse estado.
Berkhof elucida essa questão explicando que, muitas vezes a expressão “depravação total” é mal compreendida, e, portanto, requer cuidadosa discriminação. Dessa forma, ele mostra que tal ensino, em consonância com o pecado original, não afirma:“que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser” (cfLc 11.11-13), “que o pecado não tem nenhum conhecimento inato de Deus, nem tampouco tem uma consciência que discerne entre o bem e o mal”, “que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas relações com os seus semelhantes” e nem “que todos os homens não regenerados, em virtude da sua pecaminosidade inerente, se entregarão a todas as formas de pecado”.14
Em contrapartida, a “depravação total” indica que “a corrupção inerente abrange todas as partes da natureza do homem, todas as faculdades e poderes da alma e do corpo” e que “absolutamente não há no pecador bem espiritual algum, isto é, bem com relação a Deus, mas somente perversão”.15

Crianças estão debaixo do pecado original?
Mas, e as crianças? Elas também se encontram neste estado de “depravação total”? Será que elas herdam de Adão a concupiscência e estão debaixo do pecado original? Por mais que seja difícil para a mente humana aceitar esse fato diante de uma criatura aparentemente inocente, é o que a Bíblia afirma. As Escrituras não fazem distinções etárias: “… todos pecaram” (Rm 3.23).
Uma criança já nasce com a inclinação para o pecado (Sl 51.5). Podemos testificar essa verdade empiricamente. Qual é o pai que ensina seu filho de dois anos a mentir? Mesmo assim, quando tal criança apronta alguma travessura, ela trata logo de mentir para se livrar da bronca. Quem ensina as crianças a serem desobedientes, egoístas, briguentas, pirracentas e rebeldes? Entretanto, naturalmente, essas mazelas aparecem livre e espontaneamente, cabendo aos pais educar tais crianças. Essas atitudes caracterizam a inclinação natural que o homem tem para o pecado.
Mas, e em relação à salvação das crianças?16 Este seria tema para outro artigo, porém, visto que o assunto puxa automaticamente esse questionamento, vale a pena comentar, ainda que de forma não confessional e panorâmica, visto não ser esse o objetivo do presente artigo, que existem várias posições a esse respeito na teologia, dentre as quais podemos destacar a eleição incondicional dentro do calvinismo;17 o pedobatismo no sistema sacramentalista; a fé preconsciente; a presciência de Deus a respeito de como a criança teria vivido, dentro de alguns círculos arminianos; a graça preveniente na crença armínio-wesleyana; e a graciosidade específica para crianças e incapazes.18

Considerações finais
A doutrina do pecado original é inquestionável. O homem pende para o mal, inclina naturalmente para a carnalidade e suas decisões são malévolas, embora não tão más quanto poderiam ser. Essa pecaminosidade deixou o homem num estado de separação de Deus, totalmente depravado e morto em seus delitos e pecados, o que torna-o por conseguinte, filho da ira. A Bíblia é clara: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
Entretanto, há uma boa notícia, pois “não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou para com muitos (…) assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também veio a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (vv. 15,21). Por Adão veio a morte, mas por Cristo a ressurreição! Por Adão entrou o pecado, mas por Cristo a vivificação! O primeiro Adão, alma vivente. Mas o último… Espírito vivificante!

Notas
_________________
* Artigo escrito para o Centro de Ensino Teológico Saber e Fé.
1BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã, 2012, p. 227.
2WILEY, Orton H. Introdução à teologia cristã. Casa Nazarena de publicações, 2009, pp. 187,188.
3 MARINO, Bruce. Origem, natureza e consequências do pecado. In: HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996, pp. 269-271.
4 SPROUL, R. C. Boa Pergunta! Cultura Cristã, 1999, p.98.
5 Conferir a expressão Péchéoriginel na EncyclopædiaUniversalis.
6 Conferir FISHER, Gary. As Crianças nascem no pecado? Acesso em 12 de Junho de 2014; Igreja Monte Sião. A natureza do pecado infantil e suas explicações. Acesso em 12 de Junho de 2014; RUFINO, Natan. Realidades da nova criação. Apostila.
