João 14.16-20 – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós”
Embora seja um assunto de alta complexidade, não deve deixar de ser abordado. A Trindade é uma doutrina fundamental do cristianismo e consiste não em três deuses, como sugerem algumas seitas e sim um Deus manifesto em três pessoas de mesma substância e mesma natureza. O unicismo nega a subsistência da tri-unidade Divina e defende que Jesus é Deus em sua totalidade. Em outras palavras, o Pai é a mesma pessoa que o Filho e o Espírito Santo é a mesma pessoa que o Pai. Todos são uma só pessoa e não há distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Complexo, né? Mas podemos entender melhor analisando à luz da Bíblia as três pessoas de forma distinta.
A primeira menção de Deus na Bíblia é Elohim, um substantivo no plural. Ao pé da letra, poderia ser traduzido para o português como "deuses". Todavia, quando usado em referência ao Deus verdadeiro, é acompanhado de verbos conjugados no singular, o que qualifica não se tratar de uma multiplicidade de deuses, mas, sim, de um único Deus. É como se lêssemos Gn 1.1 assim: “No princípio criou ‘deuses’ o céu e a terra...”. Elohim é empregado sempre que se descreve o poder criativo e a onipotência de Deus. Logo, está-se falando do Deus criador. A forma plural significa a plenitude de poder e representa a Santíssima Trindade.
O singular de Elohim é El ou Eloah, que também é usado nas Escrituras para se referir a Deus, ainda que com bem menos frequência. Enquanto Eloah aparece 57 vezes no Antigo Testamento, Elohim, a forma plural, aparece 2498, em referência ao Deus verdadeiro. A questão da Trindade nunca foi um problema para os apóstolos. Embora eles nunca tenham utilizado essa palavra, o seu relacionamento com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo não apresentava qualquer problema. Somente no terceiro século, quando começaram a surgir algumas idéias erradas, foi que se tornou necessário algumas definições mais específicas para esclarecer os pontos mais difíceis. Da mesma forma que a expressão “trindade” não é bíblica, expressões que indicam atributos divinos como Onipotência, Onipresença e Onisciência também não e nem por isso são questionados. Portanto, não serve de argumento. Outro argumento contrário comum à doutrina da Trindade é a de que outras civilizações pagãs tinham 3 deuses principais. Os que usam desse pensamento querem afirmar que a trindade derivou-se do paganismo. Entretanto, esses 3 deuses não subsistiam em uma só divindade, não sendo portanto, trindades e sim tríades. Também o fato dessas tríades aparecerem no paganismo não diminui em nada a doutrina cristã, uma vez que outros fatos bíblicos também são narrados em literaturas pagãs, como o dilúvio, por exemplo, citado no Gilgamesh, literatura mesopotâmica. Para não ficar somente nas minhas palavras, vamos que à Bíblia:
1. Gn 1.26,27 – “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
Repare que Ele diz “façamos”, terceira pessoa do plural: nós. À nossa imagem e semelhança não era conforme a de Deus e dos anjos, como alguns tentam defender, por isso deixei o verso 27: “Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou”.
2. Gn 11.7,8 – “Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade”
Mesma regra dos versículos acima.
3. Jo 1.1-3,14a – “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”
Apenas para mostrar que Jesus é Deus e que estava desde o princípio com o Pai.
4. Mt 3.16,17 – “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele; e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
Seria difícil de explicar do ponto de vista unicista como as três pessoas aparecem aqui de forma distinta.
5. At 5.3,4 – “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”
5. At 5.3,4 – “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”
Ora, se Ananias mentiu ao Espírito Santo, não mentindo a homens e sim a Deus, então o Espírito Santo é Deus. Quem mente, mente a uma pessoa e o Espírito Santo é uma pessoa.
6. Mt 28.19 – “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;”
A fórmula batismal é em nome dos três: Pai, Filho e Espírito Santo.
7. 2 Co 13.13 – “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.”
A bênção apostólica foi também citada nas três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Cada uma dessas pessoas divinas possui suas próprias características pessoais e se distingue claramente das outras duas pessoas (Jo 14.16,17, 26; 15.26; 16.7-15). Contudo, as três pessoas são iguais no ser, no poder e na glória: cada uma sendo chamada de Deus (Jo 6.27; Hb 1.8; At 5.3,4); cada uma possuindo todos os atributos divinos (Tg 1.17; Hb 13.8; 9.14); cada uma realizando as obras divinas (Jo 5.21; Rm 8.11) e cada uma recebendo honras divinas (Jo 5.23; 2Co 13.13). Não tenho nenhuma dificuldade em aceitar a doutrina da Trindade.
Outra referência interessante é o texto de Deuteronômio 6.4 declara que Yaveh é único. A palavra "único" no original hebraico é echad e está no construto. Se essa unidade fosse absoluta, a palavra correta seria yachid, a mesma utilizada em Gênesis 22.2. Acontece que echad é uma unidade composta, é a trinunidade de Deus. Como pode marido e mulher serem uma só carne? (Gn 2.24). A palavra "uma", nesta passagem, é echad, a mesma de Deuteronômio 6.4. O fato é que a doutrina da Trindade não foi bem esclarecida nos tempos do Antigo Testamento para não confundir o povo com os deuses das religiões politeístas das nações vizinhas de Israel; todavia, ela está implícita no Antigo Testamento. Veja os atributos divinos a seguir manifestos nas três pessoas:
Chamado de Deus: Rm 1.7 (Pai), Jo 1.1,18 (Filho), At 5.3,4 (Espírito Santo)
Chamado de Senhor: At 17.24 (Pai), At 10.36 (Filho), 2 Co 3.18 (Espírito Santo)
Chamado de Criador: Gn 1.1 (Pai), Jo 1.2,3 (Filho), Sl 104.30 (Espírito Santo)
Onipresente: 139.7-10 (Pai), Mt 28.20 (Filho), Sl 139.7(Espírito Santo)
Onisciente: Sl 139.1-5 (Pai), Ap 2.23 (Filho), 1 Co 2.10 (Espírito Santo)
Onipotente: Gn 17.1 (Pai), Jo 5.19 (Filho), Lc 1.35 (Espírito Santo)
Eterno: Sl 90.2 (Pai), Is 9.6 (Filho), Hb 9.14 (Espírito Santo)
O Santo: 1 Pe 1.16 (Pai), At 3.14 (Filho), 1 Ts 4.8 (Espírito Santo)
Doador da vida eterna: 1 Jo 5.11 (Pai), Jo 10.28 (Filho), Gl 6.8 (Espírito Santo)
Ressuscitou Jesus: At 3.26 (Pai), Jo 10.17,18 (Filho), Rm 8.11 (Espírito Santo)
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