At 2.41-47 – “De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos”.
Tive o prazer de participar neste último final de semana da festividade de nossa convenção em comemoração ao centenário das Assembléias de Deus no Brasil. O Pr. Nascimento levou uma mensagem de despertamento para o povo de Deus e tenho certeza de que muitos irmãos saíram de lá impactados pelo Poder divino. Sob o tema “As três eras da Igreja”, ele mostrou a verdadeira identidade da Igreja Primitiva, comparou-a com o que vivemos nos dias de hoje e alertou acerca dos desafios para o futuro. Se atualmente já enfrentamos grandes desafios, futuramente teremos preocupações ainda maiores.
Jesus afirmou que “portas do inferno não prevalecerão” contra a Igreja (Mt 16.18). Todavia, muitos têm interpretado essa passagem de forma errada, como se a Igreja é que estivesse na defensiva, protegendo-se dos ataques do maligno, enquanto na verdade, as portas do inferno é que serão saqueadas e não terão condições de prevalecer contra a Igreja. Logo após a efusão do Espírito no dia de Pentecostes, pelo menos três mil vidas se converteram a Jesus e foram batizadas. Prodígios e sinais eram feitos pelos Apóstolos. Pessoas e mais pessoas conheciam e ouviam as boas notícias. A Igreja Primitiva avançava cada vez mais até que veio a perseguição. Muitos foram presos e leis foram expedidas proibindo a pregação do Evangelho (At 4.17-20; 5.40). Parecia que as portas do inferno iriam prevalecer, mas Pedro e João responderam às autoridades: “nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido” (At 4.20). Chegaram a ser açoitados, mas isso não os impediu de continuar a propagar o Evangelho; Retiraram-se da presença do sinédrio, “regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus” (At 5.41). No ministério de Paulo, as Boas Novas chegaram a milhares de gentios. Ele percorria cerca de 3.000 Km para pregar a Palavra de Deus às nações e não ia de avião, não usava internet, televisão, não levantava ofertas nas igrejas e nem mesmo viajava em veículos confortáveis. Provavelmente percorria seus trajetos a pé ou em um animal de carga. O que movia o coração de Paulo não era a “prosperidade” que muitos hoje buscam incansavelmente, não era o reconhecimento das pessoas e nem status apostólico. O que ardia em seu peito era o desejo de ver pessoas e mais pessoas se dobrando a Jesus de Nazaré. Enquanto enfrentamos lutinhas em nossa época e ainda reclamamos, Paulo foi preso e açoitado depois de expulsar um espírito de adivinhação de uma moça. Ele poderia murmurar, blasfemar ou questionar a Deus dizendo: “Senhor, estamos fazendo a Tua Obra e permites que padeçamos desta forma?”. Entretanto, num horário em que poderiam estar dormindo, descansando o corpo que fora maltratado, ele e seu companheiro, Silas, “oravam e cantavam hinos a Deus” (At 16.25).
Embora o número de seitas cresça a cada dia, as palavras de Jesus jamais passarão: “As portas do inferno não prevalecerão” contra a Igreja. Aparentemente, a Igreja foi derrotada no passado, quando foi oficializado o cristianismo como religião oficial de Roma. O catolicismo permitiu a entrada do paganismo e as coisas pareciam ir de mal a pior. Será então que a Igreja foi vencida por alguns séculos? De forma alguma, pois a Igreja não é uma entidade política e nem religiosa, mas um corpo de pessoas que não se conformam com este século e que possuem a mente de Cristo (Rm 12.2; 1 Co 2.16). No meio daqueles sacerdotes que negociaram a Palavra de Deus havia homens que lutaram pela Verdade e não arredaram o pé. Muitos foram mortos defendendo o Evangelho e desta forma a Igreja seguia derrubando os portões do inferno. O sistema romano ameaçava de morte os que fossem de encontro aos seus dogmas, muitos foram à fogueira por isso, mas Deus levantou um homem corajoso e as portas do inferno foram arrombadas, quando em 31 de Outubro de 1517 Lutero pregou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. As portas do inferno não podem prevalecer contra a Igreja, pois sua verdadeira identidade é de vencedora. Não pode prevalecer porque ela está edificada sobre uma pedra fundamental. Essa pedra não é Pedro, como muitos dizem, não foram os reformadores, não são os líderes contemporâneos, “esta Pedra” é a Pedra angular que os construtores rejeitaram (Sl 118.22). Pedra esta que saiu de Judá. É dele que sairão os chefes que serão como “valentes que na batalha pisam aos pés os seus inimigos na lama das ruas” (Zc 10.4,5).