7 MCGIFFERT, ArhurCushman. A Historyof Christian Thought, Volume 2. Charles Scribner’s Sons, 1953, p. 125.
8 KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. Vida Nova, 1994, p. 270.
9 COUTO, Vinicius. Livre-arbítrio: uma introdução ao conceito histórico do arminianismo. Acesso em 12 de Junho de 2014.
10 KELLY, J. N. D. Op. Cit., pp. 289-291.
11 WILEY, H. Orton. Christian Theology. Beacon Hill Press, 1941. p.103.
12 BERKHOF, Louis. Op. Cit., p. 229.
13 HANKO, Ronald. DoctrineAccordingtoGodliness. 2004, ReformedFreePublishingAssociation, pp. 113,114.
14 BERKHOF, Louis. Idem.
15 Vale a ressalva de que, tanto a teologia calvinista quanto a teologia arminiana (clássica e wesleyana) acreditam na depravação total do homem. As ideias de que o homem está doente espiritualmente e que ele foi parcialmente afetado pelo pecado de Adão correspondem ao semi-pelagianismo, heresia já comentada acima e que ganhou grande popularidade entre os evangelicais através dos ensinos do avivalista Charles Finney. Atualmente muitos cristãos que se intitulam arminianos defendem equivocadamente a ideia semi-pelagiana da depravação parcial, confundindo esse ponto na teologia arminiana. Para uma melhor compreensão da doutrina da depravação total, conferir COUTO, Vinicius. Depravação Total. In: Couto, Vinicius. Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana. Reflexão, 2014, pp. 53-65.
16 As principais bases bíblicas para salvação das crianças são 2Sm 12.22,23; Mt 18.1-6 e 19.13-15.
17 Apesar da crença na eleição incondicional, alguns calvinistas interpretam-na de forma diferenciada em relação à salvação infantil e dos incapazes. A diferença não reside no fato da condicionalidade. Na visão dos que aceitam a salvação de todos os infantes, toda criança que morre era, na verdade, eleita. Nomes como John MacArthur, Charles Hodge, A. A. Hodge, J. Oliver Buswell, Charles Spurgeon, B. B. Warfield, e LoraineBoettner creem/criam que todos os que morrem na infância, bem como os mentalmente incapazes são salvos. Conferir em SANTOS, João Alves dos. Os que morrem na infância: são todos salvos? Uma avaliação teológico-confessional reformada. Fides Reformata, 1999, 4/2; MACARTHUR, John. A salvação dos bebês e outros “incapazes”. Acesso em 12 de Junho de 2014; SPURGEON, Charles. InfantSalvation. Sermão pregado na MetropolitanBaptistChurch em 29 de Setembro de 1861; LYONS, Gordon. Pecado original. Acesso em: 12 de Junho de 2014.
18 MARINO, Bruce. Op. Cit., p. 271.



Considerações bíblicas e exegéticas sobre o Livro da Vida

Introdução
Um dos assuntos que fazem parte do rol de temas polêmicos do estudo das Escrituras Sagradas é a respeito do que conhecemos como Livro da Vida. Existem pessoas que não crêem na existência literal desse livro. Outros crêem que ele, de fato, é real e que contém o nome das pessoas que serão salvas. Se esse livro existe, quando foi escrito? Seria possível que ele ainda estivesse sendo escrito? Os nomes inscritos nesse livro divino podem ser riscados ou eles possuem um caráter inapagável? Essas dúvidas são corriqueiras em neófitos, mas também deixam os mais eruditos estudiosos de cabelo em pé.
O objetivo do presente artigo é apontar algumas considerações sobre o assunto, tendo como ponto de partida o que a Bíblia fala a respeito. Na medida em que o assunto avançar, serão realizadas algumas análises exegéticas do texto grego com a finalidade de ampliar o entendimento acerca desse assunto tão importante. Pretende-se com essas abordagens bíblicas e exegéticas, averiguar quando os nomes foram escritos e pensar se tais nomes podem ou não ser riscados. Não obstante, é preciso reconhecer que este é um dos temas da teologia que não possui unanimidade e, portanto, não é objetivo deste ensaio chamar para si o título de detentor da verdade.

