João 4.28-30 – “Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo? Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele.”
Já ouvi muitas pessoas dizerem ter vontade de ir a África, Índia, China e outros países para fazerem missões. Por um tempo as notícias da janela 10/40 quase que viraram modismo entre os evangélicos. Não que devamos desprezar essas nações, sabemos da importância de pregar a Palavra de Deus e da missão que nos foi confiada por Cristo Jesus, nosso Senhor. Todavia, muitas das pessoas que dizem ter sede missionária acabam apenas fantasiando o que se entende por “missões” e esquecem de que elas começam por onde moramos. Esses mesmos que fantasiam continentes longínquos não pregam o Evangelho nem sequer para os vizinhos que moram ao lado. Por um bom tempo a ênfase de oração e obra missionária foi dada apenas aos países da janela 10/40 e as pessoas se esqueciam de pregar e orar pelas almas de onde vivem. Fica nessa introdução o alerta para que sejamos verdadeiros missionários, testemunhas de Cristo em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Parafraseando o Mestre, “sereis minhas testemunhas na sua cidade, no seu estado, na sua nação até as demais nações da Terra” (At 1.8b). Com o intuito de reforçar nossa tarefa evangelística, abordarei o exemplo de Cristo quando levou as Boas-Novas a uma mulher desprezada e esquecida pela sociedade. Três coisas mudaram a vida da mulher samaritana e embora as pessoas enxergassem uma “roubadora” de maridos, o Mestre enxergou uma missionária.
1. Dá-me de beber (v. 7)
Essa foi a forma que Jesus abordou a mulher samaritana. Algo que precisamos aprender no que se diz respeito a evangelismo é sobre a abordagem para com as pessoas. Muitos acabam sendo inconvenientes e perdem a oportunidade de levar a Boa Notícia ao ouvinte. Certa vez em que visitava uma festividade de outra denominação, um rapaz estava do lado de fora da igreja olhando o desenrolar do culto e era possível notar em seus olhos o desejo de adentrar ao templo. Quando percebi isso, desloquei-me até ele e o convidei para ficar do meu lado. Ele se alegrou, mas disse que não podia demorar pois sua esposa não acreditaria que ele estava na igreja. Propus então, ir com ele até sua casa, a fim de esperá-lo tomar banho e de mostrar para sua esposa que ele estava acompanhado de alguém que o conduziria ao culto. Ele se agradou da proposta e fomos juntos a sua casa que distava alguns metros da congregação. Neste tempo, outro irmão ouvindo a conversa quis acompanhar-nos e sem contestação, seguiu o mesmo trajeto. Quando lá chegamos, a senhora, esposa do convidado, surpreendeu-se com nossa visita, mas no final de tudo pediu-nos oração em favor de sua família. Acenei a cabeça positivamente e começamos a orar. Eu dizia, “Senhor, abençoe este lar. Traga a tua paz sobre essa família, sobre os filhos...” e de repente, fomos todos surpreendidos por uma oração que competia com o volume do mais alto baile funk. O rapaz que nos acompanhava expulsava todo espírito de macumbaria, de feitiçaria, amaldiçoava as imagens e anatematizava a idolatria naquela casa.
Obviamente o convidado e sua esposa esbugalharam os olhos e se escandalizaram com tais palavras. Eu tentava aumentar minha voz, mas não tinha sucesso algum (e olha que falo muito alto, hein!?). A solução foi dizer “em Nome de Jesus, Amém”. Assim, finalizamos a visita e seguimos rumo ao culto. O que quero mostrar nesse caso é a importância de termos sabedoria ao abordar alguém, até porque “o que ganha almas, sábio é” (Pv 11.30b). Repare que o primeiro ponto foi a sabedoria de Cristo para puxar conversa com aquela mulher que desencadeou a atenção dela. Havia um grande preconceito, uma imensa barreira social entre os judeus e os samaritanos. Samaria, outrora, fora capital de Israel. Foi palco de grandes acontecimentos proféticos durante o ministério de Elias e Eliseu, mas após o cativeiro assírio, eles se contaminaram com a cultura pagã e idólatra deste povo, havendo um sincretismo religioso. Acostumada com tal barreira e com a indiferença dos judeus, ela questiona a Jesus: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?” (v. 9). O Messias quebrou aqui a barreira do preconceito ao se dirigir àquela mulher pedindo-lhe um pouco de água, conseguindo assim, sua atenção. Para nossa aplicação fica o dever de não reter o Evangelho de bêbados, drogados, homossexuais ou qualquer outra pessoa que a sociedade discrimina. Somos o sal desta terra e luz do mundo, devemos ser diferentes e deixar a marca de Cristo alcançar as pessoas que nos cercam, afinal, se o sal perder o gosto para que serve, senão ser lançado ao chão e ser pisoteado pelos homens (Mt 5.13)?