A Igreja é vencedora, seu DNA é composto de quatro marcas. Podemos ver essas marcas na Igreja Primitiva. Eles perseveravam em quatro fundamentos: Na doutrina dos Apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Essas são as quatro marcas de uma Igreja Vencedora.
1. Doutrina dos Apóstolos – Este é o alicerce da casa. Em Mt 7.24, Jesus compara aqueles que praticam Sua Palavra (doutrina dos Apóstolos), com um prudente construtor, o qual fez para sua casa uma base sólida, edificando-a sobre a rocha. O próprio Jesus explica que uma casa sem um bom alicerce corre o risco de ruir quando passa por uma tempestade. Por isso, para que a Igreja seja vencedora ela precisa estar com sua base nas Sagradas Escrituras. Vivemos em uma época em que a inovação é a bola da vez. O problema disso, é que alguns líderes querem reinventar a roda e acabam por edificar suas doutrinas em invencionices humanas. Doutrinas como a Teologia da Prosperidade, Confissão Positiva, Triunfalismo, Igrejas Amigáveis, Métodos para crescimento da Igreja, dentre outras, estão substituindo a verdadeira Doutrina dos Apóstolos, a Palavra de Deus. A questão não é apenas conhecer a sã doutrina, mas perseverar nela, pois os métodos humanos são tentadores; As inovações humanistas, o “evangelho” antropocêntrico, a busca pelo sucesso e o modernismo estão cegando milhares de líderes, os quais estão atribuindo a vitória de seus ministérios aos números de adeptos. A igreja em Tiatira tinha suas últimas obras mais numerosas que as primeiras. É como se essa igreja tivesse obras sociais, como asilos, clínicas para dependentes químicos, trabalhos com moradores de ruas, etc. O problema era que, embora tivessem obras plausíveis, tinham se descuidado em sua base doutrinária, permitindo que determinada profetisa ensinasse heresias no seio da Igreja (Ap 2.20). Mas havia ali alguns remanescentes fiéis que não compartilhavam desses falsos ensinos e estes foram instruídos por Jesus a perseverarem nesta postura (Ap 2.24-28). A primeira marca, portanto, de uma Igreja Vencedora é a perseverança na Doutrina dos Apóstolos, a saber, a Palavra de Deus.
2. Comunhão – Lucas disse que “todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum”, além disso, “vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um” (At 2.44,45). O Dicionário da Bíblia de Almeida define Comunhão como relacionamento que envolve propósitos e atividades comuns, uma parceria. De acordo com Strong, comunhão (Koinonia), deriva de comum (Koinos). Podemos dizer que além de estarem unidos, ajudando uns aos outros, eles tinham em comum a doutrina. Não podiam ter comunhão entre si, caso a doutrina compartilhada fosse diferente. Para que a Igreja seja vencedora, precisa comungar, isto é, compartilhar da mesma doutrina. E conforme vimos no tópico anterior, eles compartilhavam não da doutrina dos fariseus, nem dos saduceus, mas da doutrina dos Apóstolos. Como havia várias doutrinas, Paulo classificou a verdadeira doutrina como Sã doutrina, pois as demais estavam doentes, contaminadas com algum vírus herético. Paulo mesmo admoestou Timóteo a pregar a Palavra tanto a tempo quanto fora de tempo, pois viriam dias em que esta comunhão seria quebrada e alguns não mais suportando a sã doutrina, teriam comichões nos ouvidos, desejando ouvir mensagens mais agradáveis e ajuntariam para si mestres segundo seus próprios desejos, desviando os ouvidos da verdade e se voltando a fábulas (2 Tm 4.1-4). A segunda marca de uma Igreja Vencedora é então, perseverar em ter tudo em comum (Koinos), como tinha a Igreja Primitiva.