Referências bíblicas do Livro da Vida
Antes de mais nada, é mister reconhecer que a Bíblia referencia a existência de um livro da vida. Em Filipenses 4.3 Paulo comenta que os cooperadores que lutaram ao seu lado pela causa do Evangelho têm seus nomes escritos nesse livro. As demais referências diretas do Novo Testamento estão concentradas no livro de Apocalipse. No capítulo 3 e verso 15, Jesus diz que “O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos.”
Em Apocalipse 13.8 é possível ler que esse livro é do Cordeiro de Deus e que algumas pessoas não tiveram o nome escrito nele. Em 17.8 a idéia anterior de pessoas que não tiveram o nome inscrito neste livro é corroborada e aqui o texto sugere que tal livro foi escrito desde a fundação do mundo, assunto que será melhor abordado em seção adiante. Em 20.12 João tem uma visão na qual uma massa de pessoas, i. e, uma multidão de mortos (grandes e pequenos) se colocavam diante do trono e vê dois tipos de livros: um que provavelmente alude ao modus vivendi desses indivíduos enquanto estavam vivos e outro que ele denomina como “livro da vida.” O momento apocalíptico dessa visão se refere ao juízo final e, portanto, as pessoas cujos nomes não são encontrados no livro da vida, são condenadas ao lago de fogo.
No capítulo 21 João tem a visão da Nova Jerusalém. Ele a descreve como sendo um local muito belo, com muralhas e ornamentações de pedras preciosas, além de ruas de ouro. Lá não há sofrimento, choro, lágrimas, tristeza, dor e nem mesmo a morte. Não é preciso de sol, pois Cristo é a luz que ilumina. Todavia, João alerta seus leitores no versículo 27: “Nela jamais entrará algo impuro, nem ninguém que pratique o que é vergonhoso ou enganoso, mas unicamente aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro.”
O Novo Testamento ainda mostra mais duas passagens que podem ser relacionadas com o citado livro da vida. A primeira passagem é Hebreus 12.22,23, onde o autor da epístola alega que existe uma igreja dos primogênitos. Sua localização é celestial e os detalhes desta localização corroboram com a visão que João teve da Nova Jerusalém em Apocalipse 21. Os nomes dos membros dessa igreja celeste “estão escritos nos céus” (Hb 12.23).
A segunda passagem é um relato de Lucas a respeito de quando o Messias envia os discípulos em dupla para um treinamento prático sobre proclamação do Evangelho. Eles anunciaram as boas novas e voltaram maravilhados, pois coisas extraordinárias aconteceram. “Os demônios se submetem a nós,” disseram eles estupefatos com a autoridade que há no nome de Jesus. Mas, Jesus, ao corrigir-lhes, declarou: “alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céu” (Lc 10.20).
Referências sobre tal livro não se limitam aos escritos neotestamentários. Após a morte de aproximadamente três mil israelitas no acampamento ao pé do monte Horebe, Moisés sobe novamente no monte a fim de interceder pelo pecado de idolatria do povo, quando confeccionaram um bezerro de ouro e blasfemaram dizendo que fora este objeto feito por mãos humanas quem os livrou do Egito. A intercessão de Moisés foi: “...perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que escreveste.” Um pedido completamente ousado que trouxe uma resposta imediata do Deus Todo-Poderoso: “Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim” (Êx 32.32,33).