Para finalizar este tópico, gostaria de contar em poucas palavras uma experiência que tivemos num evangelismo em um povoado que reside próximo de nossa cidade. Sempre ouvi dos irmãos que as pessoas desse local são fechados para o Evangelho e pude constatar que é verdade. São pessoas de dura cerviz e parece que a mensagem é como uma marreta que bate em uma rocha, mas isso não pode nos desanimar, pois a própria Palavra de Deus é um martelo que esmiúça a pedra (Jr 23.29b). Assim sendo, pela insistência é que colheremos os frutos dessa obra. Em breve compartilharei aqui neste blog alguém que entregou sua vida a Cristo neste povoado. Há algumas semanas estivemos lá e ousamos fazer algo diferente. Entramos em um bar que estava com aproximadamente umas 20 pessoas, todas elas bebendo. Pedimos a atenção delas por alguns minutos e falamos-lhes do amor de Deus. Deixamos alguns folhetos ali e em seguida alguns deles se emocionaram. O último lugar em que eles imaginavam que entraríamos era lá e isso quebrou as barreiras do preconceito, permitindo-nos levar a Boa Nova. Precisamos, como Cristo, quebrar os impedimentos e com sabedoria atrair a atenção dos ouvintes para Palavra de Deus.
2. Vai, chama o teu marido e vem cá (v. 16)
Depois de atrair a atenção da mulher samaritana e de conversarem alguns minutos, o Mestre então parte para a segunda etapa de um evangelismo eficaz: confronta a mulher de uma forma sábia sobre o seu pecado. Ele a pediu para que ela chamasse o marido e confirmou a palavra da mulher que nem os 5 homens com quem já convivera e o que estava atualmente eram maridos. A reação da mulher foi reconhecer que não era um homem qualquer que lhe falava, mas talvez um profeta. Além de atrairmos a atenção das pessoas, precisamos da autoridade divina para que a mensagem chegue onde não conseguimos chegar. O autor da epístola aos hebreus declara que a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que o gládio romano, uma pequena espada de dois gumes. Esta Palavra penetrante vai no íntimo das pessoas, num lugar onde eu e você não conseguimos chegar naturalmente (cf. Hb 4.12). Não temos a capacidade de conhecer o interior das pessoas e não precisamos tentar adivinhar a vida de ninguém. A mensagem quando entregue e proclamada pelo Espírito de Deus, alcança o perdido e faz com que esta pessoa mude de vida. Assim como Cristo, temos o desafio de levar uma mensagem pura, que jorra do trono celestial e que vai ao encontro da vida daquela pessoa e de encontro ao seu pecado.
3. Vós adorais o que não conheceis (v. 22)
Aquela mulher passou a dar atenção à mensagem de Cristo e entendeu que era pecadora. O próximo passo era mostrá-la que estava equivocada quanto à verdadeira espiritualidade e sobre o caminho da salvação. Jesus mostra que ela achava ser uma adoradora genuína, mas que na verdade não conhecia quem achava adorar. Algo estava errado na vida daquela mulher, sua adoração não tinha conexão. Era uma adoração de mão única, apenas seguia, mas não voltava a resposta de Deus. Muitas são as pessoas que pensam ser boas, piedosas e merecedoras da salvação. Pensam que pelo fato de serem adeptas de alguma religião possuem contato com o Deus Todo-Poderoso. Jesus, entretanto, mostra àquela mulher que ela pensava adorar a Deus, mas que ainda faltava ter um encontro com a verdadeira religião. A palavra religião vem do latim, religare, que significa religar. Depois da queda do homem, este ficou sem conexão com o Pai celestial e desligado da intimidade com o Divino. Para que possa ser religado a Deus, o homem precisa reconhecer que é pecador e que precisa de um conector com o Senhor.
Entendendo parcialmente a obra da religação, a mulher então comenta com o suposto profeta que também aguardava o Messias, mas não havia percebido que falava com Ele. Quando Cristo se revela, ela imediatamente é impactada por Sua glória. Por volta de meio-dia ela abandona seu cântaro e vai anunciar que o Messias havia chegado. Para que o Evangelho seja anunciado, as pessoas precisam dar atenção à mensagem celestial, compreender que são destituídas da glória de Deus e que somente através de Cristo, podem ser religadas ao Criador. Quando alguém entende isso e aceita a Cristo como único e suficiente Salvador, é regenerada, isto é, nasce de novo. Alguém que nasce de novo, larga o cântaro, larga o velho homem, abandona as velhas práticas, independente do horário. Aquela mulher nem se preocupou mais com o almoço e saiu pela cidade para anunciar a Boa Notícia. Enquanto muitos estão pregando uma mensagem agradável aos ouvidos humanos, com erudição antropocêntrica, nosso desafio é tão somente pregar e anunciar uma mensagem simples, descomplicada e sobretudo, Cristocêntrica. Lembre-se, não precisamos reinventar a roda. Cristo já nos deu o modelo do verdadeiro evangelismo. Da mesma forma que a Palavra atuou na vida daquela mulher, ela age ainda hoje. Não perca as oportunidades que o Senhor te conceder e “prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4.2).
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