3. Partir do Pão – A terceira marca de uma Igreja Vencedora é perseverar no partir do pão, isto é, na Ceia do Senhor. A Ceia é sinal de que há comunhão com Cristo Jesus. Paulo instrui aos coríntios que antes que participassem da Ceia, eles deveriam realizar uma auto-análise, pois não podiam participar do Corpo e do Sangue de Jesus aqueles que estavam vivendo indignamente, ou seja, em pecado. Uma Igreja Vencedora é marcada pela consagração a Deus. Um veneno que está assolando a Igreja Moderna é o ativismo religioso. Muitos pensam que pelo fato de estarem trabalhando na obra de Deus são justificados, porém, ocupam-se em demasia das atividades eclesiásticas e se esquecem do Deus da Obra. Perseverar no Partir do Pão é mais do que realizar obras. É olhar para o nosso passado, entendendo que outrora éramos escravos do pecado. É olhar para o presente e regozijar em Cristo Jesus porque foi Ele quem nos libertou do domínio da morte. E é olhar para o futuro anunciando a morte do Senhor até que Ele venha (1 Co 11.26). Perseverar no partir do Pão é perseverar em obedecer a Cristo e à Sua Palavra. É perseverar a andar em santidade. É estar preparado para a volta do Senhor Jesus de forma a não sermos surpreendidos (1 Ts 5.4).
4. Oração – Por último e não menos importante, uma Igreja Vencedora traz consigo a marca da perseverança na oração. Se há dois elementos vitais na Igreja que têm sido desprezados são respectivamente, o conhecimento da Palavra do Senhor e a oração. Esta, precisa ser algo prazeroso, momento de intimidade com o Pai. Mas, sobretudo, passar pelo crivo das Escrituras, pois em uma época em que se tem dado mais crédito às experiências do que à Palavra de Deus, muitos são os casos que extrapolam a doutrina bíblica, ao ponto de pessoas afirmarem ter visto a face de Deus ou receber revelações estranhas como ungir órgãos genitais. A oração traz sim uma experiência agradável de conversar com Deus e ouvir Sua voz, mas não podemos desprezar o que Sua Palavra nos ensina sobre Seus gostos. Foi através da oração que a Igreja Primitiva angariou testemunhos vitoriosos, ao ponto de tremer o lugar onde estavam reunidos (At 4.31). Foi ainda através da oração que os veterotestamentários alcançaram vitórias sem igual. O sistema solar parou depois da oração de Josué (Js 10.12,13), a sombra retrocedeu 10 graus após a oração de Isaías pelo sinal da cura do Rei Ezequias e o que dizer da oração de Ana que, sendo estéril, Deus lhe abriu a madre e concebeu ao juiz, profeta e sacerdote Samuel? Muitos templos estão bonitos por fora, com multidões indo às reuniões, mas por dentro estão deixando a frieza entrar, esquecendo-se do poder da oração. A quarta marca, portanto, de uma Igreja Vencedora, é a perseverança em oração.
A verdadeira identidade da Igreja de Cristo é de um povo vitorioso, que persevera na Palavra do Deus Altíssimo, tendo tudo em comum, vivendo em santidade e consagração a Deus sob a prática da oração. Assim também tem sido com a Assembléia de Deus nesses 100 anos. Um povo marcado pelo pentecostes, pela perseverança na sã doutrina, um povo que tem tudo em comum, que vem em santidade aguardando a segunda vinda do nosso Senhor Jesus Cristo e que tem os joelhos marcados pela perseverança em oração. Não quero neste artigo dar a impressão de exclusivismo, há muitas denominações que trabalham seriamente para a propagação do Reino de Deus. Meu intuito é contribuir com essa meditação para que a Igreja de Cristo mostre suas marcas de vitoriosa pelo Brasil e o mundo e ao mesmo tempo comemorar os 100 anos de pentecostalismo nesta nação que tanto amo, o Brasil. Continuemos a perseverar e mostrar as marcas de uma Igreja de Cristo Universal verdadeiramente vencedora!