Num Salmo de lamentação, Davi se rasga o coração diante de suas tribulações e adversidades. Ele se sente atolado de problemas até o pescoço e alega estar deixando a vida o levar, como alguém que é carregado pela correnteza. Quem nunca se sentiu assim? Todavia, a partir do versículo 7 ele começa a revelar uma das razões de sua profunda tristeza. Ele alega que suportava zombaria, insultos, maledicências e o terrível fato de ter seu nome como objeto de sarcasmo na boca dos bêbados da cidade. Isto posto, Davi clama pela justiça divina, dizendo a respeito dos que o perseguiam: “Acrescenta-lhes pecado sobre pecado; não os deixes alcançar a tua justiça. Sejam eles tirados do livro da vida e não sejam incluídos no rol dos justo” (Sl 69.27,28).
Finalmente, duas últimas passagens veterotestamentárias que podem fazer alguma alusão mais indireta ao livro da vida são as visões que Daniel tem do juízo final e da grande tribulação, respectivamente. No primeiro caso ele tem uma visão semelhante à que João teve em Apocalipse 20.12 e vê tronos sendo postos num lugar e um Ancião de vestes brancas como a neve e cabelos brancos como a lã. Seu trono ardia em fogo e tinha a parte inferior incandescente, semelhantemente aos pés como latão reluzente de Apocalipse. Daniel continua descrevendo essa cena, dizendo que “saía um rio de fogo, de diante dele. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões estavam diante dele. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos” (Dn 7.10). No segundo caso, Daniel vê um tempo de angústia como nunca houve na história humana e relata que neste tempo, “ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto” (Dn 12.1).

Quando os nomes são escritos nesse livro?
Algumas pessoas usam Apocalipse 13.8 para apontar quando o livro da vida foi escrito, entretanto, o texto em questão aponta para outra coisa. Antes de analisar a passagem, é melhor citá-la: “Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.”
Como se pode perceber, o apontamento temporal “desde a fundação do mundo” não está se referindo, no contexto imediato desta passagem, ao livro da vida e sim a Jesus, o cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Stern concorda com isso e afirma que “Deus planejou a morte expiatória dele antes da criação do mundo.”[1] Não que o livro aqui não tenha importância. Ele tem. João enfatiza que seu dono é o Cordeiro! Outra informação importante é a ocorrência do verbo “Foi,” que no grego é esphagmenou e está no tempo aoristo, o que indica algo instantâneo.
Sobre o tempo aoristo na gramática grega, Wiley comenta que, no nosso idioma “não há tempo semelhante na conjugação verbal,” pois trata-se de algo que é feito de modo instantâneo e de uma vez por todas e não gradativamente.[2] O verbo no aoristo faz toda a diferença por dois motivos: 1) porque Jesus não foi morto várias vezes! 2) porque o texto semelhante, localizado em Apocalipse 17.8, usa o verbo em outro tempo gramatical grego, que é o perfeito e isso no contexto imediato aponta para outro lado, conforme será visto logo a seguir.
A fim de analisar a passagem de Apocalipse 17.8, segue a citação da mesma: “A besta que você viu, era e já não é. Ela está para subir do abismo e caminha para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no livro da vida desde a criação do mundo, ficarão admirados quando virem a besta, porque ela era, agora não é, e entretanto virá.”
A locução prepositiva grega “apo kataboles kosmou” significa “desde a fundação do mundo” e denota uma considerável diferença entre “antes da fundação do mundo,” pois “desde” fala da inserção dos nomes a partir da criação do mundo, i.e, desde Adão até os dias presentes, significando que Deus está agindo no chronos, inserindo os nomes no livro da vida a partir da conversão das pessoas. Em outras palavras, isso sugere que, quando a pessoa responde positivamente à graça preveniente, Deus opera neste indivíduo – que outrora estava morto em seus delitos e pecados – a salvação, regenerando o tal.
Ademais, o texto diz que “os nomes não estão escritos.” Esse “estão escritos” está conjugado no tempo perfeito do grego e a palavra ali é gegraptai. O tempo perfeito é usado numa ação que foi completada no passado e que está ocorrendo no presente. Esse tempo não tem correlato em português. É como se os nomes fossem conhecidos no kairós (haja vista os atributos naturais e incomunicáveis de Deus, a saber: onisciência e presciência), mas estivessem sendo escritos no chronos. É algo que versa sobre o contraste entre o tempo cósmico e o humano; o sobrenatural e o natural; o metafísico e o físico; o objetivo e o subjetivo; o atemporal e o temporal.
 “O perfeito grego [é] um tempo gramatical aberto à evocação simbólica do além tempo.” Trata-se de “um recurso bastante singular” e peculiar do idioma grego. Esse recurso, o tempo perfeito, “exprime a idéia de uma ação começada no passado, mas que continua.”[3] Corrobora com isso Bréal ao comentar que “o perfeito grego conservou sempre na sua significação qualquer coisa que faz dele um intermediário entre o passado e o presente,” sendo usado “para designar uma ação passada cujo resultado dura ainda.”[4]
Um exemplo disso é a tradução do Salmo 2.7 na versão dos setenta (LXX – a septuaginta): “hyios mou eis y, egō sèmeron gegennèka se” ([tu és] meu filho; eu hoje te gerei). O autor da carta aos hebreus interpreta esse verso aplicando-o a Cristo por duas vezes (Hb 1.5; 5.5). O verbo gegennèka (gerei) está no perfeito grego. A aplicação do Salmo 2.7 no Novo Testamento tem a ver com a ressurreição de Cristo (cf. Atos 13.33). Na perspectiva do salmista, o Messias já havia sido gerado (ressuscitado), mas ao mesmo tempo ainda não, pois seria um anacronismo, afinal, o Verbo só encarnou séculos depois. Por isso, o fato estava consumado na eternidade (kairós), porém, teria uma ação efetiva e consolidada no decorrer do tempo humano (chronos).
Outro texto que cabe aqui a análise exegética é Hebreus 12.22-24, que de acordo com a NVI diz assim: “Mas vocês chegaram ao monte Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo. Chegaram aos milhares de milhares de anjos em alegre reunião, à igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vocês chegaram a Deus, juiz de todos os homens, aos espíritos dos justos aperfeiçoados”
O verbo “chegaram,” logo no início do verso 22 é proselēlythate em grego. Ele está no tempo perfeito e tem o sentido de algo que já acontecera, mas que permanece ocorrendo. Deste modo, poderíamos dizer que o autor da epístola diz aos hebreus crentes que eles já haviam chegado ao monte Sião, mas que continuam a se aproximar.
No trecho “cujos nomes estão escritos nos céus,” do verso 23, o verbo “estão” é apogegrammenōn no grego e também está conjugado no tempo perfeito, dando o sentido de que os nomes estão escritos desde uma era passada, mas permanecem sendo escritos numa relação além-tempo e além-espaço, rompendo assim, com o presente mensurável e quantificável, ligando-o, ao mesmo tempo com o presente atemporal e metafísico.
Gogues e Talbot traduzem o versículo da seguinte maneira: “Mas vos começastes [e continuais] a vos aproximar do Monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém Celeste, de milhões de anjos – reunião festiva e Igreja dos primogênitos [tendo começado e continuado a estar] inscritos nos céus – e de Deus, o juiz de todos e dos espíritos dos justos [tendo começado e continuado a se] tornar perfeitos.”[5]
Um último exemplo do tempo perfeito grego pode ser dado através do relato lucano acerca de coisas ocorridas naqueles dias do ministério de Jesus. Em seu prólogo, Lucas declara que “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós” (Lc 1.1). O verbo “cumpriram” ali é peplērophorēmenōn. Lucas mostra que Jesus havia realizado muita coisa naquela região que se dedicou a pesquisar e os atos de Cristo deixaram uma marca muito forte. As pessoas entrevistadas por Lucas podiam sentir o efeito das palavras e dos milagres de Jesus anos depois.
Não é assim também entre nós? Quando tivemos o privilégio de conhecer a Cristo verdadeiramente e entregamos nossas vidas a Ele, algo maravilhoso ocorreu: Ele nos regenerou e ao mesmo tempo nos justificou e adotou. Todavia, essa experiência com Cristo não foi tão somente posicional. Ela também tem seu caráter gradativo. Simultaneamente com a regeneração, justificação e adoção, fomos santificados. A experiência da santificação permanece em nós e só será consumada, definitivamente, com a glorificação.

Os nomes podem ser riscados?
A Escritura aponta para a possibilidade dos nomes serem riscados. O primeiro exemplo a ser tomado é Apocalipse 3.5: “O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos.”
Como se pode perceber, a promessa de não ter o nome riscado é para os que vencerem, i. e., aqueles que perseverarem até o fim e que não se apostatarão. Parafraseando, é como se Jesus estivesse dizendo “não apagarei o nome daqueles que vencerem, daqueles que perseverarem até o fim.” Em contrapartida, é óbvia a dedução de que se existem pessoas que perseverarão e vencerão, haverá pessoas que se apostatarão e serão derrotadas.
O verbo “riscar” é exaleipso e está conjugado no tempo futuro. Algo que ainda será feito. Nomes ainda serão riscados por Jesus enquanto outros não serão riscados e, por conseguinte, permanecerão escritos no livro da vida. O verbo “riscar” usado no texto de Apocalipse 3 significa, em grego, aniquilar, apagar, cancelar. Tem a ver com passar tinta ou cal a fim de apagar algo, ou com esfregar uma escrita e imprimir um selo em alguma tabuleta de cera. Essa palavra era usada para se referir ao cancelamento de obrigações e direitos.
Um modo interessante de mostrar essa verdade é analisando o que Paulo disse em 2 Timóteo 4.7: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” A NVI já traduz a palavra grega dromon como “corrida,” mas a maioria das outras versões em português traduzem como carreira. Essa ilustração de Paulo é interessante porque a vida cristã é exatamente como uma corrida. Existe o ponto de partida (conversão), o trajeto (vida cristã e santificação) e a chegada (glorificação). Alguns vão começar essa corrida e não a terminarão, ficarão no meio do caminho e tristemente terão seus nomes riscados do livro da vida.
Outro texto prova da possibilidade de ter o nome riscado é a oração intrépida de Moisés. Conforme já foi apontado mais no início do ensaio, Moisés subiu mais uma vez no monte a fim de interceder pelo pecado de idolatria do povo israelita, pois eles confeccionaram um bezerro de ouro e blasfemaram dizendo que fora este objeto feito por mãos humanas quem os livrou do Egito. A intercessão de Moisés foi: “...perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que escreveste.” E a resposta de Deus, em seguida, foi: “Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim” (Êx 32.32,33 – grifos meus).
Moisés não faria uma oração dessas se ele não acreditasse na possibilidade de um nome ser riscado do livro da vida. Outrossim, Deus não responderia essa oração afirmando que risca somente os nomes daqueles que pecam contra ele, ou seja, daqueles que vivem na prática contínua e habitual do pecado. Kistemaker alega que no Antigo Testamento, a expressão “ser apagado do livro” significava “morrer.”[6] Nessa concepção, Moisés teria dito a Deus, “perdoa o povo ou me mate.” Todavia, Stern, que é um judeu messiânico, confirma que a crença judaica no episódio de Moisés tinha a ver com a eternidade e não com a morte terrena e atesta, ainda, que os judeus acreditam que “é possível sair da graça e ter o destino eterno mudado de salvação para condenação.”[7]
Concluindo essa seção, é interessante abordar mais uma vez o relato de Lucas a respeito de quando o Messias enviou os discípulos de dois em dois em Seu treinamento prático sobre proclamação do Evangelho. Esses discípulos anunciaram as boas novas e voltaram maravilhados, pois coisas extraordinárias aconteceram. “Os demônios se submetem a nós,” disseram eles estupefatos com a autoridade que há no nome de Jesus. Mas, Jesus, ao corrigir-lhes, declarou: “alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céu” (Lc 10.20).
Seria possível um discípulo se desviar? Segundo o dicionário VINE, discípulo é um aprendiz, alguém que aprende com esforço, um seguidor, alguém que permanece nos ensinos de seu mestre e finalmente, imitador. Jesus disse aos judeus que creram em sua mensagem: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” (João 8.31). Observe que nesse texto há uma condição: “se.” Somente aquele que permanece se torna um legítimo discípulo. Em contrapartida, Jesus deixa claro com essas palavras que é possível não permanecer, i. e., deixar de perseverar.
Existem inúmeras exortações para que os crentes permaneçam e perseverem na presença do Altíssimo, bem como avisos sobre o perigo e possibilidade de apostasia (Mt 10.22; 24.12,13; 1 Co 10.12; Gl 5.4; 2 Ts 2.15; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.14; Hb 8.9; 10.39; Tg 5.19,20; 1 Pe 1.5; 2 Pe 2.20-22; 1 Jo 2.24; Ap 2.11). Seria estranho que Deus colocasse advertências contra a apostasia se isso não fosse possível acontecer. Deste modo, um discípulo que teve o nome escrito no livro da vida, ao se apostatar da fé, terá seu nome riscado.
Pedro comenta de obreiros que abandonaram o caminho reto, desviando-se dele (2 Pe 2.15). Ninguém abandona algo que não experimentou e vivenciou. E ninguém se desvia de um caminho que não estava seguindo. O Apóstolo comenta, ainda, que esses obreiros apóstatas chegaram a escapar das contaminações do mundo por meio do conhecimento de Jesus, mas permitiram ser dominados de novo por essa vida deliberadamente pecaminosa e estão piores do que estavam antes de se converterem (v. 20). Ora, somente alguém que foi regenerado é que se torna descontaminado (purificado ou santificado) do pecado. De acordo com a crítica de Pedro, o que provocou essa descontaminação (libertação) do pecado é foi conhecimento de Jesus, e João testifica isso em seu Evangelho (Jo 8.32).
Paulo atesta essa verdade (de que o regenerado escapa das contaminações do mundo) ao mostrar que quem nasce de novo é lavado, santificado e justificado (1 Co 6.11) e que Cristo “nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5). Jesus purifica sua igreja pelo lavar de água mediante a Palavra (Ef 5.26) e “se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras” (Tt 2.14). A Bíblia declara que o sangue de Cristo purifica nossa consciência de atos que levam à morte (Hb 9.14).
Deste modo, Pedro conclui: “Teria sido melhor que não tivessem conhecido o caminho da justiça, do que, depois de o terem conhecido, voltarem as costas para o santo mandamento que lhes foi transmitido” (2 Pe 2.21). Tais apóstatas, na opinião petrina, são como “o cão [que] voltou ao seu vômito” e como “a porca lavada [que] voltou a revolver-se na lama” (v. 22). 

Considerações finais
Após refletir sobre o assunto, pode-se enumerar três informações coletadas a partir da Bíblia em relação aos nomes do livro da vida:
1) Alguns não tiveram o nome escrito;
2) Alguns tiveram o nome escrito;
3) Alguns dos que tiveram o nome escrito poderão tê-lo riscado, caso não perseverem.
Partindo desses três pontos e de tudo o que foi considerado bíblica e exegeticamente neste ensaio, é possível fazer uma analogia: é como se Deus tivesse uma espécie de “cartório.” Quem nasce de novo tem seu nome registrado no livro da vida. Quem continua morto (ou seja, que não se converte) nunca terá esse nome escrito. Mas se esse que nasceu de novo se apostatar terá o nome apagado do cartório de registros.

Referências



[1] STERN, David. Comentário Judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2007, p. 900
[2] WILEY, Orton. Introdução à Teologia Cristã. Campinas: CNP, 1990, pp. 353.
[3] GOUGUES, Michel; TALBOT, Michel. Naquele tempo.... Concepções e práticas daquele tempo. São Paulo: Loyola, 2004, p. 34.
[4] BRÉAL, Michel. Essai de Sémantique. Paris: Hachete, 1924, p. 349.
[5] GOGUES; TALBOT. Op. Cit., p. 36.
[6] KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 206.
[7] STERN, David. Op. Cit., p. 921.